Foram quatro trimestres seguidos de quedas: -3,3%, -7,0%, -0,3% e -5,6%, aponta Fiesp
Os dados sobre a atividade da indústria paulista em 2023 divulgados pela Federação das Indústrias Paulistas (Fiesp) nesta quarta-feira (31) demonstram o retrato da agonia do setor produtivo diante dos juros altos e da falta de uma política industrial.
De acordo com o levantamento, as vendas reais das indústrias do mais importante parque produtivo do país retraíram 10% ante 2022 – ano em que já havia recuado 2,3%.
“Nos últimos 10 anos, apenas em 2021 as vendas reais apresentaram resultado positivo ante o ano imediatamente anterior”, informou a Fiesp.
Acompanhando a situação econômica, o índice que mede a utilização da capacidade instalada das indústrias (NUCI) também recuou. Segundo a Fiesp, o ano fechou com variação negativa de 1,8 p.p na comparação com o encerramento de 2022, saindo de 80,1% de uso para 78,3% no final de 2023.
As horas trabalhadas na produção e os salários médios reais cresceram no ano passado, respectivamente, 1% e 0,8%. Os dados do ano não têm ajuste sazonal.
Já o acompanhamento do último trimestre de 2023 mostra que a falta de reação permanece: entre outubro e dezembro as vendas retraíram 5,6% ante ao trimestre anterior, o quarto consecutivo de queda: -3,3%, -7,0%, -0,3% e -5,6%.
As horas trabalhadas na produção tiveram também tiveram ligeira queda de -0,1% na comparação trimestral. No período anterior, havia caído -1,1%. O salários reais médios foi um dos indicadores com resultado positivo, com variação de +0,8% do 3º para o 4º trimestre de 2023. Por fim, o NUCI teve avanço de 0,7 p.p. frente ao período anterior.
Na leitura de dezembro, as vendas reais da indústria do estado de São Paulo cresceram 1,9% na comparação com o mês imediatamente anterior e as horas trabalhadas na produção avançaram 2,0% no período. O NUCI encerrou o mês em 78,7% ante 78,4% do mês de novembro. O indicador salários reais médios, no entanto, recuou 0,4% na passagem mensal.
NOVA POLÍTICA INDUSTRIAL
Após o lançamento do programa Nova Indústria Brasil, anunciado pelo governo Lula na semana passada, a Fiesp divulgou nota de apoio às medidas. Com valor de investimentos de R$ 300 bilhões, o programa pretende voltar a olhar para o setor industrial, tão penalizado nos últimos anos, tendo o BNDES (Bando Nacional de Desenvolvimento Econômico Industrial) como principal propulsor das medidas de financiamento, com juros civilizados.
“O lançamento da nova política industrial é a demonstração de que o governo federal reconhece a importância da indústria de transformação para colocar a economia brasileira entre as maiores do mundo, e isso deve ser aplaudido”, afirma a nota.
MENOS JUROS
O presidente da Fiesp Josué Gomes, chegou a afirmar em 2023 que as taxas de juros no Brasil eram “inconcebíveis e pornográficas”, um dos principais fatores para o desempenho ruim do setor ao longo de 2023.
Nesta quarta-feira (31/01), o Banco Central reduziu a taxa básica de juros (Selic) em apenas meio ponto percentual, para 11,25%, mantendo o Brasil com os juros reais (descontada a inflação) entre os maiores do mundo.
Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, a decisão “é injustificável”. Segundo o empresário, é preciso “agressividade” na redução dos juros, pois, “sem essa mudança de postura, seguiremos penalizando não só a economia brasileira, mas, principalmente os brasileiros, com menos emprego e renda”.