“Sem gastar um centavo para formá-los”, completou o presidente na solenidade de entrega de aeronave da Embraer à companhia aérea Azul, em São José dos Campos (SP)
O presidente Lula criticou nesta sexta-feira (26) o comportamento da Boeing que se instalou no país “para levar os nossos engenheiros”.
A afirmação do presidente se deu durante pronunciamento na solenidade de entrega de aeronave da Embraer à companhia aérea Azul, em São José dos Campos (SP).
Precisamos “discutir que não é honesto vir aqui roubar nossos engenheiros sem gastar um centavo para formá-los. Somos nós que gastamos dinheiro para formá-los”, sisse Lula.
“A Boeing tentou comprar a Embraer. Teve um piripaque lá nos Boeing, não deu certo. Ela não quis e não pagou sequer o cumprimento do contrato da multa que ela tinha. E instalou aqui um prédio para levar os nossos engenheiros”, prosseguiu o presidente, em referência à necessidade do país investir na educação, especialmente na formação profissional da juventude.
“Não é correto a gente formar engenheiro, investir dinheiro, e depois vir alguém aqui comprar da gente”, observou Lula, fazendo uma comparação com a saída do país de craques do futebol muito cedo pra o exterior, após eles formarem suas habilidades aqui dentro.
“Não é que a gente quer impedir alguém de trabalhar lá fora. Muito pelo contrário”, ressalvou. Mas este país “precisa de muita educação para a gente poder se transformar na nação que nós precisamos ser”.
Lula defendeu o estímulo a que empresas de aviação comprem mais aeronaves da Embraer e mostrou como a imensidão do Brasil demanda que a aviação esteja preparada para absorver estas necessidades.
“Ao invés de a gente querer viajar pra ver o Museu Louvre em Paris, ao invés de a gente querer viajar pra Disney, que é muito importante, era preciso que o nosso povo conhecesse o Brasil”, ressaltou.
“As coisas grandes são o resultado de muita coragem, não é com covardia”
“Era importante que os jovens brasileiros tivessem a preocupação de conhecer os biomas brasileiros. O que é a Caatinga, o que é os Pampas, o que é o Pantanal, o que é a Mata Atlântica, o que é a Amazônia. Quantos voos foram feitos de turismo para a Amazônia? Nenhum. Nenhum. As pessoas passam por cima da Amazônia e vão pra Europa e vão pros Estados Unidos, mas não vão pra Amazônia. Porque nós temos culpa, nós”.
“Eu estou dizendo nós, governo, nós empresários, nós ministros, porque se a gente não falar e não despertar na cabeça das pessoas a necessidade econômica e a ideia de eles ficarem conhecendo o seu país, ele não vai”, explicou.
“É pra fazer com que esse país deixe de ser um eterno país em vias de crescimento e se transforme num país rico”, salientou e completou: “Num país em que os trabalhadores possam estudar, possam trabalhar, com salário pela sua qualificação profissional. Está tudo ao nosso alcance. Então, nós precisamos mudar um pouco de comportamento. É quase que a gente fazer um novo aprendizado sobre o Brasil”.
Lula defendeu que é preciso pensar grande, a exemplo da criação da Embraer, para o Brasil crescer. “Um país que tem uma Embraer, um país que tem uma cidade como São José dos Campos”, exaltou, “um país desse não pode pensar pequeno e não pode sonhar pequeno. Se a gente sonha pequeno, eu disse hoje à tarde, a gente nem lembra do sonho quando a gente levanta”.
Ele lembrou o papel audacioso de pessoas como Ozires Silva, que criou a Embraer, e destacou a importância do sonho e da coragem para vencer os obstáculos.
“É preciso sonhar grande. Se o Ozires (Ozires Silva, cofundador da Embraer) não tivesse pensado grande, a gente não teria a Embraer. Se o Brigadeiro Montenegro (Casimiro Montenegro Filho) não tivesse pensado grande, a gente não tinha o ITA. Ou seja, as coisas grandes são o resultado de muita coragem, não é com covardia”.
INDÚSTRIA DE DEFESA
Antes de visitar a Embraer, Lula também esteve no ITA, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica.
“Tudo isso exige que a gente tenha um pouco de responsabilidade na construção de uma indústria de defesa muito forte”
Ele chegou de avião ao aeroporto da cidade por volta das 14h30, após cumprir agenda em Minas Gerais. Ao desembarcar em São José, o presidente foi ao ITA e ao IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço). Acompanhado de ministros e do comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, conversou com alunos e militares.
Ele discursou para os estudantes do ITA em que destacou a importância de investimentos na indústria de defesa e na posição do Brasil na geopolítica internacional.
“Tudo isso exige que a gente tenha um pouco de responsabilidade na construção de uma indústria de defesa muito forte. Uma indústria de defesa é pra gente evitar guerra, não é pra gente fazer guerra. Uma indústria de defesa é para as pessoas saberem que o Brasil está preparado e que através dessa indústria de defesa a gente pode ter projeto e pode ter decisões cientificas e tecnológicas pra ajudar outro ramo da indústria brasileira”, disse o presidente.
“Pra isso, nós temos que colocar na cabeça que nós temos que investir em pesquisa. Nós temos que formar mais cientistas, formar mais engenheiros, mais matemáticos, porque se não esse Brasil com 8,5 milhões de km², com a maior reserva florestal do mundo, com 12% da água doce do planeta terra, com tanta fronteira e 200 milhões de habitantes, passa a ser um país vulnerável, um país frágil, um país que tenha dificuldade até de se defender”, completou.