Em 2023, a atividade produtiva da indústria de transformação encolheu -1,3% em comparação com 2022, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última sexta-feira (1º), ao divulgar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que terminou quarto trimestre estagnado, mas com alta de 2,9% no acumulado do ano.
A indústria de transformação encerrou o último trimestre de 2023 operando 18,5% abaixo do pico alcançado no terceiro trimestre de 2008. O setor é responsável por cerca de 85% da indústria brasileira, que no computado geral, cresceu 1,6% frente a 2022, um resultado escorado na indústria extrativa (petróleo e gás natural e de minério de ferro) que avançou 8,7% e na indústria de serviços de utilidade pública (Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos), que cresceu 6,5%.
Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, o “quadro de fraqueza da indústria de transformação e dos investimentos” está atrelado “a política monetária fortemente contracionista” do Banco Central (BC), que segue enfraquecendo os setores da economia mais sensíveis ao crédito.
“Em 2023, a indústria de transformação caiu 1,3% e a construção civil, 0,5%. Tais setores têm sido afetados pelos efeitos defasados da política monetária fortemente contracionista.
Com este resultado de 2023, o PIB da indústria de transformação registrou a sétima queda em dez anos. Cabe destacar que a participação deste setor no PIB foi de 15,3% em 2023, considerando preços correntes. A preços constantes de 2019, no entanto, a participação foi de 10,8%, a menor da série histórica, tendo sido mantida a trajetória de queda”, afirmou a entidade, em nota.
Com o BC mantendo a taxa básica de juros acima dos dois dígitos, os investimentos no país recuaram -3,0% no ano passado, conforme a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede a ampliação da capacidade produtiva por meio de investimentos em máquinas e equipamentos, construção, etc.
“Este cenário negativo dos investimentos”, também afirmou a Fiesp, “tem sido caracterizado, sobretudo, pela fragilidade do segmento de máquinas e equipamentos. A formação bruta de capital fixo desse segmento, em específico, caiu 9,4% em 2023 em comparação com 2022”, observou a entidade, que seguiu.
“Nesse cenário de dificuldade dos investimentos e dos setores mais cíclicos da economia, é difícil defender a tese de que as recorrentes surpresas do PIB no Brasil têm sido resultantes de mudanças estruturais importantes, que pudessem ter afetado o crescimento potencial”, criticou.
Para a entidade, as causas para o crescimento do PIB de 2023 “foram, sobretudo, conjunturais, com destaque para o ótimo desempenho de setores ligados a recursos naturais e de segmentos mais sensíveis à renda. Considerando a taxa de investimentos atual de cerca de 16,0% (a preços constantes de 2019) e o avanço da produtividade em torno de 0,0% e 0,5%, o crescimento de longo prazo permanece baixo, entre 1,5% e 2,0%”, estimou a Fiesp, a partir de dados do IBGE.
Na avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), o crescimento do PIB no ano passado foi “apoiado na demanda externa, que se canalizou para produtos agropecuários (+15,1%) e da indústria extrativa (+8,7%), já que o PIB da atividade manufatureira encolheu no ano em meio às taxas de juros elevadas, que influenciou o encolhimento dos investimentos no país”. “A parcela da indústria com declínio mais intenso no ano passado foi justamente a produção de bens de capital”, destacou.
“O quadro de elevadas taxas de juros de 2023, em que a Selic se manteve em seu máximo de 13,75% a.a ao longo de metade do ano, sendo reduzida lentamente a partir de agosto, desestimulou as decisões de investir e enfraqueceu os mercados de bens duráveis, mais dependentes das condições de crédito”, disse entidade, afirmando que alta de 2,9% do PIB total foi influenciada pela demanda externa.
“Foi responsável por +2,0 pontos percentuais (p.p.), enquanto a demanda interna respondeu por apenas +0,9 p.p. Em 2022, da expansão de +3,0%, o setor externo contribuiu com +0,9 p.p. e a demanda interna com +2,1 p.p.”, constatou o IEDI.