Qual a relação da pressão sanguínea com o PIB? Foi o que nosso laboratório na UFMA, com competentes pesquisadores Hitoshi Nagano, Jose Puppim e Altair Costa Junior, resolvemos estudar
ALLAN KARDEC (*)
Se o Produto Interno Bruto (PIB) de um país subir, o que acontece com a pressão sanguínea da população, coletivamente? O que tem essa pergunta a ver com o que comemos e o que bebemos? Foi o que nosso laboratório na UFMA, com competentes pesquisadores Hitoshi Nagano, Jose Puppim e Altair Costa Junior, resolvemos estudar.
O aumento da pressão sanguínea, também conhecida como hipertensão, pode ter várias consequências sérias para a saúde se não for controlado adequadamente. A hipertensão pode causar espessamento das artérias, levando a doenças cardíacas, como angina ou infarto do miocárdio.
Igualmente, a pressão alta pode levar a um bloqueio ou rompimento dos vasos sanguíneos no cérebro, resultando em um acidente vascular cerebral (AVC). Pode também danificar os vasos sanguíneos dos rins, afetando suas funções de filtragem e podendo evoluir para uma doença renal crônica.
Por outro lado, pode danificar os vasos sanguíneos da retina, levando a problemas de visão ou mesmo à cegueira. Enfim, a hipertensão prolongada pode afetar a capacidade cognitiva, contribuindo para a demência.
A “Curva de Kuznets” é um conceito econômico que descreve a relação inicialmente inversa entre o desenvolvimento e a desigualdade econômica. Nomeada em homenagem ao economista Simon Kuznets, a teoria sugere que à medida que uma nação se industrializa e seu nível de renda per capita cresce, a desigualdade de renda aumenta inicialmente e depois começa a diminuir após atingir um certo ponto de maturidade econômica.
A teoria foi formulada pela primeira vez na década de 1950, baseada em dados observacionais disponíveis naquela época. Ele propôs que nos estágios iniciais do desenvolvimento econômico, quando um país começa a se industrializar, poucos setores dominam o crescimento econômico, o que resulta em grandes ganhos para certos segmentos da população, enquanto a maioria permanece com renda relativamente baixa. Isso cria um aumento na desigualdade de renda.
No entanto, à medida que a economia continua a se desenvolver e se diversificar, mais pessoas começam a participar dos benefícios do crescimento econômico. Melhorias na educação, urbanização e a criação de uma classe média mais robusta ajudam a distribuir a renda mais uniformemente. Como resultado, a desigualdade de renda começa a diminuir.
Nossos estudos, que denominamos “Kuznets do Coração”, mostraram que o desenvolvimento econômico afeta diretamente a pressão arterial sistólica (PAS), ou seja, de uma forma resumida: em países de baixa renda, como Moçambique, Uganda e Tailândia, a pressão se elevou de acordo com o crescimento do PIB, enquanto ela caiu nos países de alta renda, como Luxemburgo, Bélgica e EUA.
Por que isso acontece? Especulamos que a transição para economias mais ricas geralmente envolve mudanças no estilo de vida e na dieta. Enquanto nos países de baixa renda, prioriza-se o consumo de alimentos ricos em açúcar, nos ricos, a população consome prioritariamente proteínas e alimentos mais complexos.
A correlação entre renda e pressão arterial tem implicações significativas para políticas e estratégias de saúde pública. Compreender essa relação pode ajudar os formuladores de políticas a projetar intervenções eficazes para promover a saúde cardiovascular e reduzir a carga de condições relacionadas ao coração.
A outra conclusão é que necessitamos aumentar a renda da população e o PIB dos países pobres e, obviamente, das regiões pobres. Qual a razão de negar ao pobre o aumento de sua renda, quando existe essa possibilidade?
*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar. Artigo publicado no Imirante.com