“O dado concreto é que o Brasil é um país que tem muita sorte de, em algum momento da história, alguém teve a ideia de criar um banco como o BNDES”, disse o presidente no ato com o Banco dos BRICS, no Rio de Janeiro
O presidente Lula afirmou, na quarta-feira (6), no ato de assinatura de contratos de captação de recursos entre BNDES e o Banco dos BRICS, no Rio de Janeiro, que o Brasil “vai ter que aprender a negociar sem precisar do dólar como moeda padrão”. “Por que é que eu preciso negociar com a China precisando de dólar?”, questionou o presidente. “Por que é que eu preciso negociar com qualquer outro país precisando de dólar?”, acrescentou.
“Por que é que eu preciso negociar com a China precisando de dólar?”, questionou o presidente. “Por que é que eu preciso negociar com qualquer outro país precisando de dólar?”
Ele lembrou que tem que usar o dólar “só com os Estados Unidos que tem a casa da moeda do dólar”. “Então, o que nós precisamos é tentar inovar. Como? Eu não sei. Mas vocês, que estudaram muito, sabem. Para que vocês estudaram tanto? É para ensinar aqueles que não estudaram, e eu tenho uma facilidade para aprender, gente. Se me explica, eu entendo. E se eu entender, a coisa vai para frente”, afirmou Lula.
Depois de destacar a reconstrução das políticas públicas destruídas pelo governo anterior, Lula falou da importância dos bancos públicos. “O dado concreto é que o Brasil é um país que tem muita sorte de, em algum momento da história, alguém teve a ideia de criar um banco como o BNDES, criar um banco como o do Brasil, criar uma Caixa Econômica, criar um BNB, criar um Basa. Ou seja, porque esses bancos existem para fazer muitas vezes aquilo que os bancos privados não querem fazer, ou porque não consideram importante, ou porque tem alguma coisa que de fato pode dar mais rendimento para eles”, apontou.
“E muitas vezes, quando você tem um banco de desenvolvimento que começa a emprestar dinheiro, ele cria problema no chamado Mercado, que fica incomodado de você ter um banco público fazendo aquilo que eles deveriam fazer, mas que quando o BNDES não faz, eles também não fazem”, disse Lula. “E uma coisa tem que ficar clara: esse banco aqui salvou o Brasil em muitos momentos”.
“E muitas vezes, quando você tem um banco de desenvolvimento que começa a emprestar dinheiro, ele cria problema no chamado Mercado, que fica incomodado de você ter um banco público fazendo aquilo que eles deveriam fazer, mas que quando o BNDES não faz, eles também não fazem”
Ele lembrou da crise de 2008. “Se não fosse o BNDES, se não fosse o Banco do Brasil, se não fosse a Caixa Econômica Federal, o Brasil não teria escapado da crise como ele escapou, porque foi nesse banco aqui que a gente fez parte dos investimentos que o PAC precisava. E olha que a gente criou o PAC antes da crise”, destacou.
Lula falou da viagem ao Oriente Médio. “A gente levou junto o BNDES, a gente levou junto a Petrobras e o ministro Rui Costa, chefe da Casa Civil, com um pacote de projetos para que a gente pudesse discutir esses projetos com as pessoas importantes. Em três conversas que eu tive com o presidente da Arábia Saudita, a primeira coisa era dizer: “Alteza, você tem que colocar dinheiro no Banco do BRICS, porque o Banco dos BRICS precisa ser mais forte que o FMI”, contou.
O presidente combateu os que não querem aumentar os investimentos públicos com medo da dívida. “Eu acho que economia não é uma matemática exata. A gente precisa trabalhar de acordo com as necessidades, com os projetos que a gente constrói e da necessidade do povo”, argumentou. “Eu sinceramente nunca achei ruim que a pessoa tenha dívida, se a pessoa ganha o suficiente para pagar aquela dívida ou se ela constrói uma dívida para construir um ativo novo”, afirmou.
Neste sentido, Lula defendeu que se busque dinheiro para investir. “Então, companheiro Aloizio [Mercadante, presidente do BNDES], a gente não pode ficar constatando que não tem dinheiro. A gente não pode ficar constatando que o PIB não vai crescer. Nossa obrigação é arrumar dinheiro e fazer esse país crescer”, defendeu. E prosseguiu, “porque se ele não crescer, não tem emprego. Se não tiver emprego, não tem salário. Porque se não tiver salário, não tem consumo. Se não tiver salário, emprego e consumo, o país estará na bancarrota. Nós temos um histórico e não podemos deixar o país voltar atrás”, argumentou.
“Então, companheiro Aloizio, a gente não pode ficar constatando que não tem dinheiro. A gente não pode ficar constatando que o PIB não vai crescer. Nossa obrigação é arrumar dinheiro e fazer esse país crescer”
O presidente voltou a frisar que o país tem que crescer. “Nós temos uma missão, uma missão de fazer esse país voltar a crescer. E para crescer, o BNDES é uma peça importante”. “A gente vai ter que conversar com o Haddad, porque eu também não posso ficar com um trilhão e não sei quanto guardado no Tesouro e o BNDES comendo pão seco sem mortadela. Não”, afirmou.
“Vamos ter que calibrar as coisas. Porque nós precisamos convencer a sociedade brasileira e convencer nosso glorioso Mercado de que não tem nenhum problema você ter uma dívida. Aquela dívida é para construir um ativo produtivo que vai render, que vai facilitar o escoamento de produção, que vai baratear as coisas que você produz, que vai baratear, que vai melhorar o investimento em tecnologia”, destacou Lula.
“Nós não podemos repetir o que faz o sistema financeira internacional. Não podemos repetir o que faz o FMI. O FMI não empresta dinheiro para salvar, empresta uma corda para a pessoa se enforcar”, denunciou o chefe do Executivo Federal.
“Nós não podemos repetir o que faz o sistema financeira internacional. Não podemos repetir o que faz o FMI. O FMI não empresta dinheiro para salvar, empresta uma corda para a pessoa se enforcar”, denunciou
Ele falou também da espoliação do continente africano. “Como é que a gente vai resolver uma dívida de 870 bilhões de dólares que tem o continente africano?”, indagou. “Se os bancos de financiamento do mundo não derem uma colher de chá e transformarem parte dessa dívida em investimento, como é que vai ser? Um continente que era autossuficiente na produção de alimentos antes da colonização, foi colonizado, aprenderam a falar inglês, francês e hoje não consegue ser autossuficiente na comida porque são dependentes dos colonizadores”, apontou Lula.
Lula concluiu agradecendo a Dilma Rousseff pelo acordo com o BNDES e conclamou o banco brasileiro a aumentar os investimentos. “Olha, vocês que trabalham no BNDES, vocês que são formados e respeitados, se preparem. Aprendam a não dizer não. Aprendam a construir o sim, sem abrir mão de nenhuma exigência. Mas aprendam a dizer sim porque o país precisa disso. O país precisa. Sem investimento, a gente não vai a lugar nenhum. Vocês estão lembrados? A gente tinha acabado com a fome em 2014. Ficamos fora. A fome voltou. Vamos ter que acabar com ela outra vez”, afirmou Lula.