Os investimentos em máquinas e equipamentos, construção, entre outros, seguiram em baixa no ano de 2023, um recuo de 3% no ano, conforme a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede os investimentos dentro do Produto Interno Bruto (PIB). Este foi o pior resultado de queda da FBCF para um ano desde 2016 (-12,1%), um período marcado por recessão econômica.
Com o terceiro resultado consecutivo de queda no ano, a taxa de investimentos em 2023 ficou em 16,5% do PIB, 1,3 ponto percentual (p.p) abaixo do que foi registrado em 2022 (17,8%). Esse é o pior resultado desde 2019, quando a taxa ficou em 15,5%.
“Este cenário negativo dos investimentos”, avalia a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), “tem sido caracterizado, sobretudo, pela fragilidade do segmento de máquinas e equipamentos. A formação bruta de capital fixo desse segmento, em específico, caiu 9,4% em 2023 em comparação com 2022”, observou a entidade, em nota divulgada na sexta-feira (1º), após a divulgação do resultado do PIB de 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A taxa de investimentos, que mede o ritmo de investimento no país, é também um bom parâmetro para avaliar a qualidade do crescimento da economia.
Em 2023, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 2,9%, influenciado, do lado da oferta, pela agropecuária que cresceu 15,1% – com a supersafra histórica de soja (alta de 27,1%) e milho (alta de 19,0%) -, e pela indústria extrativa (petróleo, gás natural e minério de ferro) que cresceu 8,7%. Pela demanda, colaboraram as exportações, que cresceram 9,1% frente a 2022, época em que haviam registrado 5,7% de alta.
Por outra rota, marcada pelas barreiras dos juros altos do Banco Central (BC), a Indústria cresceu 1,6% no ano, com a indústria de transformação recuando em -1,3% frente a 2022, um desempenho negativo causado, principalmente, pelos recuos das fabricações de produtos químicos, máquinas e equipamentos; metalurgia e indústria automotiva. O setor de serviços, que engloba também o comércio (+0,6), avançou 2,4% no ano.
Entre 2022 e 2023, o consumo das famílias regrediu, saiu dos 4,1% para 3,1% em 2023, e as Despesas do governo caíram de 2,1% para 1,7%. Já as importações, caíram de uma alta de 1% para uma queda de -1,2%.
Ou seja, a demanda externa por bens primários pesou no resultado do PIB, como destaca o IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), ao também avaliar os números do PIB de 2023.
“Em 2023, da alta de +2,9% do PIB total, a demanda externa foi responsável por +2,0 pontos percentuais (p.p.), enquanto a demanda interna respondeu por apenas +0,9 p.p. Em 2022, da expansão de +3,0%, o setor externo contribuiu com +0,9 p.p. e a demanda interna com +2,1 p.p..”, constatou o IEDI, na nota de análise intitulada de “PIB 2023: mais setor externo, menos investimento”.
Na avaliação do IEDI, o PIB da atividade manufatureira encolheu no ano em meio às “taxas de juros elevadas”, que “influenciou o encolhimento dos investimentos no país”.
“A parcela da indústria com declínio mais intenso no ano passado foi justamente a produção de bens de capital”, destacou a entidade. “O quadro de elevadas taxas de juros de 2023, em que a Selic se manteve em seu máximo de 13,75% a.a ao longo de metade do ano, sendo reduzida lentamente a partir de agosto, desestimulou as decisões de investir e enfraqueceu os mercados de bens duráveis, mais dependentes das condições de crédito”, também apontou o IEDI.
A Fiesp também atrelou o “quadro de fraqueza da indústria de transformação e dos investimentos” à “política monetária fortemente contracionista” do BC.
“Em 2023, a indústria de transformação caiu 1,3% e a construção civil, 0,5%. Tais setores têm sido afetados pelos efeitos defasados da política monetária fortemente contracionista. Com este resultado de 2023, o PIB da indústria de transformação registrou a sétima queda em dez anos. Cabe destacar que a participação deste setor no PIB foi de 15,3% em 2023, considerando preços correntes. A preços constantes de 2019, no entanto, a participação foi de 10,8%, a menor da série histórica, tendo sido mantida a trajetória de queda”, diz outro trecho da nota.
Para o economista José Luis Oreiro, a queda dos investimentos impede um crescimento sustentável da economia.
“Esse comportamento da taxa de investimento deve acender um sinal de alerta para a equipe econômica do governo no que se refere à sustentabilidade da atual trajetória de crescimento. Isso porque o crescimento com estabilidade de preços só é possível se a demanda agregada e a capacidade produtiva estiverem crescendo em linha uma com a outra”, escreveu o professor, associado do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UNB), em seu artigo intitulado “PIB mostra crescimento mediano, de má qualidade e não sustentável”, pontua o economista.
Oreiro defende que a taxa seja aumentada no mínimo para 20% do PIB. “O problema é que a redução da taxa de investimento entre 2022 e 2023 fez com que a taxa de crescimento do PIB compatível com a estabilidade de preços se reduzisse de 2,43% para 2,0% [cálculos do autor]. Dessa forma, um crescimento de 2,9% do PIB em 2023 não é sustentável a médio prazo pois irá levar a um aumento da pressão inflacionária, produzindo um fim prematuro do atual ciclo de queda da taxa Selic. Nesse contexto, a equipe econômica deveria pensar em algum tipo de flexibilização do atual arcabouço fiscal, de maneira a permitir um incremento considerável do investimento em infraestrutura do governo central ao longo de 2024. Para que a economia brasileira possa crescer de forma sustentada a, pelo menos, 3% a.a a taxa de investimento precisa ser aumentada para 20% do PIB”, argumentou.