
Entidade antirracismo diz que não é a primeira vez que Trump compara a negritude à criminalidade e esclareceu que “nada temos em comum”. O ex-presidente responde a 91 acusações em quatro casos, da evasão fiscal à incitação à invasão do Capitólio, mais a tentativa de fraudar a eleição passada.
O ex-presidente Donald Trump gabou-se, na véspera da primária da Carolina do Sul, em que venceu, como previsto, a oponente republicana Nikky Haley, de que seus indiciamentos pelos tribunais – ele responde a 91 acusações criminais em quatro casos distintos -, o estavam fazendo “ser abraçado” pelos negros.
“E aí eu fui indiciado uma segunda vez, uma terceira e uma quarta vez. Muitas pessoas disseram que é por isso que os negros gostam de mim, porque foram gravemente feridos e discriminados. Eles realmente me viam como se eu estivesse sendo discriminado”, garantiu o biliardário.
“Estou sendo indiciado por vocês, população negra”, acrescentou Trump na maior desfaçatez.
Bajulação que foi repudiada pela principal entidade antirracismo dos EUA, a NAACP [Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor], em uma postagem no X, antigo Twitter: “não é a primeira vez que Trump comparou a negritude à criminalidade. Sejamos claros: não temos nada em comum”.
NIKKI QUEM?
Na votação no sábado (24), Trump venceu a ex-governadora do estado Haley por 60% a 40%, e ela já está sendo tratada pela campanha do bilionário como carta fora do baralho: “Nikki quem?”, disse um gerente de sua campanha à Reuters. Haley prometeu resistir até à Superterça-feira – o 5 de março, com disputa em 15 estados -, mas o respaldo financeiro da famiglia Koch já foi cortado, segundo a mídia norte-americana.
Segundo o portal Axios, a julgar pela pesquisa de boca de urna da AP VoteCast, o perfil do eleitorado que deu a vitória a Trump na primária no Estado não seria “nem remotamente grande o suficiente para vencer uma eleição presidencial”, em que precisaria “atrair eleitores mais diversificados, mais instruídos e que acreditassem que sua primeira derrota foi legítima”.
A pesquisa entrevistou 2440 eleitores. Dois terços dos eleitores republicanos nas primárias do Estado eram brancos, em geral evangélicos, não frequentaram a faculdade e disseram que Biden não foi eleito legitimamente. 75% dos apoiadores de Haley disseram que Biden foi legitimamente eleito presidente em 2020 (sendo que 40% haviam votado em Biden).
AGENDA CHEIA NOS TRIBUNAIS
Encalacrado em 91 acusações, o que não vai faltar a Trump serão audiências e condenações, pelo andar da carruagem. Nesta segunda-feira (26), sua equipe de defesa anunciou que ele irá recorrer da condenação em Nova Iorque a pagar multa de US$ 364 milhões por variados trambiques nos negócios, em que seus filhos Eric e Donald Jr são co-réus.
Foi aquele julgamento no qual o juiz Engoron registrou que “sua completa falta de arrependimento e remorso beira o patológico”.
No final de janeiro, ele foi condenado a pagar US$ 83,3 milhões à escritora E. Jean Carroll por difamá-la, após ela acusá-lo, em 2019, de tê-la estuprado nos anos 1990. Trump, que costuma chamar a escritora de “louca” ou “doente”, disse na época que ela “não era o seu tipo” e que havia inventado o estupro para “vender seu novo livro”.
No dia 4 de março, véspera da Superterça-feira, Trump irá a julgamento pela tentativa de fraudar a eleição de 2020 na Geórgia (“me arranja 11.870 votos aí”). A procuradoria havia proposto janeiro, enquanto a defesa de Trump queria deixar para 2026.
FICHADO E FOTOGRAFADO
Em agosto do ano passado, Trump foi formalmente fichado e fotografado em uma prisão do Estado sulista por conta dessa acusação.
No dia 25 de março, será o julgamento de Trump no caso da compra do silêncio da atriz pornô Stormy Daniels em 2016, quando ele se candidatou pela primeira vez.
Há, ainda, a acusação por ele manter em sua mansão na Flórida, indevidamente, documentos secretos do Pentágono.
Já que não existe inelegibilidade nos EUA, mesmo se condenado Trump poderá concorrer. Caso eleito, ele poderia até governar da prisão domiciliar. As eleições nos EUA acontecerão em novembro.
Para Axios, a estratégia de campanha de Trump é fazer um “referendo contra Biden e suas políticas”, para poder ir além da base republicana, especialmente nos Estados-pêndulo, onde as eleições serão decididas. Usando a desilusão dos eleitores sobre “a economia, a imigração descontrolada e mais complicações externas”, que são questões que “afetam pessoas de todas as origens”, conforme explicou um “importante conselheiro” do ex-presidente.