“A melhor forma de equilibrar contas é com crescimento econômico, ciclo virtuoso”, reforçou Orlando em rede social
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) fez críticas à política econômica com meta de déficit zero e defendeu que o governo Lula deve “cuidar do povo”.
O parlamentar disse que é necessário investir no desenvolvimento do país e não buscar cumprir metas fiscais restritivas exigidas pelos neoliberais, sob risco de perder as eleições de 2026 para o bolsonarismo.
“A gente vai fazer o dever de casa todo bonitinho – igual os caras querem – fazer tudo bonitinho nas contas públicas e depois entregar para o Bolsonaro ou outro bolsonarista o governo do país? Uma ova”, afirmou Orlando Silva, no Encontro Nacional da Juventude Pátria Livre (JPL), realizado em Nazaré Paulista (SP), na segunda-feira (29).
O deputado federal lembrou da gestão de Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda, na Prefeitura de São Paulo. “Nós éramos os campeões mundiais da responsabilidade fiscal, fazíamos as continhas direitinho. Enchemos o caixa da prefeitura, não cuidamos do povo e perdemos a eleição”, disse.
ESTADO
O ex-ministro do Esporte apontou que o governo Lula deve “reafirmar o papel do Estado como instrumento indutor” do desenvolvimento econômico.
“O Brasil não pode prescindir de algo que o mundo não prescinde”.
“Países ricos usaram o Estado para se desenvolver e se tornar uma potência, mas agora falam para nós que não podemos usar o Estado para fazer isso e que temos que ter fé no mercado” e cumprir as “metas fiscais”, assinalou.
O parlamentar citou as críticas de figuras neoliberais ao programa Nova Indústria Brasil, que dizem ser algo ultrapassado. “Se vocês forem olhar em qualquer lugar do planeta, são os governos, os Estados nacionais que estão induzindo a retomada da industrialização. Nos Estados Unidos, na Alemanha…”, apontou.
Enquanto, no campo político, Orlando defendeu que “temos que reforçar o pólo daqueles que creem que o Brasil, pela sua dimensão, porte, economia, mercado, extensão territorial, população e riquezas, pode desenvolver um grande projeto nacional”.
“Isso vai passar pelo papel do Estado com investimento em infraestrutura, em ciência e tecnologia para que possamos criar as condições para o país caminhar para frente”, completou.
Isso não significa, na visão do deputado federal, deixar de fazer críticas ao governo Lula quando estas forem justas. “A gente tem que ajudar o governo e fazer a crítica, sem nos confundirmos com quem faz oposição. A crítica pode ajudar o desenvolvimento do governo”.
Na visão do ex-ministro do Esporte, “o projeto nacional de desenvolvimento, tal qual nós falamos, não é tarefa de 15 dias e nem de um ano. Às vezes, não é nem de uma geração. A gente vai lutar hoje para que as outras gerações possam viver e ver o desenvolvimento do nosso país”.
“Em uma nação do tamanho do Brasil, é uma tarefa de gerações construir a sua soberania plena e seu projeto que garanta direitos e democracia para todos”.
“A democracia vai ser mais ou menos valorizada em função dos resultados que nós alcançamos. A vida está melhor? A vida está pior? Isso pesa”, continuou.
Ele também indicou como um “desafio central” da atual conjuntura geopolítica a defesa de um mundo multipolar, “que nos dá instrumentos para superar o imperialismo norte-americano”.
“Ter outros pólos de poder que nos permitam acumular forças e derrotar esse império militarista, assassino e que estimula muitas das guerras que acontecem no mundo”, acrescentou.
Orlando citou a guerra de Israel contra os palestinos como parte da “estratégia política e militar” dos Estados Unidos. Os EUA vetaram, de forma unilateral, uma resolução no Conselho de Segurança da ONU que exigia um cessar-fogo.
“O Brasil tem um peso econômico e político global e pode ser parte desse movimento” para construir um mundo multipolar.
“Vai ser um desafio chave do governo Lula a afirmação de um projeto soberano de nação. Sem isso, nós não temos capacidade de ser um ator relevante na cena internacional. Para isso, temos que nos descolar da subserviência que marcou a posição brasileira no último período”, destacou.
Para Orlando Silva, “é muito importante o Brasil ter e aprofundar laços com a China e outros povos do mundo para que possamos construir, aos poucos, uma alternativa superando a hegemonia global [dos Estados Unidos] que vemos no presente”.
FISCALISMO
Em uma postagem na sua rede social, na terça-feira (30), o deputado voltou a criticar a adoção de meta de ajuste fiscal.
“Não sou da turma que despreza o zelo pelas contas públicas, mas tenho visão crítica ao déficit zero e políticas fiscalistas. A melhor forma de equilibrar contas é com crescimento econômico, ciclo virtuoso”, escreveu Orlando.
E denunciou os financistas da mídia que fizeram escândalo com o déficit do ano de 2023.
“Dito isso, é uma desonestidade intelectual sem tamanho a grita pelo déficit de 2023. Parece que, num passe de mágica, os economistas a soldo da banca esqueceram que 2022 terminou com orçamento a descoberto a partir de outubro!”, afirmou.
“Esqueceram que Bolsonaro implodiu o país atrás da malsinada reeleição. Esqueceram que fomos obrigados a aprovar a PEC da Transição para que 2022 acabasse e 2023 iniciasse”.
“Esqueceram da PEC do Calote, que vitimou idosos com precatórios a receber. Lula, acertadamente, pagou a conta, o que vai ajudar o dinheiro a circular e o país a crescer”.
“Esqueceram da tunga que Bolsonaro aplicou nos governos estaduais para diminuir artificialmente os preços da gasolina e do diesel. Alguém precisava corrigir o desequilíbrio federativo”.
“Enfim, a amnésia não é boa conselheira e nem constrói um país melhor. A honestidade intelectual e o debate verdadeiro, sim”, finalizou.