Em ofício enviado ao ministro Ricardo Lewandowski, a deputada afirma que a mensagem apresenta teor xenofóbico e criminoso em relação aos palestinos
A deputada federal Sâmia Bomfim (PSol-SP) acionou o Ministério da Justiça e pediu ao chefe da pasta, Ricardo Lewandowski, que mobilize a PF (Polícia Federal) para investigar uma ameaça direcionada a ela pelo apoio ao povo palestino.
As informações são da coluna da jornalista Mônica Bergamo, no jornal Folha de S.Paulo.
A parlamentar relata ter recebido, na última quarta-feira (21), e-mail que fala em exterminar aqueles que vivem na Cisjordânia e na Faixa de Gaza e diz que Bomfim e outras autoridades estão “com os dias contados” por apoiar os palestinos.
Sob o título “os inimigos do sionismo devem morrer e você é um deles”, o texto sugere que os “traidores se preparem”.
“NOVA NAKBA”
O detrator diz, ainda, que supostos locais “com alta concentração” de muçulmanos em São Paulo e no Rio de Janeiro devem ser evitados, “pois em breve faremos uma nova nakba”.
A palavra, que significa catástrofe ou desastre em árabe, faz referência à diáspora forçada de palestinos no fim da década de 1940, quando os sionistas ocuparam o território palestino e criaram o Estado de Israel.
“Palestinos estão pra Israel assim como negros, índios e nordestinos estão pro Sul do Brasil: são subhumanos [sic], raça inferior e insetos que devem ser eliminados”, está escrito na mensagem recebida por Sâmia.
MENSAGEM VIOLENTA
“Vamos erradicar a presença dos insetos palestinos, muçulmanos e cristãos de Gaza e de Judeia e Samaria e faremos a Grande Israel. Ninguém vai nos impedir”, segue.
O texto também exalta o apoio a Israel dado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e por parlamentares como a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG) e propaga que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, deveria ajudar a derrubar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do poder.
No ofício enviado a Lewandowski, Sâmia afirma que a mensagem apresenta teor xenofóbico e criminoso em relação aos palestinos e diz ainda que a ameaça, possivelmente, está ligada a grupos e fóruns anônimos de ódio da Deep Web.
OBSTÁCULOS ÀS INVESTIGAÇÕES
“Como se sabe, muitos grupos criminosos se organizam de maneira descentralizada e utilizam-se de artifícios digitais que dificultam o rastreamento e a origem das mensagens, sendo comum o uso de servidores localizados em outros países para obstaculizar as investigações conduzidas por autoridades brasileiras”, escreveu a deputada ao ministro.
“Não obstante o oferecimento da devida notícia-crime à Polícia Federal, serve o presente [ofício] para solicitar vossa atenção para a tomada de providências deste ministério junto a órgãos e autoridades nacionais e de outros países”, finaliza a parlamentar.
DEEP WEB
A chamada Deep Web fica abaixo da superfície da Web e é lá que estão cerca de 90% de todos os sites. Essa seria a parte de uma espécie de iceberg abaixo da água, muito maior do que a parte da superfície.
Na verdade, essa Web oculta é tão grande que é impossível saber exatamente quantas páginas ou sites estão ativos simultaneamente.
Esse lugar, esse ciberespaço, não pode ser acessado pelos chamados “métodos tradicionais” e, uma vez dentro desse, se consegue ter certo grau de anonimato.