Arrendamentos não pagos foram feitos em sua maioria nos EUA. Por isso, os proprietários escolheram entrar com recuperação na Justiça americana
A empresa aérea Gol, ao entrar com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, na última quinta-feira (25), informou que acumulou dívidas de R$ 20,1 bilhões no final do ano passado, em sua maioria com credores nos EUA e com contratos de arrendamento de aviões (leasing), sendo 25 ao todo.
O diretor executivo da Companhia, Celso Ferrer, afirmou que as dívidas da empresa são consequência dos prejuízos provocados pela pandemia de Covid-19 e ao atraso da Boeing na entrega de aeronaves encomendadas, o que levou a empresa a elevar seus gastos com o arrendamento de aviões.
Segundo a direção da companhia, a entrada do pedido de recuperação utilizando o chamado “Capítulo 11”, da Lei de Falências norte-americana, de forma voluntária, tem como objetivo fortalecer sua posição financeira. Esse mecanismo é usado por empresas que passam por dificuldades, mas ambicionam se manter no mercado.
Com este processo de proteção contra falência, os controladores da Gol esperam arrecadar US$ 950 milhões em financiamento. O dispositivo do “Capítulo 11” já foi utilizado pelas companhias aéreas LATAM, United Airlines, Delta, Aeroméxico e Avianca.
“O nosso foco é desalavancar a companhia, endereçar os passivos e ter crescimento sustentável, com a renovação da frota. O objetivo é garantir que a frota seja otimizada para sustentar o crescimento daqui para frente”, disse Ferrer, ao afirmar que a GOL recebeu no dia 25 deste mês um novo avião 737 MAX da Boeing que deveria ter sido entregue em 2023.
Em 2021, as empresas aéreas Gol, Latam e Azul receberam R$ 6,5 bilhões em renúncia fiscal de um pacote de R$ 215 bilhões aprovado pelo Congresso Nacional para atenuar os impactos da Covid-19 na economia brasileira. Os dados são do Portal Transparência Brasil.
Por outro lado, mesmo após a demanda de consumidores por voos ter voltado aos níveis de antes da pandemia de Covid-19, em 2023, as passagens aéreas subiram 47,24% em relação ao ano anterior, segundo dados do IBGE.
No quarto trimestre do ano passado, a taxa de ocupação da Gol foi de 84% no período, uma alta de 3,9 pontos percentuais em comparação com o mesmo período de 2022. Já a oferta total da empresa caiu 5,7% e a demanda teve uma queda de 1,1%, na mesma base de comparação. As decolagens e o total de assentos também apresentaram retração de 4,8% e 3,7%, respectivamente.
O anúncio do início da reestruturação financeira da Gol na Justiça estadunidense se dá quase dois anos após o acordo entre a família Constantino, dona da Gol Linhas Aéreas, com os principais sócios da colombiana Avianca. Com a associação foi criada a holding Abra (Abra Group Limited), com sede no Reino Unido, que passou a controlar as duas empresas aéreas,
A Abra detém 100% do capital social da Avianca e 85% da companhia Gol. Pelo negócio firmado em maio de 2022, as ações controladas pela Abra foram transferidas para duas sociedades constituídas de acordo com as leis da Inglaterra e País de Gales, denominadas Abra Mobi LLP e Abra Kingsland LLP.
“A partir de então, a Abra Mobi LLP em conjunto com os irmãos Constantino deterão o controle de voto de 50% das ações ordinárias de emissão da GOL (“Ações ON”); e a Abra Kingsland LLP deterá o controle de voto de 50% das Ações ON. A Abra Mobi LLP será diretamente controlada pelo Mobi (irmãos Constantino) e a Abra Kingsland LLP será diretamente controlada pela Kingsland”, diz trecho do comunicado da Gol, divulgado em março de 2023.
Nesta segunda-feira (29), a Gol confirmou que a Justiça dos Estados Unidos deu acesso provisório à parcela inicial dos US$ 950 milhões do financiamento na modalidade DIP.
“A obtenção da autorização do tribunal dos Estados Unidos para acesso a novos financiamentos permitirá à Gol continuar operando normalmente, conforme prevíamos”, afirmou Celso Ferrer, diretor-presidente da empresa aérea, em nota.