Decisão do Copom “é injustificável”, afirma Ricardo Alban, presidente da CNI. “Sem essa mudança urgente de postura, seguiremos penalizando não só a economia brasileira, mas, principalmente os brasileiros, com menos emprego e renda”
Pela quinta vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu cortar a taxa básica de juros da economia (Selic) em apenas 0,50 ponto porcentual, sinalizando que seguirá atrapalhando a economia brasileira em 2024.
Com a decisão do BC, nesta quarta-feira (31), a Selic passou de 11,75% para 11,25% ao ano. Assim, no atual cenário de inflação baixa, o BC garante os brasileiros como os maiores pagadores de juros reais do planeta.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, classificou a decisão do Copom como “injustificável”. O empresário destacou que o colegiado precisa ter a necessária compreensão da realidade brasileira e “maior agressividade” na redução dos juros “para reduzir de forma significativa o custo financeiro suportado por empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e consumidores”.
“Sem essa mudança urgente de postura, seguiremos penalizando não só a economia brasileira, mas, principalmente os brasileiros, com menos emprego e renda”, advertiu Alban, em nota, divulgada logo após a divulgação da decisão do Copom.
A CNI afirma que mesmo com os quatro cortes na Selic, realizados de agosto a dezembro de 2023, a taxa de juros real – que desconsidera os efeitos da inflação – ainda está em 7,65% ao ano, sendo 3,15 pontos percentuais acima da taxa de juros neutra, aquela que não estimula nem desestimula a atividade econômica.
“O nível absurdo da taxa de juros real tem custado muito caro para a atividade econômica do país”, disse a entidade em outro trecho da nota.
“O PIB já ficou estagnado no terceiro trimestre de 2023 e as expectativas não são positivas para o último trimestre do mesmo ano. A produção da indústria de transformação acumulou queda de 0,9% entre janeiro e novembro de 2023, na comparação com o mesmo período de 2022. O varejo alterna meses de queda com meses de crescimento modesto: as vendas caíram 0,3% em outubro e subiram apenas 0,1% em novembro de 2023. O setor de serviços, por sua vez, acumulou recuo de 2,2% entre agosto e outubro de 2023, ainda que tenha avançado 0,4% em novembro”, afirmou a CNI.
No entanto, mesmo com o conjunto dos indicadores demonstrando e previsões apontando que a inflação ao consumidor está sob controle, o Copom do BC, comandado por Roberto Campos Neto, antevê “redução de mesma magnitude” para as próximas reuniões do colegiado, que ocorrem a cada 45 dias.
Com o Brasil se mantendo na trajetória de desinflação, coube ao BC expressar a sua preocupação com o cumprimento da meta fiscal do governo. “Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”, disse o Copom no comunicado.
A nova intromissão em um assunto que não compete ao BC se dá para dar vozes aos aduladores da cartilha do chamado “mercado”, que vem afirmando nas últimas semanas que a meta fiscal está sob risco por conta do plano do governo para reindustrialização do país, que prevê a soma singela de R$ 300 bilhões, que serão distribuídos entre 2024 e 2026.
Os R$ 300 bilhões que o governo Lula propõe para alavancar a indústria brasileira estão bem distantes dos mais de R$ 700 bilhões que o Banco Central, por meio da sua política, obrigou o setor público (União, Estados/municípios e estatais) a transferir para pagamento de juros somente no ano de 2023.