Ele voltou a ameaçar com alta de juros se o governo promover investimentos no crescimento do país, abrindo fábricas, escolas, hospitais e criando empregos. O chupim quer apenas cevar os parasitas
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, volta a dar palpites em assuntos que não são da sua alçada. Voltou a pressionar o governo para fazer cortes nos serviços públicos, não fazer os investimentos que o país precisa e arrochar os salários dos servidores da União.
Ele fez essas ameaças ao Brasil nesta sexta-feira (17) durante evento “E agora, Brasil?”, realizado pelos jornais O Globo e Valor Econômico.
O serviçal dos bancos associou a revisão da meta de zerar o déficit primário em 2024, pretendido pelo presidente Lula, ao abandono do marco fiscal, sancionado pelo presidente. Pura demagogia. Qualquer estudante de economia – até de ensino à distância – sabe que o país só terá estabilidade fiscal com crescimento.
Ao invés de acelerar a queda dos juros, catapultados à lua por ele e que estão arrasando a economia do país e estrangulando a sociedade e o setor produtivo, fica palpitando sobre a área fiscal que não é de sua competência.
O defensor da agiotagem fala em corte dos gastos público, mas mantém o país com o maior juro real do mundo, provocando um gasto anual descomunal, de cerca de R$ 800 bilhões, somente com o pagamento de juros aos rentistas, ou seja, para regar meia dúzia de agiotas e parasitas que vivem pendurados nos títulos públicos.
Mais precisamente, em doze meses até agosto, a União, estados e municípios transferiram R$ 689,4 bilhões para pagamento de juros a bancos. São 113,8 bilhões, quase 20%, a mais, com as despesas de juros no mesmo período do ano passado, ou R$ 575,6 bilhões. São recursos que deixam de ser investidos em saúde, educação, obras de infraestrutura, segurança pública, entre outros bens e serviços ao cidadão. A redução dos juros propiciaria uma redução drástica desses gastos públicos.
Ao invés de fazer o seu dever de casa, ou seja, reduzir mais rapidamente a taxa de juros e parar de estrangular a economia, Campos Neto faz chantagem contra o governo e ameaça novas elevações na Selic (taxa básica de juros). Disse que o governo é responsável pela realização da política fiscal, mas que o Banco Central acompanha as expectativas futuras do mercado – como juros e inflação – para a política monetária. Claramente, uma intromissão em assuntos que não são seus.
“Se os agentes econômicos começarem a entender que o fiscal tem uma trajetória de piora bem maior, pode ser que isso, em algum momento, impacte as expectativas de inflação, de câmbio e juros futuros. E aí, sim, vai impactar a nossa função reação”, disse o presidente do BC. Ou seja, ou o governo anuncia que vai cortar os investimentos, fechar hospitais e escolas ou o humor e as expectativas dos especuladores vai mudar.
O juro real no Brasil está acima de 7%. Além de sangrar os recursos do orçamento da União, com esses encargos, não há quem arrisque investir no setor produtivo. O retorno do setor produtivo na grande maioria das vezes é menor do que 7% da agiotagem praticada pelo BC. Nesse cenário, o investidor prefere receber os 7% de juros especulando com os títulos do governo do que empreendendo.
Essa política suicida está agravando a desindustrialização do país e mantendo a economia estagnada, estando completamente em desacordo com as perspectivas de crescimento econômico anunciadas pelo presidente Lula e sua equipe.
O objetivo é dar garantia total aos banqueiros de que eles vão continuar auferindo lucros estratosféricos na compra e venda dos títulos públicos. Os parasitas só pensam em como ganhar mais e mais rápido. “Se fez o arcabouço [fiscal], lutou por ele [marco fiscal], teve um trabalho de convencimento no Legislativo e comunicação com a sociedade e no 1º sinal de desafio o abandona, haverá uma dificuldade das pessoas em estimar quais são os números futuros”, declarou Campos Neto.
Para ele, se Lula prometeu aos brasileiros investir na retomada do crescimento do país em abrir escolas, universidades, hospitais, criar empregos, melhorar salários e extinguir a fome, criando com isso uma grande expectativa, ele não precisa cumprir essas promessas porque, para Campos Neto, essa expectativa do povo não tem a menor importância. O que conta para ele é o que querem os barões da Faria Lima, de Wall Street e de outras praças financeiras.
“Se em 2024 teve um aperto e foi mudado, qual vai ser minha estimativa de 2025 e 2026? Provavelmente, vai estimar pior. O problema é que essas coisas de forma cumulativa acabam tendo efeito na expectativa macroeconômica para frente”, ameaçou o chupim. A “expectativa” do mercado é embolsar cada vez mais. O país e sua economia que se danem.
Só para se ter uma ideia do descalabro da proposta de Campos Neto, os lucros do Itaú, Bradesco, do espanhol Santander e do Banco do Brasil somaram R$ 25,1 bilhões no terceiro trimestre (julho, agosto e setembro) de 2023. São os quatro grandes bancos operando no Brasil com ações na Bolsa de Valores. O Itaú veio à frente com R$ 9 bilhões de resultado, seguido pelo Banco do Brasil com R$ 8,8 bi. O Bradesco ficou com um lucro de R$ 4,6 bi, sendo que o Santander obteve R$ 2,7 bilhões.
Enquanto isso, a indústria, até setembro, apresentou queda de -0,2% no ano e, no acumulado em 12 meses, registrou zero de crescimento. O comércio oscilou em torno do zero em 2023. Enquanto isso, a pesquisa mensal de inadimplência realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) em todo o país apurou que 66,24 milhões de brasileiros estavam inadimplentes em outubro deste ano.
Em setembro, também, o volume de serviços prestados no país caiu -0,3% frente ao mês anterior. Foi a segunda queda seguida, quando em agosto registrou um recuo de -1,3% na comparação mensal, segundo dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada nesta terça-feira (14) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Resumidamente, ou Campos Neto para de se meter onde não deve e reduz os juros reais ou o País não sai do lugar.
SÉRGIO CRUZ