Bolsonarismo fechou empresa para manter Brasil atrasado e para seguir comprando tecnologia cara dos EUA e outras potências. Retomada da estatal garantirá desenvolvimento e soberania
O governo brasileiro retomou recentemente as operações do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), empresa brasileira especializada na produção de semicondutores, que estava paralisada há três anos, desde que foi colocada em processo de liquidação pelo governo Bolsonaro.
Para os bolsonaristas, não há necessidade do Brasil desenvolver sua própria tecnologia e criar empregos no país. Como bons “vira-latas” que são, eles consideram que o país deve seguir como apêndice dos Estados Unidos e outras potências tecnológicas.
Para os bolsonaristas, não há necessidade do Brasil desenvolver sua própria tecnologia e criar empregos no país. Como bons “vira-latas” que são, eles consideram que o país deve seguir como apêndice dos Estados Unidos e outras potências tecnológicas
O mundo inteiro trabalha para adquirir essa tecnologia, considerada como a última palavra no mundo moderno, mas os entreguistas brasileiros preferem manter o Brasil como uma país atrasado, empobrecido e exportador de minérios brutos e produtos primários.
A decisão do governo Lula e da ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, de reabrir a Ceitec tem, portanto, um caráter estratégico. Para Luciana, a Ceitec é uma oportunidade para o Brasil dominar o conhecimento científico, tecnológico e produtivo que poucos países do mundo possuem em um setor estratégico.
PARA LUCIANA SANTOS, EMPRESA AJUDARÁ NA REINDUSTRIALIZAÇÃO
“Com recursos humanos altamente qualificados e sofisticada infraestrutura, a Ceitec tem capacidade para operar diferentes rotas tecnológicas, inclusive alinhadas às políticas de inovação e de reindustrialização em novas bases”, ressaltou.
O professor do Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) e do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação (PESC), ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Claudio Miceli de Farias, defendeu, em entrevista ao site Sputnik, a retomada da estatal como a busca de soberania tecnológica. Segundo ele, o país não pode ficar vulnerável em área tão sensível.
“Hoje o Ceitec é uma representação de que estamos fazendo uma busca por uma soberania tecnológica. É essencial no século XXI”, afirmou. “Ter uma indústria nacional de semicondutores, poder produzir seus próprios equipamentos eletroeletrônicos é uma questão de soberania, de não ficar na dependência de outros países em casos de eventos extremos”, acrescentou o professor.
Ele citou exemplo de situação já vividas pelo país onde a falta de chips afetou a economia brasileira. “Em 2022, dentro do contexto da paralisação das cadeias de produção da COVID-19, diversas fábricas de automóveis fecharam ou diminuíram suas produções no Brasil”, apontou o professor, citando, entre várias lacunas, a ausência de semicondutores para concluírem a montagem dos veículos.
NA COVID PAÍS SOFREU A FALTA DA CEITEC
Outro exemplo, dado por Farias, também se relaciona ao evento extremo da COVID-19, a falta de respiradores para os pacientes de UTI durante a pandemia. “Não tínhamos de quem importar e não tínhamos como produzir”, disse. “Imagine se sofremos um embargo de algum país produtor de chips, ou de algum país produtor de alguma tecnologia específica que não temos como produzir”, prossegue Farias.
A ministra Luciana Santos, uma entusiasta da retomada da fabricação de chips no Brasil, afirmou que há mercado para os produtos da empresa no Brasil e no mundo. Segundo a ministra, com essa decisão, o governo viabiliza o reingresso da Ceitec no mercado e reafirma o reconhecimento da empresa no contexto das políticas públicas para o setor de semicondutores e de componentes avançados.
“A Ceitec reúne as condições para o desenvolvimento e a fabricação de dispositivos que atendam aos desafios globais, como o da transição energética, fornecendo insumos para painéis fotovoltaicos, veículos elétricos e híbridos”, disse Luciana durante o ato de retomada da empresa. “Com recursos humanos altamente qualificados e sofisticada infraestrutura, a Ceitec tem capacidade para operar diferentes rotas tecnológicas, inclusive alinhadas às políticas de inovação e de reindustrialização em novas bases”, ressaltou.
