Durante o debate, na Band, entre candidatos a governador de São Paulo, o candidato do PMDB, Paulo Skaf, revelou: “nunca tive padrinhos”.
A novidade foi proferida em resposta a uma pergunta de Márcio França – candidato da coligação “São Paulo confia e avança” – sobre a troca de partidos por Skaf, que saiu do PSB para o PMDB de Temer – partido notório, como frisou França, pela “mala do Geddel” e por “falir o Estado do Rio de Janeiro” com a corrupção da quadrilha de Sérgio Cabral.
Considerando esses fatos, Márcio França perguntou:
“Você diria que o presidente Temer é um homem honrado? Diga para nós, o presidente Temer, que é o presidente da República do seu partido, é um homem que merece a nossa confiança?”
Ao invés de responder, Skaf disse o seguinte:
“Na realidade, essa história de padrinho já não deu certo no Brasil. Eu entrei sem padrinhos na política, eu nunca tive padrinhos. Outras histórias não fazem parte da minha.”
Portanto, poder-se-ia (!) concluir que Skaf não considera Temer um homem honrado ou que mereça confiança. No entanto, ele não explicou porque está em um partido cuja principal figura é um homem sem honradez – ou sem honra – e que não merece confiança.
O problema é, justamente, que, quanto às “outras histórias”, o candidato do PMDB não foi preciso – ou seja, faltou com a verdade.
Essas “outras histórias” – a começar pela de Temer e seu círculo de corruptos – fazem parte da sua, sim.
No dia 28 de maio de 2014, Michel Temer acertou com Marcelo Odebrecht o repasse, para Skaf, de parte de uma propina de R$ 10 milhões.
A parcela de Skaf foi, até mesmo, a maior: R$ 6 milhões.
O fato foi confirmado pelos depoimentos de Marcelo Odebrecht e mais três executivos do mesmo grupo: Cláudio Melo Filho, Hilberto Silva – o chefe do departamento de propinas da Odebrecht – e José de Carvalho Filho.
Por exemplo, relatou o “diretor de relações institucionais” (ou seja, lobista-chefe) da Odebrecht S.A., Cláudio Melo Filho:
“… participei de um jantar no palácio do Jaburu juntamente com Marcelo Odebrecht, Michel Temer e Eliseu Padilha. Michel Temer solicitou, direta e pessoalmente para Marcelo, apoio financeiro para as campanhas do PMDB no ano de 2014.
“No jantar, acredito que considerando a importância do PMDB e a condição de possuir o vice-presidente da República como presidente do referido partido político, Marcelo Odebrecht definiu que seria feito pagamento no valor de R$ 10.000.000,00.
“Do total de R$ 10 milhões prometido por Marcelo Odebrecht em atendimento ao pedido de Michel Temer, Eliseu Padilha ficou responsável por receber e alocar R$ 4.000.000,00. Compreendi que os outros R$ 6.000.000,00, por decisão de Marcelo Odebrecht, seriam alocados para o Sr. Paulo Skaf.” (cf. Depoimento de Cláudio Melo Filho, anexo pessoal, pp. 52-53, grifos nossos).
Skaf tinha, portanto, dois padrinhos: Temer e Odebrecht.
O dinheiro veio todo do “setor de operações estruturadas” da Odebrecht – ou seja, do departamento de propinas – chefiado por Hilberto Silva.
Skaf sabia perfeitamente desse acerto. Caso contrário, o que segue seria impossível:
“Os detalhes sobre esse pagamento constam, segundo o Ministério Público, dos termos de Cláudio Melo Filho, Marcelo Odebrecht, Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho, e José de Carvalho Filho. Afirma-se que os valores destinados à Paulo Skaf foram pagos parcialmente a Duda Mendonça e que, por haver saldo remanescente, Paulo Skaf teria procurado Marcelo Odebrecht para informar a dívida” (cf. STF, DJe nº 76/2017, Inquérito 4.462, relatório do ministro Luiz Edson Fachin, p. 63, 17/04/2017).
José de Carvalho Filho era o executivo que ajudava Cláudio Melo Filho no suborno de políticos, para que satisfizessem os interesses da Odebrecht, remetendo-se a Hilberto Silva para a liberação da propina pelo “setor de operações estruturadas”.
Porém, não é tudo.
Existe ainda outra menção de dinheiro recebido por Skaf da Odebrecht, nas investigações da Operação Lava Jato. Dessa vez, sob o domínio do PT.
Skaf dividiu uma propina com Antonio Palocci. Agora, ficou com a menor parte: R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais), enquanto Palocci ficou com R$ 14.000.000,00 (catorze milhões de reais) (v. STF, Pet. 6.820).
A origem do dinheiro, também, foi o departamento de propinas da Odebrecht.
O relator desse caso, ministro Luiz Edson Fachin, enviou-o para o juiz Sérgio Moro, em Curitiba.
Skaf recorreu, confessando o recebimento do dinheiro, mas com a alegação de que se tratava apenas de crime eleitoral – pois o dinheiro não foi declarado -, pedindo o envio do processo para a Justiça Eleitoral de São Paulo.
Fachin resolveu remetê-lo para a Justiça Federal em São Paulo.
Skaf recorreu outra vez – e a notória segunda turma do STF, tendo como relator Ricardo Lewandowski, decidiu a favor de Skaf, remetendo o processo para a Justiça Eleitoral.
Esse repasse da Odebrecht para Skaf, mostraram as investigações, foi a pedido de Benjamin Steinbruch, presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), “em razão de compromisso assumido com o Partido dos Trabalhadores (PT)” (cf. STF, Pet. 6.820).
Então, além de Temer e da Odebrecht, poderíamos acrescentar um terceiro padrinho de Skaf.
C.L.