Desmonte do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (CONICET) fez com que cientistas aderissem à greve do funcionalismo públic oconvocada pela Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE)
Os cientistas argentinos condenam as demissões e a suspensão de contratos no Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (CONICET), uma das organizações mais respeitadas internacionalmente nesta área.
Com a participação na greve nacional de cientistas convocada pela Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE), na quarta-feira (21), a diretoria do CONICET manifestou em comunicado seu total repúdio à “decisão de limitar a renovação dos contratos de pessoal administrativo e técnico da instituição ao dia 31 de março” e assinalou que a organização conta com 1.600 funcionários que “são essenciais para o normal funcionamento das Carreiras de Investigação de 12.150 membros; de 3.050 integrantes de pessoal de Apoio; e 10.900 pessoas que, com bolsas de doutorado e pós-doutorado, são formadas em tarefas de pesquisa científica e tecnológica, que constituem o futuro da ciência nacional e do desenvolvimento federal do país.”
“Este pessoal administrativo e técnico contratado, altamente especializado e treinado, atua há anos no CONICET apoiando os processos de planejamento, monitoramento e avaliação das atividades de pesquisa, e permite o funcionamento dos mais de 300 institutos e Centros Científicos e Tecnológicos que se encontram em todo o território nacional”, indicaram.
CONSEQUÊNCIAS NEGATIVAS PODEM SE PROLONGAR POR ANOS
“Além do atual repúdio, solicitamos a reintegração de todos os agentes despedidos, uma vez que a sua exoneração não se deveu a vícios de contratação, nem à irrelevância das funções que desempenhavam”, prosseguiu a Direção, frisando a preocupação “com a falta de certeza em relação à formalização das inscrições para a Carreira de Investigador Científico (CIC) 2022 e à implementação das promoções do CIC, bem como dos concursos de Pessoal de Apoio”.
“Queremos também manifestar que estamos convencidos de que as mudanças nas quantidades de bolsas propostas, nas suas datas de início ou nas condições das prorrogações, modificando as bases de convocatórias já fundamentadas, vão ter consequências muito negativas que vão se prolongar por anos, dado o tempo necessário para formar pessoal científico-tecnológico, prejudicando as possibilidades de desenvolvimento nacional”, observaram.
“Deixar o CONICET sem o pessoal administrativo e técnico necessário significa paralisá-lo e colocar em risco o funcionamento de um ator central do sistema científico e tecnológico nacional, justamente quando acaba de ser reconhecido, mais uma vez, como a melhor instituição científica governamental da América Latina, entre outros múltiplos reconhecimentos internacionais”, afirmaram, referindo-se, entre outros fatos, à divulgação nesta semana do ranking internacional de pesquisa mundial pelas Instituições Scimago, no qual o CONICET se consolidou pelo sexto ano consecutivo como a melhor instituição científica governamental da América Latina e ficou em 15º lugar no mundo.
O CONICET prepara uma mobilização até a sede do Gabinete, em Buenos Aires, “contra o esvaziamento e em defesa dos empregos”. A marcha foi adiada para a próxima sexta-feira devido ao temporal que ocorreu esta quarta-feira na capital argentina.
UMA INSTITUIÇÃO DE PRESTÍGIO MUNDIAL
A posição negacionista do presidente Javier Milei chegou a ser criticada por 68 ganhadores do Prêmio Nobel de todo o mundo, que dias atrás afirmaram ao governo: “Sem infraestrutura para a ciência, um país cai no desamparo e na vulnerabilidade, sem desenvolver tecnologia própria para avançar, nem treinar nem desenvolver a infra-estrutura necessária para aplicar o conhecimento científico e tecnológico de terceiros aos problemas regionais, nacionais e locais. Onde tal situação deixaria a Argentina?
“Preocupa-nos que a dramática desvalorização dos orçamentos do CONICET e das Universidades Nacionais reflita não apenas uma dramática desvalorização da ciência argentina, mas também uma desvalorização do povo argentino e do futuro da Argentina”, observaram.
“Como cientistas internacionais, muitos de nós testemunhamos as contribuições transformadoras da ciência argentina. Se não fosse pela ciência e pelos cientistas argentinos, as causas e o tratamento do câncer, diabetes e doenças cardiovasculares teriam permanecido um mistério por mais décadas”, acrescentaram.
E concluíram instando o presidente a que restabeleça os orçamentos “sujeitos às restrições recentemente impostas ao muito importante setor científico e tecnológico do seu país. Congelar programas de investigação e reduzir o número de estudantes de doutorado e jovens investigadores causará a destruição de um sistema que levou muitos anos para ser construído e que exigiria muitos, muitos mais para ser reconstruído.”