“À exceção de janeiro, no restante do ano ou houve estabilidade ou taxas muito baixas”, aponta o IBGE sobre o resultado do setor em 2023. Crescimento, só com a queda dos juros, destaca economista do Ibre
Em novembro de 2023, as vendas do comércio brasileiro praticamente ficaram paralisadas, ao variar em alta de 0,1% em relação a outubro do mesmo ano (- 0,3%), segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta quarta-feira (17).
Os juros altos no Brasil barraram um melhor desempenho das vendas do comércio no penúltimo mês de 2023, época em que ocorreu a Black Friday – evento que dá início a temporada de compras natalícias, com promoções e descontos. Com exceção ao mês de janeiro (alta de 4%), o comércio varejista brasileiro marcou taxas de crescimento sempre baixas e próximas de zero no restante dos meses do ano: fev. (-0,1%), mar. (0,7%), abr. (-0,1%), mai. (-0,6%) jun. (0,2%) jul.(0,8%) ago. ( -0,1%) set. (0,6%) out. (-0,3%) e nov. (0,1%). Assim, no ano, o setor acumula alta de 1,7%.
“O comércio tem trajetória de crescimento em 2023, mas sem avanços significativos mês a mês. O setor apresentou volatilidade muito baixa, com resultados muito próximos de zero. À exceção de janeiro, no restante do ano ou houve estabilidade ou taxas muito baixas”, analisou, em nota, o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
Com o resultado de novembro, o varejo brasileiro está 1,9% abaixo do recorde da pesquisa registrado em novembro de 2020.
Apesar de uma predominância de atividades com desempenho positivo em novembro com relação a outubro (seis dentre oito), a pesquisa do IBGE aponta que as atividades que dependem da oferta de crédito, ou seja, da queda mais acelerada nas elevadas taxas de juros, seguem abaixo do patamar observado em fevereiro de 2020, pré-pandemia: Tecidos, vestuário e calçados (-22,9%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-11,9%); Móveis e eletrodomésticos (-9%); e Equipamentos para escritório e informática (-0,9%).
A economista e pesquisadora do FGV Ibre, Georgia Veloso, alerta que o setor está longe da recuperação. “É preciso lembrar que a base de comparação é baixa”, comentou.
“O resultado no campo positivo é pouco expressivo, sinalizando que o comércio segue andando de lado, apesar de eventos como a Black Friday, que foi fundamental para o resultado. As altas expressivas, em comparação a novembro de 2022, segmentos como equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (18,6%), móveis e eletrodomésticos (4,5%), tecidos, vestuário e calçados (3%), é preciso lembrar que a base de comparação é baixa. Esses setores são altamente dependentes de crédito e a recuperação só vira com a queda de juros”, afirmou Georgia, em entrevista ao Globo.
Com a taxa de juros do Banco Central (BC) em 11,75% ao ano, travando o consumo e o crédito, mas elevando o serviço das dívidas das famílias, o ano de 2023 encerrou com uma taxa de endividamento de 77,8% da população e com a inadimplência atingindo 29,5% dos brasileiros, o maior contingente desde 2010, quando o número era de 24,9%, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
A CNC destaca que, em 2023, o cartão de crédito seguiu sendo o principal vilão das dívidas dos brasileiros. Entre as diferentes formas de contratação de crédito, o cartão de crédito representou 87,2% das dívidas contraídas, em seguida vêm os carnês (16,4%), seguidos pelo crédito pessoal (9,4%), financiamentos de carro (8,2%) e financiamentos de casa (8%).
No entanto, a entidade destaca que, enquanto a taxa Selic do Banco Central (BC) segue acima dos dois dígitos, “o desempenho do setor de comércio perdeu tração” no ano de 2023.
“A dependência do consumo das famílias em relação ao crédito é tamanha que é praticamente inelástica à variação dos juros das operações, porque desde janeiro de 2022 o juro médio às famílias brasileiras vem aumentando, mas, aparentemente, sem impactar o faturamento do setor de comércio”, observou a CNC, que considera que, “ao passo que os juros entraram em trajetória decrescente, o faturamento do setor de comércio e serviços voltou a crescer”.
VAREJO AMPLIADO
Na modalidade varejo ampliado, que inclui as vendas de veículos e motos, partes e peças, material de construção e atacarejo, o volume de vendas subiu 1,3% em novembro frente a outubro (-0,3%). De janeiro a novembro de 2023, este grupo acumula uma alta de 2,6% em suas vendas.
Em novembro, as vendas de Veículos e motos, partes e peças, ficaram 4,0% em alta, após registrar um avanço de 0,4% em outubro. Já as de Material de construção desaceleraram, passando de um avanço de 2% em outubro para um alta de 0,4% no mês de novembro.
O IBGE destaca que “Material de construção apresentou crescimento de 1,1% no volume de vendas frente a novembro de 2022 … Com isso, as perdas no acumulado do ano diminuíram: -2,1% até outubro contra -1,8% até novembro. No acumulado dos últimos doze meses, o resultado é negativo há 21 meses, sendo -2,3% até novembro”.