“Estados Unidos, União Europeia e China estão investindo muito na reindustrialização, e na casa dos trilhões”, acrescenta o presidente do banco de fomento brasileiro
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, afirmou neste domingo (28), em entrevista ao Estadão, que parte das críticas aos estímulos anunciados à indústria naval brasileira são de um “neoliberalismo anacrônico”, que não teria acompanhado a mudança da economia global.
REINDUSTRIALIZAÇÃO DO BRASIL
Para o dirigente do banco de fomento brasileiro, essas críticas, além de desatualizadas, são prejudiciais ao desenvolvimento do Brasil. Ele lembrou que “Estados Unidos, União Europeia e China estão investindo muito na reindustrialização, e na casa dos trilhões”. “É preciso “ver o que o mundo está fazendo de melhor”, destacou Mercadante, lembrando que está propondo redução do spread dos investimentos.
O presidente do BNDES lembra que a Organização Marítima Internacional “passará a multar navios movidos a combustíveis fósseis a partir de 2030, tornando imperativa a renovação da frota”. “Há uma disputa na reorganização das cadeias de valores. Precisamos ter a ambição de disputá-la. Como temos matriz energética limpa e temos uma grande liderança em etanol, biocombustíveis, o Brasil pode sair na frente”, acrescentou.
“Temos um cenário desafiador e totalmente novo, porque a produção de motores com energia renovável é uma pauta nova. Precisamos ter a ambição de disputar o mercado, e vai ser fundamental ter uma frota com combustível renovável”, afirmou Mercadante, que coordenou o programa de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2023. Nas contas do dirigente, a soja brasileira, por exemplo, pode ficar de 15% a 30% mais cara para exportação, perdendo competividade no exterior, se as embarcações forem sobretaxadas.
A SUZANO E O DESCONHECIMENTO DA HISTÓRIA
Na sexta-feira (27), em entrevista à jornalista Bela Megale, Mercadante respondeu também às críticas do CEO da Suzano, Walter Schalka, que afirmou que a indústria brasileira não precisaria de apoio do Estado. “É desconhecimento completo da história da empresa com BNDES”, disse Mercadante. O dirigente do BNDES, adendou que o banco deveria ser o “convidado especial” para a celebração do aniversário de 100 anos da Suzano, recém-completados.
“A Suzano foi a primeira empresa privada a receber recursos do BNDES, décadas atrás. O banco teve papel fundamental nisso, porque o setor privado não queria correr risco de trazer o segmento de papéis e celulose para o Brasil”, apontou Mercadante, destacando que a Suzano é a quinta empresa brasileira que mais recebeu crédito na história do banco.
O montante total recebido pela Suzano foi de R$ 15,273 bilhões, em valores não corrigidos pela inflação. Segundo Mercadante, desses R$ 15 bilhões, parte significativa foi repassada como subsídio, como recursos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) – cerca de R$ 609 milhões – e Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) – no montante de R$ 4,174 bilhões.
“A Suzano é a quinta empresa brasileira que mais recebeu crédito e recursos subsidiados na história do BNDES. Perde apenas para Petrobrás, Eletrobrás, Vale e para o Estado de São Paulo, sendo as três primeiras quando eram empresas públicas e o Estado paulista por ser o mais rico do país”, diz Mercadante.
BNDES FOI FUNDAMENTAL PARA A INDÚSTRIA BRASILEIRA
Além de crédito, o BNDES aportou R$ 12,144 bilhões em capital na Suzano e em empresas adquiridas pelo grupo, segundo dados do banco. Esse valor está atualizado pelo CDI. “O BNDES foi sócio dos acionistas e da Suzano e de empresas adquiridas pelo grupo. Essa sociedade terminou bem em 2021. O BNDES ganhou dinheiro. Tivemos uma boa taxa de retorno, como acontece, em geral, nos investimentos que fazemos em ações”, prosseguiu Mercadante.
O presidente do banco público disse ainda que, “hoje, a Suzano tem, junto ao banco de fomento, um saldo devedor de R$ 4,2 bilhões referentes a operações aprovadas recentemente, além de pedidos em análise no valor de R$ 2,6 bilhões para serem contratados”.
“Os projetos com a Suzano são meritórios e qualificados. Os servidores do BNDES têm muito respeito por essa parceria e trajetória e pela contribuição que o banco teve para o grupo chegar onde está. A parceria é tão forte que um servidor do BNDES que está licenciado foi autorizado pelo banco a trabalhar na diretoria da Suzano. E ele pode atestar a verdadeira história da Suzano com o BNDES e o papel do banco para impulsionar o setor”, completou Mercadante.