A União Europeia (UE) fez alarde do fim das fatias de empréstimos da Troika à Grécia como o fim da crise da dívida grega, mas como advertiu o ex-ministro grego, Yanis Varoufakis, está sendo exigido da Grécia “uma meta de superávit primário de 3,5% da renda nacional até 2022 e de 2,2% de 2023 até 2060”.
Em suma, a Troika diz que se foi mas o arrocho continua até 2060, em um país em que o PIB foi reduzido em 25% em oito anos, tem o maior desemprego da Europa e brutal perda de salários e de aposentadorias. Dá pra imaginar a dimensão dos cortes exigidos para garantir, ano após ano, tamanhas sobras, tudo a ser depositado no altar sagrado do pagamento da dívida e da salvação dos bancos, como exige o governo alemão, que comanda e mais usufrui do bloco.
Ex-ministro da Economia, que se rebelou contra o governo de traição de Tsipras, optando pela renúncia à sua pasta, Varoufakis denunciou ainda que “o Estado grego recebeu a oferta de fáceis devoluções até 2033 em troca de continuada e dura ‘austeridade’ até o infinito”.
O arrocho, ao invés de ser aliviado, como celebrou a mídia a serviço do sistema predominante, vai servir, portanto, apenas para, como aponta Varoufakis, “impossíveis pagamentos de em torno de 60% das receitas de impostos durante o longo período de 2023 a 2060”.
Na verdade, prossegue Varoufakis, “qualquer abordagem objetiva do acordo entre o Eurogrupo sobre a dívida pública grega concluiria que este condena a Grécia a uma servidão da dívida”.
É que, já antevendo o sufoco que esse torniquete vai significar para a combalida economia grega, o pacote prevê uma possibilidade de que a relação divida/PIB salte dos atuais 178% para 230% quando chegar o ano de 2060 “se a recessão global colocar as superambiciosas metas de crescimento, fora de alcance, como seguramente acontecerá, diante da próxima recessão global que se desenha”, acrescentou.
A forma acertada para que a dívida contraída e acordada pelo governo grego de submissão (e traição por haver prometido resistir ao cerco dos bancos antes das eleições para fazer exatamente o contrário depois de eleito), para além do arrocho imposto, é não menos humilhante e arrasador da soberania grega: a partir do acordo, a Grécia concorda em ser submetida, por 42 anos, a uma “supervisão enfática” da Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI). Isso significa, por espantoso exemplo, a condição dos feitores dos bancos de vetarem leis gregas que considerem incompatíveis com o pagamento da dívida.
Em reportagem do portal EU Observer, vemos o comissário para Assuntos Econômicos da UE, Pierre Moscovici declarar – do alto da sua arrogância – que agora “a Grécia volta a ser um país normal” para, logo a seguir, mostrar o chicote de forma que não tem nada de velada: “Compromissos assumidos precisam ser respeitados – é isso que nos importa”. Artigo deste portal expôs em uma frase a verdadeira situação criada pela Troika: “Morre a democracia no país que a criou”.
NATHANIEL BRAIA