Queda de 2,5% na FBCF no terceiro trimestre “está mostrando que a capacidade produtiva não está se expandindo. Pior, está contraindo”, diz Juliana Trece, do Ibre/FGV
No terceiro trimestre de 2023, os investimentos recuaram -2,5% frente ao segundo trimestre deste ano, sendo o quarto trimestre consecutivo de queda no indicador de Formação Bruta de Capital Fixo (FBC), que mede a ampliação da capacidade produtiva por meio de investimentos em ativos fixos, como máquinas e equipamentos, por exemplo.
Em relação ao mesmo período do ano passado, os investimentos no país caíram -6,8%, o maior declínio por esse tipo de comparação desde o terceiro trimestre de 2020 – ano inicial da pandemia de Covid-19, em que os investimentos recuaram 8,8%.
“O quarto resultado negativo consecutivo para a Formação Bruta de Capital Fixo não é um bom sinal”, disse a economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), Juliana Trece, em reportagem do Valor Econômico. Segundo Trece, o resultado da FBC “é o mais sensível de todo o PIB. É o que eu considero o mais preocupante porque está mostrando que a capacidade produtiva não está se expandindo. Pior, está contraindo”.
No terceiro trimestre deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) desacelerou, variando apenas 0,1%, em relação ao segundo trimestre deste ano (1%), segundo divulgou o IBGE, na terça-feira (5). No primeiro trimestre o PIB cresceu 1,4%, em relação ao trimestre anterior.
“A principal razão realmente é a taxa de juros em patamar elevado”, apontou a pesquisadora do Ibre ao destacar que o recuo nos investimentos vem sendo puxado principalmente pelo segmento de máquinas. “Por mais que tenhamos iniciado um ciclo de corte, demora até isso atingir a atividade econômica e o nível ainda está muito alto, em dois dígitos”, observou Juliana Trece.
Na passagem do segundo para o terceiro trimestre, a Indústria de transformação ficou praticamente paralisada, ao variar apenas 0,1% frente ao trimestre anterior. No acumulado de janeiro a outubro deste ano, o setor acumula uma queda de -1,6% frente ao mesmo período de 2022, como destaca o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), ao também analisar o resultado do PIB.
“Há a retração do investimento em muito derivada do ambiente interno de elevadas taxas de juros”, também criticou o Iedi, ao ressaltar que os investimentos também acumulam uma queda de -2,5% no acumulado de janeiro a setembro, na comparação com o ano anterior.
“Os dados divulgados pelo IBGE mostram um PIB estagnado no 3º trimestre de 2023, mas com contribuição positiva do setor externo, sobretudo devido à exportação de bens primários, e resiliência do consumo das famílias, apoiada na melhora do emprego, na redução da inflação e em programas governamentais de transferência de renda”, avalia o Iedi.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) afirma que o “resultado do PIB do 3º trimestre confirmou o quadro esperado de desaceleração da atividade econômica brasileira ao longo da segunda metade do ano, apesar do desvio altista em relação às expectativas” do mercado financeiro, que previa um recuo de -0,2% do PIB no 3º tri/23.
Frente ao segundo trimestre deste ano, a indústria geral registrou um crescimento de 0,6%, e, no ano, acumula uma alta de 1,2% – um resultado puxado pela indústria extrativa, que cresceu 7,9% no período analisado.
“O avanço da indústria de transformação (+0,1%) no penúltimo trimestre de 2023 provavelmente não será suficiente para reverter o cenário de fraco dinamismo do setor no ano. Este quadro de fraqueza reflete, em grande medida, a postura conservadora conduzida até o momento pelo Banco Central. Dessa forma, a despeito do início no corte de juros, a política monetária ainda se encontra em terreno contracionista”, criticou a Fiesp.
O ramo da construção civil foi outra atividade que apresentou resultado negativo no terceiro trimestre de 2023, queda de 3,8% ante ao trimestre anterior.
O presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria de Construção), Renato Correia, explica que a queda no setor ocorre principalmente na parte informal da atividade, que vem sendo fortemente afetada pelos juros altos e pelo custo do material de construção.
“Grande parcela de quem trabalha com construção civil está no lado informal, inclusive construtoras menores. E quando se aplica o juro alto na economia, essa parte da atividade sofre muito”, disse Correia, ao afirmar que o aquecimento da atividade da construção civil se deu quando a taxa Selic caiu para 2%.
Hoje a taxa básica de juros do Banco Central (BC) está em 12,25% ao ano, mas obteve seu auge mais recente, de 13,75% ao ano, em agosto do ano passado, ficando fixada assim até o início de agosto deste ano.
Ontem (5), o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que o Comitê de Política Monetária (Copom do BC) seguirá cortando os juros a conta-gotas, mantendo o Brasil entre os maiores pagadores de juros reais (descontada a inflação) do mundo.
“O Banco Central tem adotado postura prudente e entendemos que seguir o ritmo de queda de 0,5 pp é adequado”, disse Campos Neto, durante um evento promovido pela Frente Parlamentar do Empreendedorismo.