O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, afirmou que o “alarmante número de vítimas civis” dos bombardeios de Israel contra a Faixa de Gaza, com a morte de mais de 25 mil palestinos, e o “cerceamento de acesso a serviços básicos” justificam o apoio do Brasil à denúncia da África do Sul contra Israel por genocídio.
O ministro rebateu as críticas contra a posição brasileira.
“Tentar caracterizar a ação movida pela África do Sul como manifestação de antissemitismo é forma desafortunada de tentar mudar de assunto. No limite, é também forma desafortunada de questionar a legitimidade de importante democracia multirracial do Sul Global, marcada por emblemática história de luta contra a discriminação racial, de acionar a CIJ para resguardar os direitos mais fundamentais da humanidade”, diz ministro em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo.
O caso já está sendo julgado pela Corte Internacional de Justiça (CIJ).
“Organizações internacionais, peritos independentes e agências humanitárias competentes têm ressaltado, com veemência inédita, a possibilidade de graves violações ao direito internacional em Gaza, inclusive à Convenção de Genocídio. De fato, há alarmante número de vítimas civis em reduzido intervalo de tempo”, destacou.
No domingo (21), o Ministério da Saúde de Gaza confirmou que o número de palestinos mortos por Israel chegou a 25.105. Cerca de 70% das vítimas eram crianças e mulheres.
“Há ainda graves relatos de cerceamento de acesso a serviços básicos e obstáculos à prestação de assistência humanitária, em cenário de ampla destruição da infraestrutura civil de Gaza”, continuou o chanceler.
De acordo com a Agência da ONU na Palestina (UNRWA), 85% da população da Faixa de Gaza teve que deixar suas casas. Um relatório da organização indica a “piora nas condições de vida, escassez de água potável e saneamento e higiene inadequados” no território.
Segundo Mauro Vieira, a trégua exigida pela ação da África do Sul pode “fomentar necessário alívio humanitário e desejável ambiente de diálogo político que permita a retomada de negociações para a solução de dois Estados, convivendo lado a lado, em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”.
“Como o Brasil, pelo menos 65 países expressaram apoio político à petição sul-africana, tendo 2 deles, Jordânia e Bangladesh, formalizado intenção de intervir, como terceira parte, no caso”, acentuou
Mauro Vieira rejeitou as críticas de alguns setores contrários à posição do Brasil em favor da África do Sul. Ele destacou que, “para além de coerência e consistência em sua política externa, o prestígio e o reconhecimento do Brasil perante a comunidade internacional pressupõem coragem e altivez para se posicionar a respeito de indícios de graves violações dos direitos fundamentais de um povo”.