Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MRE) lamentou a partida do diplomata e afirmou que Samuel Guimarães foi “um dos mais destacados diplomatas de sua geração”
Morreu em Brasília nesta segunda-feira (29) o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, aos 84 anos. Ele foi secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores de 9 de janeiro de 2003 até 20 de outubro de 2009. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MRE) lamentou a partida do diplomata e afirmou que Samuel Guimarães foi “um dos mais destacados diplomatas de sua geração”.
Samuel Pinheiro Guimarães Neto graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil (atual UFRJ) em 1963, ano em que ingressou no Itamaraty. Foi também mestre em economia pela Universidade de Boston (1969). Guimarães era, antes de tudo, um nacionalista que se destacou na luta incansável pela reconquista da soberania nacional e pelo pleno desenvolvimento do país.
A nota do MRE destaca que “ao longo de uma longa e profícua carreira, que incluiu a chefia do Departamento Econômico do Itamaraty e a direção do Instituto de Pesquisas em Relações Internacionais (IPRI), e também a vice-presidência da Embrafilme, sempre destacou-se pela independência e pela firmeza na defesa das suas posições em matéria de desenvolvimento e inserção internacional do Brasil”.
“Entre 1979 e 1982, é nomeado Vice-Presidente da Empresa Brasileira de Filmes (Embrafilme), cargo que deixou, durante a crise gerada pelo filme ‘Pra Frente, Brasil’, uma crítica contundente à tortura de presos políticos no Brasil. De 1982 a 1985 atuou como Conselheiro na Missão do Brasil junto às Nações Unidas, em Nova York. Regressando ao Brasil, atuou, de 1985 a 1988, como Chefe da Divisão Econômica para a América Latina. Em seguida, de 1988 a 1990, chefiou o Departamento Econômico do Itamaraty”, prossegue a mensagem do Itamaraty.
A nota dos diplomatas lembra, ainda, que “no governo Collor, por discordar da rápida abertura às importações, também preferiu se afastar, servindo cinco anos na França, onde exerceu, de 1990 a 1994, o cargo de Ministro – Conselheiro da Embaixada do Brasil em Paris. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, criticou publicamente a entrada do Brasil na Área de Livre-Comércio das Américas (Alca). Como punição por suas declarações em abril do mesmo ano (2001), foi exonerado do cargo de diretor do Instituto de Pesquisas em Relações Internacionais (IPRI) do Itamaraty, que ocupava desde 1995”.
“Como diplomata e intelectual, Samuel Pinheiro construiu uma ampla reflexão sobre o desenvolvimento e inserção internacional do Brasil. Destacou-se na formulação de políticas de integração regional, em especial do projeto do Mercosul, e na defesa da importância estratégica da relação com a Argentina”. “Foi eleito, em 2006, pela União Brasileira de Escritores, para receber o Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano, em reconhecimento pela obra “Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes” e por sua trajetória no debate público brasileiro”, diz a nota.
O Instituto da Brasilidade, do qual Samuel Guimarães era integrante, também se manifestou. “Externamos o nosso pesar pelo falecimento ocorrido na manhã de hoje (29), na capital federal, do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, aos 84 anos. Ardoroso defensor da soberania nacional, o diplomata participou, em 2019, dos Seminários da Brasilidade, onde expôs o tema ‘Organismos Multilaterais’. Em 2020, em nova contribuição ao instituto, participou da série ‘Conversas com o IB’. Nesse momento de dor, expressamos nossa solidariedade aos familiares e amigos desse colaborador de nosso Instituto, certos de que perdemos um grande brasileiro”, diz a nota da entidade.
Mensagem do presidente Lula:
“Samuel Pinheiro Guimarães foi um dos mais importantes diplomatas da sua geração, com um extenso currículo de serviços prestados ao Brasil; entre as diversas funções que exerceu, atuou como secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores entre 2003 e 2009, além de Ministro Chefe de Assuntos Estratégicos entre 2009 e 2010, e Alto-Representante Geral do Mercosul entre 2011 e 2012.
“Vice-presidente da Embrafilme na gestão Celso Amorim, amigo e parceiro de toda uma vida, foi obrigado a deixar o cargo por conta do impacto do filme “Pra Frente Brasil”, uma crítica contundente à tortura de presos políticos no país durante a ditadura militar. Ao longo da vida defendeu o desenvolvimento, a democracia e as causas populares, resistindo a diversas tentativas de interferência externa no nosso país e atuando para uma política externa ativa e altiva, na promoção dos interesses e da soberania brasileira.
“Foi autor de artigos e livros, como “Quinhentos Anos de Periferia” e “Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes” onde registrou e compartilhou suas reflexões sobre geopolítica e o lugar do Brasil nas relações internacionais. Tive o prazer e a honra de conviver e trabalhar com Samuel nos meus dois primeiros mandatos como presidente da República e depois como ex-presidente. Nesse momento de despedida meus sentimentos e solidariedade aos familiares, amigos, alunos e colegas de Samuel Pinheiro Guimarães”, pontuou Lula.