Entre 2017 e 2022, a concentração de renda alcançou recorde histórico, segundo estudo da FGV. Proporção do bolo apropriada pelo 1% mais rico da sociedade brasileira cresceu de 20,4% para 23,7%.
Em nota técnica, publicada no Observatório de Política Fiscal da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), na última terça-feira (16), o economista Sérgio Gobetti afirma que, entre 2017 e 2022, a renda dos muito ricos do país (0,01% da população em idade adulta) cresceu ao um ritmo duas a três vezes maior do que a média registrada por 95% dos brasileiros.
“Ao que tudo indica, a confirmar-se por estudos complementares, elevou o nível de concentração de renda no topo da pirâmide para um novo recorde histórico, depois de uma década de relativa estabilidade da desigualdade”, afirmou Gobetti, na nota técnica referente ao estudo sobre a concentração de renda no país. A análise tem como base dados da Receita Federal relativos às declarações do imposto de renda das pessoas físicas (IRPF) e das contas nacionais do IBGE.
Quando observado a renda média em 2017 e 2022 das quatro classes que compõem a pirâmide social brasileira (0,1% mais rico, o 1% mais rico, os 5% mais ricos e os 95% restantes da população adulta (com 18 anos ou mais de idade), verificou-se que, “além dos mais ricos terem, em média, maior crescimento de renda do que a base da pirâmide, a performance é tanto maior quanto maior é o nível de riqueza”, disse Gobetti.
“Ou seja, enquanto a maioria da população adulta teve um crescimento nominal médio de 33% em sua renda no período de cinco anos, marcado pela pandemia, a variação registrada pelos mais ricos foi de 51%, 67% e 87% nos estratos mais seletos. Entre os 15 mil milionários que compõe o 0,01% mais rico, o crescimento foi ainda maior: 96% (vide tabela 2 adiante)”, constatou o economista.
“Como resultado disso”, seguiu Gobetti, “a proporção do bolo apropriada pelos 1% mais rico da sociedade brasileira cresceu de 20,4% para 23,7% entre 2017 e 2022, mas mais de quatro quintos dessa concentração adicional de renda foi absorvida pelo milésimo mais rico, constituído por 153 mil adultos com renda média mensal de R$ 441 mil em 2022”, completou.
Sérgio Gobetti afirmou, também, que “a melhor performance da renda dos mais ricos se explica sobretudo pelo aumento de lucros e dividendos distribuídos, hoje isentos de tributação, e por um segundo componente que pouca atenção tem despertado nas análises: a renda da atividade rural, cuja maior parcela também está isenta de tributação”, disse o economista.
Em 2022, segundo o pesquisador, dos R$ 147 bilhões de renda proveniente da atividade rural, mais de dois terços, ou R$ 101 bilhões, foram isentos de tributação. “Nada menos do que 42% desse montante foi parar no bolso do milésimo mais rico da população. Índice de concentração muito parecido ao registrado por lucros e dividendos (44%)”, destacou Gobetti.
Segundo Gobetti, ainda, as novas revelações pelos dados do IRPF alertam sobre o processo de reconcentração de renda no Brasil e o que está contribuindo para isso. “Em resumo, ainda é cedo para avaliar se o aumento da concentração de renda no topo é fenômeno estrutural ou conjuntural, mas as evidências reunidas reforçam a necessidade de revisão das isenções tributárias atualmente concedidas pela legislação e que beneficiam especialmente os mais ricos”, concluiu a nota.