“Até porque essa mudança de meio de superávit para zero em 2025 não é nenhuma mudança avassaladora”, afirmou o economista da FGV. “Se o governo tivesse deixado o investimento fora da regra do arcabouço fiscal, nada disso estaria acontecendo”
O professor Nelson Marconi, economista da Fundação Getúlio Vargas, avaliou, nesta sexta-feira (19), em entrevista ao HP, que a pressão que o mercado financeiro está fazendo neste momento visa manter as taxas de juros elevadas. Nos últimos dias quase todos os economistas ligados ao sistema financeiro fizeram parte de uma orquestração uníssona exigindo cortes de investimentos e gastos sociais.
Eles fizeram previsões catastróficas se os cortes de investimentos públicos não forem feitos. Ameaçaram com “explosão” da dívida se o governo não se render aos seus interesses.
Marconi desvendou o que há por trás dessa orquestração do mercado financeiro: “É uma queda de braço para impedir uma redução da taxa de juros”, aponta Marconi. “Até porque essa mudança de meio de superávit para zero em 2025 não é uma nenhuma mudança avassaladora”, destacou.
“O mercado realmente está fazendo um terrorismo com essa questão porque o governo reduziu a meta fiscal dele, que era uma coisa que todo mundo já sabia. Já estava certo que o governo não teria como cumprir a meta anterior”, observou o professor, lembrando que o ajuste pela arrecadação acabou não ocorrendo.
“Já estava certo que o governo não teria como cumprir a meta anterior”
Ele lembrou ainda que “realmente o governo precisava aumentar a receita sobre a renda dos mais ricos, precisava rever uma série de desonerações, isso dentro de um plano maior. Isso precisava ficar claro para o Congresso, numa situação melhor para negociar”.
“O governo não está fazendo isso e tem uma série de despesas que não tem como ele reduzir, Saúde, Educação, coisas que estavam deterioradas no governo passado”, apontou.
“Então”, prosseguiu Marconi, “era líquido e certo que isso ia acontecer, e o mercado, na verdade, está fazendo essa pressão porque ele quer manter os juros num patamar alto. Isso é muito claro. É uma queda de braço para impedir uma redução da taxa de juros”.
“Se o governo tivesse deixado o investimento fora da regra do arcabouço fiscal, nada disso estaria acontecendo”, afirmou o economista.
“Se o governo tivesse deixado o investimento fora da regra do arcabouço fiscal, nada disso estaria acontecendo”
Marconi explicou que se os investimentos tivessem ficado de fora, “o governo (…) teria espaço para cumprir os outros compromissos dele (investimento) do ponto de vista de pagamentos, as despesas obrigatórias, como nós estamos falando”.
“Então, o que conta mesmo para a dívida, que é o juros, o pagamento dos juros, ninguém discute”, prosseguiu o especialista. O Brasil pagou de juros R$ 740 bilhões nos últimos 12 meses.
“Se ele tivesse deixado o investimento de fora, a relação dívida PIB estaria mais estável. O investimento estaria puxando o crescimento da economia e, o mais importante nessa questão toda – e que ninguém fala, a dívida/PIB estaria mais estável. E, logicamente, os juros teriam que estar mais baixos. Os juros ficando altos, a gente vai ter uma despesa financeira muito alta”, completou o professor da FGV.