Está tudo virado. Os democratas, que resistiam na década de 1990 a que Bill Clinton fosse impichado em razão das suas travessuras no salão Oval pelos pudicos republicanos, agora asseveram que as puladas de cerca [supostas?] de Trump com uma playmate e uma atriz de cinema pornô são a razão que faltava para apertar o laço do impeachment no pescoço do presidente bilionário.
Aqueles 300 jornais ficaram em êxtase que o ex-advogado pessoal de Trump, Michael Cohen, depois que teve que se explicar sobre os furos no imposto de renda da empresa de táxi da família, haja se confessado culpado desses pecados e também de ter, sob “direção” do “candidato” – que não nomeou -, feito pagamentos para silenciar as duas mulheres “para influenciar na eleição”.
Cohen foi, durante anos, considerado o quebra-galho de Trump, o advogado responsável por dar nó em pingo d’água do bilionário. Curiosamente, agora o advogado do ex-advogado é um velho amigo da família Clinton, Lanny J. Davis, um veterano da Casa Branca de Bill durante sua defesa contra o impeachment.
Trump reagiu dizendo que Cohen mentiu para conseguir um acordo e aconselhou quem precisar de um aconselhamento legal a não procurá-lo. Já quanto a Manafort, que no mesmo dia foi considerado culpado em um caso que nada tem a ver com o Russiagate, que aconteceu mais de dois anos antes da campanha de Trump, mas que visa criar marola, Trump declarou que isso não passa de “caça às bruxas”, “não tem nada sobre a Rússia”.
Realmente, não tem nada sobre o Russiagate, mas como a Ucrânia seria interesse do Putin, então para a mídia e a CIA, está tudo interligado. É verdade que Manafort foi marqueteiro de Viktor Yanukovich, que se elegeu, e que ganhou uma grana, escondeu do fisco em paraísos fiscais – deve ser caso único em Washington – e mentiu para arrumar empréstimos. Mas se for para investigar todo mundo que se lambuzou na ex-União Soviética, nos anos dourados das privatizações, não vai sobrar um daquele alegre bonde do Bill Clinton e seu “resgate de Yeltsin”. Era Clinton que estava no governo, não era? Até anistiou, antes de deixar o poder, um amigo milionário em necessidade.
O pessoal do The Duran fez um levantamento das manchetes mais inspiradas sobre a tempestade em Washington. CNN: “Dois dramas do tribunal deixam a presidência Trump em momento de angústia”. New Yorker: “Com as condenações de Manafort e Cohen, o presidente Trump foi implicado em uma conspiração criminosa”. Washington Post: “Michael Cohen diz que trabalhou para silenciar duas mulheres ‘em coordenação’ com Trump para influenciar a eleição de 2016.” E o melhor de todos: NYT, com “Cohen, Manafort e Trump: o que vem a seguir?”.
De volta o The Duran: “Sem dúvida, vamos direto aqui. Está errado – há lições para aprender a partir de hoje: nunca mentir conscientemente para o FBI. Não mentir sobre um pedido de empréstimo bancário, nunca, nunca cometer fraude bancária. Pague seus impostos”. “Mas, precisamos de Robert Mueller para isso?”
Está valendo tudo para ver se influencia nas eleições intermediárias de novembro, com o Congresso como prêmio. Ao que parece, numa coisa o establishment e Trump não discordam: “faça grande de novo o circo americano”.
A.P.