“O que não é correto é a Petrobras, que tinha que distribuir R$ 45 bilhões de dividendos, querer distribuir R$ 80 bilhões”, afirmou o presidente
O presidente Lula comentou nesta segunda-feira (11), em entrevista ao SBT, a reação do chamado mercado e seus porta-vozes ao anúncio da Petrobrás de que não iria distribuir a totalidade dos dividendos extraordinários no quarto trimestre do ano.
A expectativa era principalmente dos aplicadores institucionais estrangeiros (bancos e fundos de investimento). “Tem que pensar o investimento é em 200 milhões de brasileiros que são donos ou sócios dessa empresa”, afirmou Lula.
“O que não é correto é a Petrobrás, que tinha que distribuir R$ 45 bilhões de dividendos, querer distribuir R$ 80 bilhões. E R$ 40 bilhões a mais que poderiam ter sido colocados para investimento, fazer mais pesquisa, mais navio, mais sonda. Não foi feito”, afirmou. O presidente classificou o mercado como “um rinoceronte, um dinossauro voraz que quer tudo para ele e nada para o povo”. “Se eu for atender apenas à choradeira do mercado, você não faz nada”, disse.
Sobre o movimento especulativo que alterou o preço de bolsa da empresa, Lula disse que “às vezes, eu vejo notícias assim: ‘Petrobrás cresce 30%’, ‘Petrobras bate recorde de produção de gasolina’, ‘Petrobras bate recorde de exportação de petróleo’, ‘Petrobras bate recorde de arrecadação’. E a gente não ganha nada com isso”, criticou. Segundo o presidente, a Petrobrás não pode se esquecer de que “tem uma missão”.
Lula disse, ainda, que há muito tempo “tentam privatizar” a empresa. “Em 1953, não queriam que Getúlio [Vargas] criasse a Petrobrás. Ela se transformou numa das mais importantes empresas de petróleo no mundo. É a empresa de maior capacidade tecnológica de prospecção em alta profundidade”, afirmou. “Meus ministros de Minas e Energia e da Fazenda sabem que uma das coisas que temos que fazer é baixar o preço da energia para o povo, do arroz, do feijão. Baixar o preço daquilo que vai na mesa do povo trabalhador”, disse o presidente.
“Será que o mercado não tem pena das pessoas que passam fome? Será que o mercado não tem pena de 735 milhões de pessoas [no mundo] que não têm o que comer? Será que o mercado não tem pena das pessoas que dormem na sarjeta no centro de São Paulo e do Rio de Janeiro? Será que o mercado não tem pena das meninas com 12 e 13 anos que, às vezes, vendem o corpo por causa de um prato de comida?”, questionou Lula.
A discussão sobre os dividendos da Petrobrás já vinha se intensificando depois do escandaloso pagamento de 100% do lucro da empresa aos acionistas no ano de 2022. Neste ano, os investimentos foram reduzidos US$ 4,79 bilhões. Na ocasião, houve mudanças na norma que definia o pagamento de dividendos. Eles passaram a ser pagos em função do fluxo de caixa livre. Ficou definido que 60% deste fluxo seria transformado em dividendos. O que aconteceu é que os investimentos passaram a ser reduzidos e os fluxos livres aumentados e, por consequência, cresceram os dividendos.
Esse critério lesivo aos interesses estratégicos da empresa e do país acabou fazendo com que a Petrobrás se transformasse na campeã mundial de pagamento de dividendos. Pagava mais do que todas as outras petroleiras do mundo. Com a mudança do governo, a nova administração, do presidente Lula, resolveu alterar o critério e reduziu para 45% do fluxo de caixa livre o que seria destinado para pagamento de dividendos. Ainda assim, a Petrobrás seguiu como a petroleira que mais paga dividendo no mundo.
Dos escandalosos US$ 37,3 bilhões pagos em dividendos aos acionistas, na sua maioria estrangeiros, em 2022, esse valor foi reduzido para US$ 20 bilhões em 2023 após a mudança do percentual do fluxo de caixa.
A única empresa que chegou perto da petroleira brasileira neste quesito foi a americana Exxon Mobil, que pagou US$ 14,9 bilhões. A Shell pagou US$ 8,39 bilhões, a Total, US$ 7,52 bilhões, a BP pagou US$ 4,81 bilhões e a Chevron, US$ 11,34 bilhões. Mesmo tendo reduzido em 2023, a Petrobrás continua sendo a campeã mundial de dividendos.
O que Lula está cobrando é que a estatal brasileira de petróleo invista mais em refino para abastecer o mercado interno com preços justos e o país não precise importar diesel. A cobrança é para que o Brasil pare de pagar o combustível pelos preços internacionais. “Afinal, nós somos autossuficientes na produção de petróleo e não precisamos disso”, disse ele.
O que Lula quer é que a Petrobrás cumpra a função para a qual ela foi criada, ou seja, garantir energia barata e ajudar no desenvolvimento econômico do país. Os investimentos da Petrobrás são decisivos para o crescimento do país. Quem não quer que a Petrobrás faça investimentos não está pensando no país e no seu povo, mas está apenas fixado em encher seus bolsos com ganhos bilionários.
Como diz também o presidente da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobrás), Felipe Coutinho, esses que defendem a distribuição voraz de dividendos “não estão pensando nem no futuro da empresa e nem no país”. Os dividendos de hoje, segundo ele, são o resultado dos investimentos feitos no passado. Quem só pensa em dividendos e descuida dos investimentos, não está pensando no futuro da empresa. Está pensando apenas em sugar a empresa. Está destruindo o seu futuro. É contra isso que Lula está se insurgindo.