Um agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi pressionado para apagar as pegadas de espionagem ilegal feita para ajudar o filho de Jair Bolsonaro, Jair Renan Bolsonaro.
Em depoimento à Polícia Federal, um oficial da Abin relatou ter recebido, em 2021, uma ligação de um assessor do diretor-geral da Agência, Alexandre Ramagem, falando para que “desse um jeito” e tirasse do ar um relatório que teria sido inserido no sistema da Abin por engano.
O relatório era sobre a espionagem ilegal que foi feita contra o ex-personal trainer de Jair Renan Bolsonaro.
Ele estava sendo investigado pela PF junto com Jair Renan por terem feito reuniões com empresários nas quais cometeram o crime de tráfico de influência. Os dois recebiam “presentes” dos empresários para conseguir favorecê-los em ações no governo Bolsonaro, no qual tinham amigos.
No dia 17 de março de 2021, o relatório foi inserido no sistema da Abin, deixando-o disponível para que todos lá chegassem. O objetivo do grupo criminoso, porém, era que somente Alexandre Ramagem recebesse o documento.
O assessor de Alexandre Ramagem sugeriu “retirar o documento” do sistema ou “limitar o seu acesso”.
Isso não foi possível porque todos já tinham acesso ao relatório dentro do sistema da Abin.
A espionagem contra o ex-personal trainer de Jair Renan envolveu, inclusive, perseguição. Um agente da Abin foi flagrado pela Polícia Militar do Distrito Federal tirando fotos do estacionamento do prédio onde ele morava.
O governo de Jair Bolsonaro utilizou a Abin para espionar adversários políticos, líderes sociais e adversários políticos.
A PF descobriu, com a colaboração da Controladoria-Geral da União (CGU), um relatório impresso de um monitoramento feito sobre uma reunião entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a ex-deputada Joice Hasselmann e Antônio Rueda, atual presidente do União Brasil.
“Jantar no Rueda ontem entre o Próprio, Joice e Rod Maia (…) Chegou com um cidadão com pasta de documento na mão…ficou 29min e saiu”, dizia uma mensagem que foi enviada para Ramagem por WhatsApp.
Sob a supervisão de Ramagem, a placa de um carro que estava no encontro foi rastreada e o veículo foi espionado. Ele era de Anderson Torres, então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, cogitado para assumir o Ministério da Justiça.
Há ainda outros relatórios de carros utilizados por Torres, inclusive com fotos. Um deles é chamado “diligências Lago Sul”.