“Temos dois exemplos práticos para medir os riscos de uma operação lesa-pátria como essa: a Enel e a Via Mobilidade”. Serviços públicos essenciais não podem prescindir da atuação do Estado, não podem ser entregues à iniciativa privada”, disse o deputado ao HP
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) afirmou que o apagão de quase uma semana causado pela Enel, empresa da energia privatizada, revela que “serviços essenciais”, como fornecimento de energia e água, devem ser geridos pelo Estado e não por empresas privadas.
“Privatizar a Sabesp é certeza de ter a torneira seca na primeira crise. Não podemos admitir isso!”, criticou o parlamentar em entrevista à Hora do Povo.
“Temos dois exemplos práticos para medir os riscos de uma operação lesa-pátria como essa: a Enel e a Via Mobilidade”.
“Não se trata de demonizar o capital privado, mas de admitir que existem setores sensíveis, estratégicos, nos quais o Estado precisa atuar”, comentou.
Pelo menos 2 milhões de imóveis em São Paulo ficaram sem energia depois das fortes chuvas ocorridas há uma semana, na sexta-feira (3). Bairros inteiros permaneceram dias sem energia e a Enel ignorando os pedidos de socorro da população.
Essa crise trouxe para o centro do debate que “serviços públicos essenciais não podem prescindir da atuação do Estado, não podem ser entregues à iniciativa privada dessa forma, porque sempre haverá a contradição entre uma empresa que visa principalmente o lucro e o interesse público, que é prioritariamente a satisfação das necessidades da população”, avalia Orlando Silva.
“Sentimos na pele o apagão que deixou mais de 2 milhões de paulistas sem luz e a inoperância da empresa privada, porque simplesmente ela não tem pessoal para enfrentar uma crise, afinal, a prioridade dela é lucrar e dividir bônus com acionistas”
Mesmo depois do apagão, o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas continua defendendo a proposta de privatizar a Sabesp, responsável pelos serviços de água e esgoto no Estado.
Tarcísio de Freitas “parece ter compromisso com o erro”, já que “ao invés de recuar, quer acelerar a privatização da Sabesp. Até porque sabe que a população já era contra e agora é mais contra ainda”.
Orlando citou os casos da Enel e da ViaMobilidade, que gere linhas da CPTM, como exemplos de piora nos serviços após a privatização e desinvestimento, que o levam a ser contra a privatização da Sabesp.
“Sentimos na pele o apagão que deixou mais de 2 milhões de paulistas sem luz e a inoperância da empresa privada, porque simplesmente ela não tem pessoal para enfrentar uma crise, afinal, a prioridade dela é lucrar e dividir bônus com acionistas”.
“Todas as semanas vemos a agonia contínua das linhas de trem operadas pela Via Mobilidade, submetendo o povo a um verdadeiro martírio. Por que? Ganharam a concessão e querem o retorno, não querem fazer os investimentos”, disse o parlamentar.
No caso da Sabesp, Orlando lembrou que a empresa “abastece 375 municípios de São Paulo, é responsável por levar água potável para 28 milhões de pessoas e tratar o esgoto de 25 milhões” e mantém lucros e investimentos de R$ 26 bilhões, na previsão para os próximos quatro anos.
“Que empresa privada tem essa capacidade? Não existe!”.
“Todas as semanas vemos a agonia contínua das linhas de trem operadas pela Via Mobilidade, submetendo o povo a um verdadeiro martírio. Por que? Ganharam a concessão e querem o retorno, não querem fazer os investimentos”
“O que o governo do Estado quer fazer é um escândalo, porque o governo continua tendo grande participação, mas deixa de ter poder diretivo na empresa, como no modelo feito na Eletrobrás. É inacreditável! O dinheiro é nosso, a decisão é dos outros”, criticou Orlando Silva.
O deputado, que já foi ministro dos Esportes, também avalia que o governo estadual, do bolsonarista Tarcísio de Freitas, e a Prefeitura de São Paulo, de Ricardo Nunes, cometeram “erros políticos” durante o apagão.
“Nem o governo do Estado e nem a prefeitura agiram com a responsabilidade e a prontidão que o momento exigia, preferiram evasivas e jogo de empurra”.
“Ora, caíram duas mil árvores em questão de horas na cidade de São Paulo, se isso não for revelador de um problema crônico de falta de zeladoria, de problemas de manejo, o que será?”, questionou.
“E qual a ideia do prefeito? Criar uma taxa para aterrar os fios. Isso é um achincalhe com a população, que já paga caro pelo serviço. Além de tudo, é inexequível da forma que ele propôs, quase aleatória, aterra de um quarteirão, do outro não… improviso total. Foi uma sucessão de erros que custou caro ao povo”, assinalou. Ricardo Nunes e Tarcísio de Freitas “bateram tanta cabeça nessa crise, não tinham nenhuma ideia de plano de contenção, nada, que falaram de tudo e, portanto, de nada”.
PEDRO BIANCO