
Flavio Werneck, diretor jurídico da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), declarou ao HP que “a perseguição, o assédio institucional aos servidores públicos, a falta de diálogo e a redução de salários, durante os seis anos dos governos anteriores de Temer e Bolsonaro, foram consequências da falta de controle e de limites, da vontade de avançar na coisa pública e da ganância pelo lucro acima de tudo”.
Segundo o líder sindical da Polícia Federal, a perseguição se concentrou nos representantes sindicais dos servidores públicos e, de forma mais violenta ainda, na Segurança Pública. “Fomos excluídos das folhas de pagamento sem qualquer equiparação com o pessoal da ativa, foram abertos procedimentos administrativos disciplinares em números absurdos contra os representantes sindicais dos servidores públicos”, denunciou.
Werneck considera que o movimento sindical precisa retomar o caminho da unidade. “Nós, servidores públicos, falo pela área da Segurança, devemos assumir, como pleito geral também nosso, a retomada dos direitos dos trabalhadores como um todo”. Assim como devemos nos unir “para que o governo cumpra a Convenção 151 da OIT, que dispõe do direito de sindicalização, de negociação coletiva, greve”. Propõe: “Vamos juntos buscar o que for possível, recuperar os direitos perdidos com a reforma trabalhista, com a reforma previdenciária, que de reforma não tiveram nada”,
Werneck lembra que prometeram mais emprego, equilíbrio das contas, promessas que foram feitas quando da aprovação dessas duas supostas reformas. “Não tivemos nem uma coisa nem outra”.
Lembrou que “na reforma previdenciária, falaram que era para o bem da prestação de contas do país. Mas o déficit financeiro continua, firme e forte. Onde tinha que se atacar, que é onde se come mais de 50% do orçamento brasileiro, que é no pagamento de juros, pagamento de valores específicos da dívida pública brasileira a bancos e financeiras, nada disso foi feito. Uma auditoria seria o mínimo para se saber o quanto a gente pagou, nós brasileiros, o quanto a gente não pagou”.
Flávio disse que “no caso da reforma trabalhista, o que foi prometido foi que geraria mais empregos, geraria mais renda e que o salário, com a concorrência, iria se valorizar por si só. E nada disso aconteceu. O que a gente observa é a precarização do trabalho e a pejotização do trabalho. Então, a pessoa emprega um CPF exigindo um CNPJ para pagar menos impostos, para ter um custo menor e a precarização por meio desses contratos, feitos por via digital”.
Na avaliação de Flávio Werneck, com a eleição de Lula, “a gente espera que essa retomada de diálogo vai fazer evoluir a melhoria do ambiente sindical”. Ele acredita “que se possa migrar inclusive para uma unidade de perspectivas e projetos”.
“O trabalhador quer a modernização necessária ao século XXI. Defendemos que sejam feitas reformas verdadeiras, inclusive, a adaptação da legislação ao que a gente tem de mais moderno hoje”, ressaltou. “Mas a gente também tem consciência de que essa adaptação não é a extinção de direitos, isso tanto no serviço público, quanto no serviço privado”.
Werneck afirmou que “especificamente quanto à Polícia Federal, nós estamos buscando essa modernização”. Mas, disse ele, “tem, ao mesmo tempo, um déficit absurdo, se comparado com outras instituições e órgãos públicos, de até 2/3 de desvalorização dos salários e dos direitos, nos últimos 20 anos”. Então, “também estamos buscando essa valorização financeira da categoria”.
“Esperamos que o governo abra diálogo com as representações sindicais para que a gente possa trazer para o Brasil o que há de melhor em investigação, o que há de melhor dentro das polícias mundo afora. Incluo o Judiciário, Ministério Público e execução penal: não apresentam eficiência e também não cumprem, do outro lado, com os direitos humanos. Você tem o etiquetamento daqueles que vão ser punidos no Brasil. São punidas as pessoas que têm menos condição [financeira]. Por outro lado, você tem uma eficiência de menos de 5% nos crimes de corrupção, de colarinho branco, de lavagem de dinheiro. Isso fica muito claro com análise de estatísticas no Brasil”, informou.
“Estamos à disposição!” Creio que a gente possa também agregar a vontade política de oferecer o que há de melhor, seja no mundo do trabalho, para os trabalhadores, para melhorar a vida de todo trabalhador brasileiro, seja com a melhoria dos serviços públicos”.
“Por exemplo: não há como conceber privatizar uma ENEL e parte de São Paulo ficar mais de um mês sem acesso à luz”, sintetizou.
SEMINÁRIO
Flavio Werneck, líder nacional sindical dos policiais federais, diretor jurídico da Federação Nacional da categoria (Federação Nacional dos Policiais Federais), vai participar da mesa 2 do seminário “A reconstrução nacional e o papel dos sindicatos”. Compõem esta mesa Carlos Müller, presidente da Confederação dos Marítimos e José Reginaldo, pela Confederação dos Trabalhadores da Indústria. Nivaldo Santana, Relações, Internacionais da CTB (Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) é o mediador. A mesa 2 está prevista para começar às 20h com o tema A Unidade Sindical, Emprego e Salário.
O seminário é uma iniciativa do Instituto Claudio Campos, em parceria com a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e apoio da Fundação Maurício Gabrois, que se realizará no dia 5 de dezembro, a partir das 18h. O Seminário poderá ser acompanhado presencialmente, na sede da CTB, à Rua Cardoso de Almeida, 1843, Perdizes (SP), ou por videoconferência. Rosanita Campos, presidente do Instituto, informou que o Seminário homenageará o dirigente comunista histórico Sérgio Rubens. Na data, fará dois anos de seu falecimento.
CARLOS PEREIRA