“Juro real em 8% deixa claro o quão contracionista tem sido a política monetária”, afirma o presidente da CNI
O Banco Central, através do Comitê de Política Monetária (Copom), reduziu nesta quarta-feira (13) em apenas 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros (Selic), de 12,25% para 11,75% ao ano. Assim, o juro real segue elevado no Brasil e entre os maiores do mundo, afrontando a sociedade e o governo que clamam por uma aceleração na queda do juros.
Em nota divulgada após a decisão do BC, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que “mesmo com as reduções na Selic em agosto, setembro e novembro, a taxa de juros real – que desconsidera os efeitos da inflação – está em 8% ao ano. Ou seja, 3,5 pontos percentuais acima da taxa de juros neutra, que não estimula nem desestimula a atividade econômica”.
“O cenário de controle da inflação justifica plenamente a redução da Selic em ritmo mais acelerado”, defendeu Ricardo Alban, presidente da CNI. “É preciso – e possível – mais agressividade para que ocorra uma redução mais significativa do custo financeiro suportado por empresas e consumidores”, ressaltou. De janeiro e outubro de 2023, as concessões de crédito às empresas caíram 5,6% em termos reais em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo a CNI.
Para a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o “Banco Central de Roberto Campos Neto termina o ano como começou: impondo ao país as maiores taxas de juros do planeta, atrasando a retomada do crédito, do investimento e do crescimento do país. Nada justifica que o Copom tenha demorado tanto para começar a reduzir os juros e que o faça num ritmo de conta-gotas, como foi decidido hoje”.
A lerdeza do BC em acelerar os cortes na taxa Selic se mantém mesmo com a inflação brasileira sob controle – conforme os dados mais recentes do IPCA – e com a economia desacelerando, como apontou o resultado do Produto Interno Bruto do terceiro trimestre, que ficou estagnado, variando apenas 0,1%, em comparação com o segundo trimestre (1%). No primeiro trimestre, a economia cresceu 1,4%, graças a supersafra agropecuária.
Os juros elevados derrubaram os investimentos em menos 2,5% no terceiro trimestre. Assim, a Indústria geral cresceu apenas 0,6% ancorada pelo fraco desempenho da indústria de transformação (+0,1%) e na forte perda de dinamismo do setor de Construção (-3,8%). Já o volume de serviços prestados no país obteve um crescimento de 0,6%, com o comércio (+0,3%) também demonstrando baixo avanço em suas atividades.
Para o presidente da CNI, a taxa de juros real em 8% ao ano “deixa claro o quão contracionista tem sido a política monetária brasileira e que o patamar da Selic ainda é excessivo para o quadro de inflação corrente, assim como para a perspectiva de inflação futura, prejudicando o mercado de crédito e a atividade econômica”.
Em seu comunicado, o BC comemora que “o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia antecipado pelo Copom”, admitindo que “a inflação cheia ao consumidor, conforme esperado, manteve trajetória de desinflação”.
No comunicado desta quarta-feira, praticamente repete os últimos discursos do presidente do BC, Roberto Campos Neto, de manutenção do arrocho monetário e volta a se meter onde não deve e exigir política fiscal restritiva.
“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”, diz trecho do comunicado.
Com os juros em níveis escorchantes, a transferência de recursos públicos – da saúde, da educação, da valorização do salário mínimo, da segurança pública, da moradia – para pagamento de juros a bancos alcançou R$ 720,1 bilhões (6,80% do PIB) no acumulado de 12 meses até outubro, o que corresponde a mais 146 bilhões do que o registrado no mesmo período do ano passado (R$573,2 bilhões), segundo dados do BC.