Abalados financeiramente pelas altas taxas de juros, “muitos empresários recorrem aos processos de recuperação judicial como uma tentativa de renegociar dívidas e evitar a falência”, diz o economista Luiz Rabi
O número de pedidos de recuperação judicial por empresas bateu recorde em novembro, segundo dados da Serasa Experian. No mês foram registrados 175 pedidos, o que corresponde a uma alta de 8,0% em relação a outubro e de 196,6% frente a novembro de 2022.
As micro e pequenas empresas lideram a lista de solicitações para recuperação judicial. Foram 137 pedidos no mês. Em seguida vem as empresas de médio porte, com 33 pedidos, e as de grande porte, com 16 pedidos.
A alta demanda por recuperação judicial é mais um reflexo da elevada taxa de juros (Selic) do Banco Central (BC), que depois de ter registrado a mínima de 2% ao ano, em 2021, foi rapidamente aumentada até bater a marca de 13,75% ao ano, em agosto de 2022, permanecendo neste patamar até o início de agosto deste ano, elevando o Brasil a campeão mundial de juros reais (descontada a inflação) e fazendo com que as dívidas das empresas disparassem, além de inibir o consumo de bens e serviços no país.
O economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, destaca que, “apesar de começarmos a observar os resultados da queda da inflação e das taxas de juros, o que têm contribuído para uma melhoria na inadimplência das empresas, o cenário de recuperação judicial apresenta uma reação mais lenta”.
Ainda assim, a “melhoria na inadimplência” apontada por Luiz Rabi, segundo dados da própria Serasa, significa que no país o número de empresas inadimplentes bateu recorde: 6,64 milhões de companhias com dívidas em atraso, a maioria de pequenos negócios. A melhoria, só significa que houve uma desaceleração no aumento da inadimplência.
Em relação aos consumidores, são 71,95 milhões de brasileiros em situação de inadimplência, um crescimento de 130 mil em outubro em relação ao mês anterior.
“O constante crescimento da lista de companhias negativadas mostra que a instabilidade econômica ainda é um desafio para os empreendedores. Nesse contexto, abalados financeiramente, muitos empresários acabam recorrendo aos processos de recuperação judicial como uma tentativa de renegociar dívidas e evitar a falência”, afirma Rabi.
Até agora, a Selic foi reduzida em apenas 2%, desde que o BC iniciou o seu ciclo de cortes da taxa em agosto deste ano. Ao todo, foram realizadas quatro reuniões, em que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC reduziu a Selic em 0,50 ponto percentual, em cada.
Apesar do processo de desinflação que vivenciamos no país neste ano, a Selic encerra o ano de 2023 em 11,75%, com o Banco Central deixando claro que deve seguir cortando a taxa a conta-gotas, para que os juros reais mantenha-se elevado no país e restringindo os investimentos e o consumo no país.
“O Comitê avalia que houve um progresso desinflacionário relevante”, disse o Copom em sua última ata, divulgada a duas semanas atrás, em que afirmou que com “relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista”.
FALÊNCIAS
Já os pedidos de falência recuaram em novembro para 39 casos, queda de 36,1% na comparação com o mês passado e de 58,9% em relação a 2022. Este foi o quarto mês consecutivo de queda nos pedidos de falências.
As micro e pequenas empresas também lideram neste tipo de requerimento, com 25 solicitações, em seguida vem as grandes empresas, com 8 pedidos e as médias empresas, com 6 solicitações.