“Com recursos humanos altamente qualificados e sofisticada infraestrutura, a Ceitec tem capacidade para operar diferentes rotas tecnológicas, inclusive alinhadas às políticas de inovação e de reindustrialização em novas bases”
Luciana ainda comentou que já estão sendo alocados recursos no Orçamento de 2024 para investimentos na fábrica. “Enquanto quiser o presidente Lula, não vai haver interrupção desta situação. Ele está muito entusiasmado, compreendendo o significado e a importância estratégica deste local”. O governo prevê alocar cerca de R$ 500 milhões para o projeto da retomada, do qual metade deste valor está na Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2024.
Depois do retrocesso bolsonarista, que provocou um colapso na cadeia de produção brasileira, a retomada do Ceitec pode provocar uma aceleração do crescimento industrial brasileiro, avaliam especialistas.
SEMICONDUTORES PRESENTES EM TUDO
“O Ceitec é uma empresa pública especializada na produção de chips. O que isso significa? A produção de chips envolve processos industriais extremamente complexos de micro e nanofabricação não apenas de dispositivos eletrônicos, mas de diversos tipos de materiais”, explicou Euclides Lourenço Chuma, membro sênior do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) e pesquisador no Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer.
Os semicondutores estão presentes hoje em diversos produtos, desde lavadoras e carros até celulares e maquinário industrial. A existência de uma fábrica nacional de microchips vai ter efeitos de encadeamento em toda a indústria nacional, afirma Chuma. “Sem contar que esse mercado impulsiona outros mercados, principalmente o de serviços como telecomunicações, que possuem cifras bilionárias, além de diversos outros dispositivos eletrônicos como computadores. Todos eles precisam de semicondutores para ter esse crescimento”, acrescentou o professor.
“Os semicondutores estão presentes hoje em diversos produtos, desde lavadoras e carros até celulares e maquinário industrial. A existência de uma fábrica nacional de microchips vai ter efeitos de encadeamento em toda a indústria nacional”
“Sem contar que esse mercado impulsiona outros mercados, principalmente o de serviços como telecomunicações, que possuem cifras bilionárias, além de diversos outros dispositivos eletrônicos como computadores. Todos eles precisam de semicondutores para ter esse crescimento”, afirmou Chuma. “É importante destacar que existem diversos tipos de semicondutores, diferenciados principalmente pelo seu tamanho. Empresas dos Estados Unidos estão na vanguarda da tecnologia, produzindo chips na escala de 2 nanômetros, mas a China, apesar de todas as sanções norte-americanas, está logo atrás”, explicou.
“Isso não quer dizer, no entanto, que é preciso chegar a esses tamanhos menores para utilizar os chips em produtos e aplicações industriais”, afirmou o especialista “Existem muitos microchips para aplicações fechadas, onde a programação vai diretamente dentro do chip”, explicou Chuma. “Esse tipo é largamente utilizado na indústria, inclusive como forma de proteger a propriedade intelectual.
Quando se fala na produção de chips, existe uma série de outros produtos, como sensores, que utilizam tecnologias que o Ceitec é capaz de produzir, então é realmente relevante a retomada da empresa na fabricação de produtos eletrônicos no cenário nacional”, destacou.
MÃO DE OBRA QUALIFICADA
Neste primeiro momento está prevista a contratação de 50 novos funcionários, e, conforme as coisas forem andando, o Ceitec pode ser capaz de absorver uma parte da mão de obra qualificada que se forma no país. “Tudo isso é muito positivo porque esses profissionais que trabalham na indústria de semicondutores são altamente qualificados e inclusive geram empregos qualificados em toda a cadeia produtiva, então é de fundamental importância o Ceitec nesse contexto”, disse Chuma.
Outro ponto fundamental, destacaram os analistas, é que a existência do Ceitec reabre caminhos para cooperações e trocas de conhecimento e de tecnologia com outros países. Em abril, por exemplo, Brasil e China assinaram um acordo de cooperação em 15 áreas tecnológicas diferentes, entre elas a de semicondutores. “Dentro do BRICS essa troca de tecnologia, de conhecimento, […] [esse] intercâmbio de pesquisadores, […] de tecnologias é extremamente importante”, afirmou o professor Claudio Miceli de Farias, da UFRJ.