Um dos símbolos do país – e da nacionalidade – foi destruído no domingo, dia 02/09.
No ano em que se completaram os seus 200 anos, o Museu Nacional, a mais antiga instituição científica do país, encontrou o seu triste fim. Um incêndio na noite deste domingo (02) tomou conta do prédio na Quinta da Boa Vista e consumiu em chamas o acervo de mais de 20 milhões de itens.
O Museu Nacional estava instalado no Palácio Imperial de São Cristóvão, residência dos imperadores do Brasil – e, antes disso, da família real portuguesa, após sua fuga de Portugal.
O incêndio começou por volta das 19h30min e se estendeu rapidamente por todo o prédio.
O Museu Nacional não possuía um sistema de prevenção e combate a incêndios. Apenas quatro vigias faziam a segurança do local e, de acordo com a direção do museu, eles não ficaram feridos.
NEGLIGÊNCIA
O motivo imediato das chamas ainda não foi identificado. De acordo com o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, o incêndio ocorreu por “negligência dos governantes”…
O Museu Nacional era administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que, desde o início do governo Dilma (2011), sofre com os repetidos cortes no orçamento da Educação.
O Museu Nacional está, desde 2014, sem receber na totalidade a verba destinada à sua manutenção, cerca de R$ 520 mil anuais. Até abril deste ano recebeu apenas R$ 54 mil deste montante.
Tamanha a gravidade da situação, que o diretor-presidente do Museu Nacional, Alexandre Kelnner, chegou a anunciar, no mês de maio, o lançamento de uma “vaquinha virtual” para arrecadar recursos que possibilitassem a reabertura das salas fechadas.
A presidente do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), Katia Bogéa, considerou que esta tragédia é uma perda “não só do país, mas para humanidade”. Segundo afirmou, o Iphan estava coordenando um projeto de restauração para o Museu Nacional – inclusive com um sistema de prevenção de incêndios – que ainda não havia sido iniciado, pois dependia de um patrocínio de R$ 20 milhões, que ainda não fora liberado pelo BNDES.
O diretor do Museu Histórico Nacional, Paulo Knauss, considerou o incêndio “uma tragédia”. Knauss lembrou que o prédio do museu, além de residência da família real – e depois da família imperial – foi sede da Assembleia Constituinte que se reuniu após a Proclamação da República.
“É uma tragédia lamentável. Em seu interior há peças delicadas e inflamáveis. Uma biblioteca fabulosa. O acervo do museu não é para a história do Rio de Janeiro ou do Brasil. É fundamental para a história mundial. Nosso país está carente de uma política que defenda os nossos museus”, disse Paulo Knauss.
ABANDONO
“Nunca tivemos um apoio para que o projeto de restauração e adequação do prédio da Quinta da Boa Vista fosse executado”, disse Luiz Fernando Dias Duarte, vice-diretor do Museu Nacional. Segundo ele, o incêndio ocorre pela “falta de consciência dos governantes brasileiros” com o patrimônio do país.
Em entrevista, Duarte, manifestou uma “imensa raiva pelo que acabou de ser destruído”.
Ele relembrou que nas “celebrações dos 200 anos da mais antiga instituição de pesquisa do país, não foi registrada a presença de nenhum ministro de estado”.
“Nunca conseguimos nada com o governo federal sobre o projeto de restauração”, enfatizou Duarte, que condenou a política de arrocho em que o país vem sendo mantido. “A UFRJ e o Ministério da Educação vivem à míngua”, disse.
Faziam parte do acervo do Museu Nacional as três múmias egípcias compradas e doadas por D. Pedro I, o meteorito de Bendegó – o maior já achado em território brasileiro -, esqueletos de dinossauros, a coleção africana, a coleção indígena – inclusive com o gravador, fabricado por Thomas Edson, em que Roquete Pinto gravou cantos dos índios brasileiros -, a coleção científica de Berta Lutz, também pioneira da luta pela libertação da mulher, e outras inumeráveis preciosidades.
Foi destruído o crânio de “Luzia” – o mais antigo fóssil humano encontrado na América Latina, com mais de 11 mil anos, celebrizado pelos estudos do professor Walter Neves (v. Era uma questão de quando o incêndio ia acontecer, critica Walter Neves).
O Museu e o Palácio Imperial permaneceram incólumes durante dois séculos. Foi preciso uma devastação como a que o Brasil está submetido desde 2015 para destruí-lo.
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Alooo
Comentei dias atras sobre a questão da manutenção, na última tragédia que tivemos, e vamos ter mais, além deste incêndio do Museu Nacional.