Vereador e filho “02” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é um dos alvos de nova operação da Polícia Federal deflagrada nesta segunda-feira (29)
A Polícia Federal (PF) apreendeu, nesta segunda-feira (29), um computador que pertence à Abin (Agência Brasileira de Inteligência) em um dos endereços ligados ao vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho “02” do ex-chefe do Executivo, informa a GloboNews.
O filho do ex-presidente foi alvo de operação na manhã desta segunda-feira, que teve como foco possíveis envolvidos no recebimento de informações obtidas ilegalmente pela Abin. Numa arapongagem paralela engendrada por Bolsonaro.
Mandados de busca e apreensão foram autorizados para a residência de Carlos Bolsonaro e para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro. A suspeita da PF é de que Carlos Bolsonaro, vulgo Carluxo, teria recebido “materiais” obtidos ilegalmente pela Abin, de acordo com o blog da jornalista Camila Bomfim no g1.
Assessores do parlamentar também são alvos da ação da operação policial.
O First Mile, instrumento israelense de espionagem adquirido pela Abin, tinha capacidade de monitorar até 10 mil pessoas por ano, sem autorização judicial.
“NÚCLEO POLÍTICO” DO EX-DIRETOR DA ABIN
As buscas e apreensões desta segunda-feira miram aliados do “núcleo político” do ex-diretor da Abin e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). O parlamentar dirigiu a Abin durante o governo Jair Bolsonaro e foi alvo da PF na semana passada.
Nas redes sociais, Fabio Wajngarten, assessor e advogado de Bolsonaro, negou que computador “de quem quer que seja” tenha sido encontrado na residência ou no gabinete do vereador.
OS FATOS
Na manhã desta segunda-feira, a PF deflagrou operação para apurar ações do esquema na Abin, que monitorava ilegalmente autoridades públicas e outras pessoas.
Carlos Bolsonaro é um dos alvos da ação da polícia.
No total, são cumpridos 9 mandados de busca e apreensão: 5 no RJ, 1 em Brasília, 1 em Formosa (GO) e 1 em Salvador. Um dos endereços também é a casa de Angra dos Reis (RJ), onde Carlos Bolsonaro passou a noite, segundo informações da imprensa.
INFORMAÇÕES PRODUZIDAS PELA ABIN
“Nesta nova etapa, a Polícia Federal busca avançar [sobre] o núcleo político, identificando os principais destinatários e beneficiários das informações produzidas ilegalmente no âmbito da Abin, por meio de ações clandestinas”, informou a PF.
“Nessas ações eram utilizadas técnicas de investigação próprias das polícias judiciárias, sem, contudo, qualquer controle judicial ou do Ministério Público”, acrescentou.
Os investigados podem responder pelos seguintes crimes:
• invasão de dispositivo informático alheio;
• organização criminosa; e
• interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.
INVESTIGAÇÃO DA PF
Na última quinta-feira (25), a PF deflagrou a Operação Vigilância Aproximada, que é desdobramento da Operação Última Milha, de outubro do ano passado. O deputado Alexandre Ramagem foi alvo de busca e apreensão.
Segundo a investigação, o parlamentar usou a estrutura do órgão para fazer espionagens ilegais que favoreceriam a família de Bolsonaro.
Conforme a PF, a Abin teria monitorado ilegalmente os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (PSDB-RJ), a ex-deputada Joice Hasselmann (PSDB-SP) e o ex-governador Camilo Santana (PT), do Ceará, hoje ministro da Educação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entre outras pessoas.
A investigação aponta que ferramentas e serviços da Abin foram utilizados para monitorar ilegalmente essas autoridades.
ABIN
A Abin é o órgão de inteligência do governo federal responsável por fornecer informações e análises estratégicas à Presidência da República para contribuir na tomada de decisões.
Conforme as investigações, a organização criminosa utilizava ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis sem a devida autorização judicial.
Sob as orientações de Ramagem, 7 policiais federais cumpriam as determinações, com monitoramento de alvos e produção de relatórios apócrifos, que seriam divulgados, com o fim de criar notícias falsas e embaraços contra os alvos vigiados ilegalmente.
FALSAS RELAÇÕES
A PF encontrou, por exemplo, registros de que a Abin tentou produzir provas que relacionassem ministros do STF e deputados federais de oposição ao governo de Bolsonaro ao PCC (Primeiro Comando da Capital).
As notícias falsas ligavam essas autoridades à organização criminosa circularam em grupos bolsonaristas.
A PF também encontrou documentos que indicam que o sistema de inteligência da Abin foi usado indevidamente para monitorar promotora de Justiça do Rio de Janeiro que investigou o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol) e do motorista dela, Anderson Gomes. A promotora também atuou em investigações contra as milícias.
Os documentos sobre a promotora teriam a mesma identidade visual de relatórios apócrifos produzidos pela “estrutura paralela” que, segundo os investigadores, foi montada na Abin, sob o então diretor Alexandre Ramagem, amigo de Bolsonaro e dos filhos, hoje deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro.
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