“O Comando da Aeronáutica coaduna com a necessidade de uma investigação completa, garantindo a ampla defesa e o contraditório a todos os envolvidos, seguindo o necessário rito processual previsto no ordenamento jurídico vigente”, defendeu o Tenente-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno
O comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno, afirmou neste domingo (11), em entrevista ao jornal “O Globo”, que tudo que tenha ferido os diplomas disciplinares da “Força” será punida. “Qualquer coisa que fira nossos diplomas disciplinares será punida”, destacou o comandante.
“O Comando da Aeronáutica coaduna com a necessidade de uma investigação completa, garantindo a ampla defesa e o contraditório a todos os envolvidos, seguindo o necessário rito processual previsto no ordenamento jurídico vigente”, defendeu o militar. “Para a Força Aérea, as notícias (sobre as investigações) vieram a confirmar o papel institucional e constitucional de nossa organização”, acrescentou o o brigadeiro Marcelo Kanitz.
O comandante disse que não tinha conhecimento das armações golpistas de Bolsonaro. “Não tivemos informação nenhuma a respeito disso. Não sabia do que acontecia dentro do Palácio”, afirmou o dirigente da Aeronáutica. “A Força Aérea foi profissional, focada na sua missão. Nessa mesa aqui (do Alto Comando) não se falava de política”, destacou. “A nossa posição foi de isenção em relação ao governo Bolsonaro. Tivemos uma visão de Estado e devemos isso às posições de nossos ex-comandantes. Mas não dá para fugir da relação com o governo”, explicou.
Ele disse que não tem conhecimento de participação de membros de sua área no complô. “Não que eu tenha conhecimento. Se corre alguma coisa na Justiça, ainda não fomos informados”, afirmou o comandante, destacando que assim continua o comportamento da Força atualmente.
“A minha relação com o presidente [Lula] sempre foi muito urbana. Ele tem uma grande preocupação com o reaparelhamento das Forças Armadas e, por exemplo, uma vontade muito grande de que a gente desenvolva uma turbina (de aeronaves). Poucos países do mundo fazem isso. Lula é apaixonado por essa agenda de Defesa”, disse o Brigadeiro.
“Somos dez (brigadeiros) quatro estrelas no Alto Comando. Internamente, estamos muito focados em defesa aérea e preparação para guerra”, prosseguiu. “Não temos desconfiança de nada. Há uma grande confiança entre os dez do Alto Comando. Temos que trabalhar em apoio ao governo”, argumentou.
“Não tive nenhum movimento dentro da Força em que tivesse que tomar medida disciplinar por conta do momento político. Não podemos nos envolver diretamente com a política, mas temos que apoiar a política do momento. Não podemos deixar de ser felizes por quatro anos, esperando que o candidato A ou B se reeleja ou se eleja. A nossa atividade independe de governo. Somos força de Estado”, enfatizou.
Questionado sobre a participação política de militares, ele defendeu que “ao optar em se candidatar, o militar deve ir para a reserva”. “O normal é não se eleger. E o fato de eles voltarem para a Força fazendo proselitismo político é muito ruim. A Força tem que ser prioridade de cada um. Se eu faço uma opção de ir para a política, isso aqui deixou de ser prioridade. Fez opção, peça as contas e vá para a reserva”, defendeu o militar.
Ele acrescentou que “numa democracia, a harmonia entre o senso político e senso de dever profissional é essencial. Você vota em quem quiser. Mas quando coloca a farda, tem que estar focado na missão”.
Sobre a participação no Executivo, ele pensa diferente. “Aí, vejo com outros olhos. Temos quadros fantásticos, com formação dentro e fora do Brasil, pagos com recursos da União. Esses podem sim ser bons quadros no Executivo e, dentro de um prazo, colaborar com o governo, mas sem cargo eletivo. Neste caso, sou terminantemente contra (a passagem para a reserva)”, afirmou o Brigadeiro.
Sobre o reaparelhamento militar, ele defendeu a ampliação dos equipamentos. “Os 36 caças são um número que não nos atende. Trabalhamos na possibilidade de ampliação do lote porque o contrato permite ampliação de 25% ou redução na mesma proporção”, sobre o projeto Gripen. “Estamos trabalhando nisso e acreditando muito que a Suécia deva comprar algumas unidades de KC-390. Parte pode ser um segundo lote (de Gripen) e parte uma outra aeronave, prosseguiu.
“Eu diria que é mais a necessidade de ter um produto desse. Vários países já adquiriram o avião, principalmente da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), o que coloca nosso avião em uma vitrine importante, completou o comandante.