José Luis Arboleya está desempregado há três meses. O programador de software que vive na capital paulista conta que viu nos três anos que trabalhou na mesma companhia mais de 100 pessoas serem demitidas de uma só vez. “Estava aguardando que minha hora chegasse”.
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad-Contínua), divulgados ontem (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representam essa realidade perversa de desemprego, informalidade e desalento no país.
Aos 46 anos, José Luís afirma que da última vez que esteve desempregado não ficou nem 2 meses parado. “Dessa vez ainda não fui chamado para nenhuma entrevista, embora esteja procurando. Estou sem perspectiva porque a gente sabe como as coisas estão. Muita gente sendo demitida e as empresas simplesmente encerram a vaga, não contratam ninguém no lugar”.
Ainda que os critérios sejam pouco precisos, o coordenador da pesquisa Cimar Azeredo sintetiza a situação como “crítica”, dizendo que “não está fácil para ninguém”. A taxa de desemprego atingiu 12,3% nos três meses encerrados em julho – o que corresponde a 12 milhões 868 mil pessoas. Como só é incluído nesta estatística quem efetivamente procurou emprego nos últimos 30 dias, este dado revela não mais do que a ponta de um iceberg.
Se considerados os desempregados, subempregados e aqueles que simplesmente desistiram de procurar emprego, o número cresce para 27,5 milhões de pessoas.
Desalento
Se a taxa geral do desemprego caiu desde o mesmo período do ano passado, isso não tem nada a ver com recuperação da economia. “O desemprego vem caindo no Brasil por conta do desalento, principalmente neste ano de 2018”, afirma Azeredo. No período pesquisado (no trimestre terminado em julho) 4 milhões e 818 mil pessoas simplesmente desistiram de procurar emprego diante das dificuldades enfrentadas. Este número é um recorde e o triplo de 4 anos atrás. “O Brasil nunca teve tanto desalento quanto agora”.
Daniela Agria, de 36 anos, mora na Praia Grande (litoral paulista) e desistiu de procurar emprego há quase dois anos. Mãe de dois filhos, ela afirma que além das dificuldades de encontrar uma posição, os salários não compensavam o valor que teria que pagar para deixar os filhos na escola – já que é quase impossível conseguir vaga na creche pública.
“Perdi completamente as esperanças de conseguir emprego há mais de um ano. Quando alguma coisa aparecia, o salário não compensava o que teria de pagar de escolar para sair para trabalhar”.
“Aqui a coisa é ainda pior que em São Paulo. Meu marido sobe e desce a serra todos os dias, pagando um absurdo de pedágio e gasolina, porque aqui não tem emprego”.
Emprego formal e informalidade
A pesquisa contabiliza que 32 milhões e 900 mil pessoas estavam trabalhando com carteira assinada no período da pesquisa. O número é quase igual ao de pessoas para quem falta emprego e está 1,1% menor do que no mesmo período do ano passado, revelando a tendêndencia de esvaziamento do mercado formal. Desde 2014, início da crise, o Brasil perdeu 3,7 milhões de vagas com carteira assinada.
Sem carteira, sem direitos, sem estabilidade e sem renda fixa. Essa é a situação de uma multidão de pessoas que caíram na informalidade nos últimso anos. O mercado informal passou de 36,4 milhões um ano antes, para 37,3 milhões no trimestre encerrado em junho, alcançando 40% da força de trabalho.
Nada disso tem a ver, como diz o governo e sues gurus econômicos, com uma “atitude empreendedora” do brasileiro. Isso representa o aumento do número de ambulantes e de pessoas que vivem de pequenos serviços – os famosos biscates.
Além de não terem nenhum direito garantido, esses trabalhadores ganham 40% menos do que a média de um trabalhador com carteira assinada.
Essa é a situação de Tatiane Pereira, que sempre trabalhou no comércio. “Desde 2013 não contei mais com estabilidade nenhuma. Passei por algumas redes do varejo e agora estou novamente desempregada”. Para segurar a onda e pagar “um mês a luz e no outro a água”, Tatiane recorreu ao trabalho por conta própria. “Não dá para ficar parada em uma situação dessa. Comecei a vender bijuteria online e bolo na vizinhança. Mas não dá para viver disso porque as pessoas também estão com dificuldades e não estão consumindo”.
“Tranquei a licenciatura em Geografia no último semestre porque a minha renda caiu muito e não consegui mais pagar a mensalidade”, conta.
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