Em fevereiro, gastos com juros somaram R$ 65,2 bilhões, em meio a bloqueios no Orçamento e queda na produção industrial
A transferência de renda da sociedade para os bancos e demais rentistas, via pagamento de juros, avançou em R$ 87,8 bilhões de um ano para o outro, segundo dados de “Estatísticas fiscais”, divulgados pelo Banco Central (BC), nesta sexta-feira (5).
Ao todo, o setor público (União, Estados/municípios e estatais) transferiu R$ 746,9 bilhões (6,80% do PIB) para o sistema financeiro no acumulado de doze meses até fevereiro deste ano. O resultado corresponde a uma alta de 13,3% em relação ao mesmo intervalo de meses do ano passado (R$ 659,1 bilhões).
Só no mês de fevereiro, o setor público gastou R$ 65,2 bilhões com pagamento de juros. No mesmo período do ano passado, o valor foi de R$ 64,2 bilhões
Em fevereiro, o setor público foi deficitário em R$ 48,7 bilhões, um resultado puxado pelo Governo Central, que marcou um déficit de R$ 57,8 bilhões no período. Já os governos regionais e as empresas estatais marcaram superávits de R$ 8,6 bilhões e R$ 483 milhões, respectivamente.
Em doze meses, o setor público consolidado acumula déficit primário (excluído o pagamento de juros) de R$ 268,2 bilhões, equivalente a 2,44% do PIB e 0,19 p.p. superior ao déficit acumulado até janeiro.
Ou seja, a “gastança” do setor público segue sendo impulsionada pela taxa de juros (Selic) do Banco Central (BC), hoje em 10,75% ao ano – o que eleva a dívida pública e aprofunda ainda mais a desigualdade social no Brasil.
Enquanto se transferem uma dezena de bilhões todos os meses para a banca, o aumento do investimento público e privado segue limitado por regras fiscais contracionistas.
No mês passado, a área econômica do governo federal, visando o déficit fiscal zero, realizou um bloqueio de R$ 2,9 bilhões no Orçamento de 2024, que atingiu principalmente as pastas da Cidades (-R$ 741,47 milhões), Transportes (-R$ 678,97 milhões), Defesa (-R$ 446,48 milhões) e Desenvolvimento e Assistência Social (-R$ 281,68 milhões).
Os cortes atingiram ainda os ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (-R$ 118,79 milhões), Justiça e Segurança Pública (-R$ 65,59 milhões) e Portos e Aeroportos (-R$ 52,29 milhões). São bloqueios em investimentos e custeio da máquina pública em um total de 13 ministérios.
O gasto com juros é ignorado pelo clamor neoliberal e “fiscalista”. Não houve no dia de hoje queda na Bolsa de Valores ou qualquer tipo de agitação decorrente deste fato, algo comum quando há anúncios de investimento por parte do governo. Não seria diferente, já que para o chamado “mercado” e seus bajuladores, políticas de austeridade econômica devem prevalecer sobre as necessidade do povo – isto é – para classe trabalhadora e o empresariado produtivo -, mas não para os mais abastados deste país.
Em fevereiro, no País, a taxa de desemprego cresceu para 7,8%, atingindo 8,5 milhões de pessoas, segundo o IBGE. No trimestre encerrado em fevereiro, a indústria demitiu 35 mil pessoas. O setor, que é estratégico para retomada econômica, acumula uma retração de -1,8% em sua produção nos dois primeiros meses de 2024.
No segundo mês de 2024, ainda, ao todo, 169 companhias entraram com recuperação judicial e outras 80 ingressaram com pedidos de falência na Justiça, conforme dados da Serasa Experian, que aponta que 6,7 milhões de empresas estão inadimplentes no Brasil. A inadimplência também atinge 72 milhões de brasileiros, conforme dados da empresa.