Há um livro de Franklin de Oliveira (título desta postagem) recuperado subitamente por minha memória quando recebi a notícia do incêndio criminoso no Rio. Em nota oficial o Ministério em Brasília disse tratar-se de “tragédia museológica”. Ao contrário, creio que este orwellianismo precisa atender por outro nome: foi incêndio criminoso, pois não podemos creditar ao acaso aquele descaso completo que ocorre há anos em plena luz do dia!
No ano passado (2017) o museu mais visitado no mundo foi o Louvre seguido de perto pelo Museu Nacional de China com 8 milhões de visitantes. No Museu francês, 70% eram turistas. Os dois países possuem potente indústria cultural. Museus dependem da indústria cultural nacional.
Em 2016, segundo o IBRAM, considerando os 30 espaços sob sua “responsabilidade”, os museus brasileiros receberam pouco mais de 1 milhão de pessoas. A entidade também indica que no ano passado 32 milhões de pessoas visitaram os mais de 1.000 museus no Brasil.
O Museu Nacional do Rio de Janeiro recebeu em 2016 pouco mais de 123 mil pessoas segundo dados do governo federal. Parece-me pouco. É pouco. Não há, pasmem, correlação possível entre o número de visitas e as justificadas lágrimas produzidas pelo incêndio criminoso. É como derramar lágrimas por algo que, no fundo, desprezamos.
O crime produzido pelo estado brasileiro não ocorreu por acaso. É produto da política oficial desde sempre e nem bêbado alguém pode dizer que começou com o “neoliberalismo” do governo corrupto e liberal de Temer. Uma tragédia deste tamanho não é produto do improviso e muito menos da PEC dos gastos! É política oficial!
O incêndio criminoso que nos arrebata é produto da lenta morte da memória nacional produzida aqui entre nós pela classe dominante e todos seus governos! É produto da morte da cultura nacional que jazz sobre os escombros da industria cultural metropolitana consumida de maneira desinibida entre nós. É terrível não entender a importância da questão nacional. Terrível!
*Nildo Ouriques é economista, professor da UFSC e presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA)