
ONU pede que “diálogo que levou ao acordo continue, resultando em um cessar-fogo humanitário completo, para o benefício do povo de Gaza, Israel e de toda a região.”
No primeiro dia da prorrogação da trégua, terça-feira (28), foi libertado o mais jovem palestino preso – a descrição é de seu pai -, Ahmed Saleimi, de 14 anos, que retornou à sua casa em Jerusalém Oriental ocupada, assim como outros 29 palestinos encarcerados por Israel, em troca de 10 cativos israelenses – 9 mulheres e uma adolescente – e dois tailandeses.
Nas ruas de Ramallah e outras cidades palestinas, novas comemorações pela chegada de suas crianças.
Aos 13 anos, Saleimi havia sido condenado à prisão domiciliar, acusado de lançar pedras junto com os primos; quando completou 14 anos, os israelenses o haviam levado para um presídio, onde passou os últimos quatro meses.
Ele foi recebido com abraços apertados por seus pais e pelos parentes mais próximos. Na descrição da Al Jazeera, Saleimi estava com “aparência magra e cansada”.
“Ouvimos mulheres que foram agredidas. Também fomos espancados”, disse Saleimi, em entrevista coletiva em sua casa.
“Recebíamos apenas duas refeições por dia, muitas vezes passávamos fome”, ele acrescentou. O pai de Saleimi disse que o filho perdeu quase 10 quilos enquanto estava na prisão.
“Estou muito feliz em vê-lo. É a primeira vez que conseguimos falar com ele em 50 dias”, disse a mãe de Saleimi. “As autoridades israelenses revistaram nossa casa seis vezes hoje. Eles nos alertaram para não realizarmos nenhuma celebração”, acrescentou.
“Eles me disseram que não há comemorações e, no dia da minha libertação, não posso sair de casa, levantar cartazes ou faixas, usar um megafone”, acrescentou Ahmed. “E se eu quebrar qualquer uma dessas regras, serei levado de volta.”
“Estamos muito felizes, mas nossa felicidade é incompleta porque lamentamos aqueles que estão mortos, aqueles que estão feridos e aqueles que estão desaparecidos”, acrescentou, referindo-se aos compatriotas em Gaza.
O portal libanês Al Mayadeen mostrou alguns vídeos de outros jovens e crianças palestinos recém-libertados dos cárceres de Israel sendo abraçados por seus familiares: Hamza Maghribi, Qassam Atoun e Mervat Hsheimeh.
Fotos desde Gaza mostraram um combatente do Hamas empurrando uma idosa em uma cadeira de rodas. Outra mostrou combatentes do Hamas caminhando ao lado de uma jovem segurando um cachorro, que foi identificada como Mia Leimberg, de 17 anos, pela mídia israelense.
Segundo a mídia, Netanyahu está sob extrema pressão das famílias de cativos israelenses e israelenses comuns para continuar a trégua, a fim de libertar mais prisioneiros.
A prorrogação foi alcançada graças à intermediação do Qatar. Nos quatro dias iniciais de trégua, 150 mulheres e crianças palestinas foram trocadas por 50 cativos israelenses, além de 19 estrangeiros. A prorrogação abrange mais 24 horas na quarta-feira.
CRESCE O ISOLAMENTO DE NETANYAHU
Nos últimos dias, tem se intensificado o isolamento de Israel, particularmente em relação aos europeus, a ponto de o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, ter advertido, na cúpula da União do Mediterrâneo, que “não haverá paz ou segurança para Israel sem um Estado Palestino”.
Ele se disse, também, “horrorizado” ao saber que Israel quer comprometer “novos fundos para construir mais assentamentos ilegais”, afirmou Borrell. “Os assentamentos constituem uma grave violação do Direito Internacional Humanitário e constituem o maior problema de segurança de Israel”, ele acrescentou.
Em Israel, a mídia informou que há conversas sobre estender a trégua por mais dois dias, para um total de oito, com especulações de que ela possa ser estendida por mais dois, por um total de 10 dias.
“As autoridades israelenses especulam que a trégua pode ser estendida por mais dois dias” para que mais prisioneiros sejam libertados, “e os combates serão retomados no fim de semana”, segundo a mídia israelense.
“Há pressão do Catar para avançar com uma troca de prisioneiros abrangente e em grande escala para um cessar-fogo de longo prazo”, acrescentam os meios de comunicação israelenses.
Por sua vez, o chefe dos pogroms contra palestinos e do roubo de terra alheia na Cisjordânia ocupada e oficialmente ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, ameaçou derrubar o governo Netanyahu se a guerra em Gaza for interrompida.
POR UM CESSAR-FOGO TOTAL
Na segunda-feira, um porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que queria ver a trégua entre Israel e o Hamas se transformar em um cessar-fogo humanitário total. “A catástrofe humanitária em Gaza está piorando a cada dia”, disse Stephane Dujarric a repórteres.
“O diálogo que levou ao acordo deve continuar, resultando em um cessar-fogo humanitário completo, para o benefício do povo de Gaza, Israel e de toda a região.”
Nos EUA, o afastamento, em relação a Joe Biden, de uma parcela expressiva de jovens, que têm ido às ruas contra o genocídio perpetrado por Israel em Gaza, com apoio militar, financeiro e diplomático da Casa Branca, já ameaça, segundo insistentes alertas, a própria chance de reeleição do vetusto presidente.
Por sua vez, o Wall Street Journal afirmou que “negociadores pressionam por uma extensão da trégua Israel-Hamas”, acrescentando que um acordo “vai requerer de Israel e do Hamas concessões difíceis de engolir, tais como trocar soldados israelenses por potencialmente milhares de prisioneiros palestinos”.
CAMERON SE DESCOLA
Analistas também registraram a velocidade impressionante com que o novo ministro das Relações Exteriores britânico, o ex-premiê David Cameron, vem revertendo a política em relação a Israel e à Palestina. Durante uma recente visita à Cisjordânia ocupada, Cameron disse sobre a atual guerra em Gaza: “Não haverá segurança e estabilidade de longo prazo para Israel, a menos que haja segurança e estabilidade de longo prazo para o povo palestino”.
Em reuniões com ministros do governo israelense, Cameron chamou a respeitar o Direito Internacional Humanitário e advertiu que “o número de vítimas é muito alto e têm que ter isso no topo de suas mentes”.
DOS 150 PALESTINOS, 98 ERAM REFÉNS DE ISRAEL
De acordo com uma reportagem da CNN desta terça-feira, a maioria dos palestinos libertados pelas autoridades israelenses nos últimos dias, como parte de um acordo de troca de prisioneiros, nunca foi acusada.
Dos 150 prisioneiros palestinos libertados, 98 foram detidos sem acusação, segundo o relatório. Em suma, 98 eram simplesmente reféns do apartheid.
De acordo com o relatório, dos libertados 119 eram crianças e 31, mulheres.
Um dos mecanismos de institucionalização do apartheid de Israel contra os palestinos é cinicamente chamado de “detenção administrativa”, um procedimento que permite manter os palestinos prisioneiros indefinidamente sem acusá-los e sem levá-los a julgamento, sob razões secretas.
De acordo com o grupo israelense de direitos humanos B’Tselem, há cerca de 1.300 palestinos em “detenção administrativa”, incluindo crianças com idades entre 16 e 18 anos.
Na Cisjordânia ocupada, mais um crime de guerra da ocupação colonial israelense: uma criança palestina foi morta após ser baleada pelas tropas de Netanyahu na manhã de terça-feira. Fontes médicas de um hospital próximo disseram que Amr Ahmed Jamil Wahdan, de 14 anos, morreu devido aos ferimentos que sofreu após ser baleado no peito por balas reais na aldeia de Tayasir, a leste de Tubas.