Em mais um julgamento em massa, desta vez com 739 réus, uma Corte egípcia condenou 75 membros da organização Irmandade Islâmica à morte. Os demais réus também são em sua maioria filiados ou pertencem à área de influência da Irmandade.
O julgamento se deu no dia 8 e tratou dos manifestantes presentes ao acampamento em oposição ao governo do general Al Sisi, que tomara posse após derrubar o governo eleito de Mohamed Morsi, também integrante da Irmandade.
Logo depois da assenção de Sisi ao poder estes opositores montaram uma manifestação em forma de acampamento que durou de 3 de julho a 14 de agosto de 2013, dia em que tanques avançaram sobre a aglomeração na praça Rabaa al-Adawiya, no Cairo.
MASSACRE
A dispersão usou bombas de gás lacrimogêneo e tiros com munição viva para acabar com o ato. Segundo os articulistas Adham Youssef e Ruth Michaelson, em matéria para o jornal inglês, The Guardian, 817 manifestantes foram mortos no dia 14 de agosto de 2013.
O próprio teor dos veredictos proferidos pelo juiz Hassan Farid el-Shami, mostra o estado de arbitrariedade no qual o governo de Al Sisi mergulhou o país. As penas de morte em massa foram atribuídas por ações que vão de assassinatos, a incitamento à quebra da lei, filiação a grupo banido ou por participação em reunião ilegal.
Outros 47, entre eles o principal líder da Irmandade, Mohammed Badie, foram condenados a prisão perpétua. 374 réus receberam a pena de 15 anos de reclusão, 22 outros de 10 anos. Todos os veredictos são passíveis de apelação.
O juiz também sentenciou oputros 215 réus, incluindo o fotógrafo, Mahmud Abu Zeid, conhecido por Shawkan, a cinco anos. Segundo o advogado Karim Abdel Radi, estes já podem ser liberados uma vez que estão presos desde o início do processo há cinco anos.
Shawkan foi preso simplesmente por estar cobrindo o acampamento e fotografar a repressão. A cobertura era para a agência inglesa Demotix.
Uma mulher, parente do prisioneiro Yassin, um dos condenados à morte, declarou que “os veredictos são absurdos e injustos; os que escaparam do morticínio em Raba agora são condenados à morte”.
Enquanto isso, um silêncio paira sobre as paralisadas investigações sobre os autores do massacre. Além disso, Al Sisi, baixou um decreto dando imunidade aos oficiais, livrando-os de indiciamento relativo a atitudes durante os eventos de descontentamento que se seguiram à deposição de Morsi.
NASSERISMO
Hamdeen Sabahi, uma das principais lideranças que assume a herança da Revolução comandada por Gamal Abdel Nasser, em evento realizado no dia 27 de agosto, organizado pelo Movimento Civil Democrático, que resulta da aliança de várias forças seculares e progressistas, chamou todos os egípcios a “se erguerem contra o domínio atual”.
Acrescentando que as autoridades atuais “empobreceram os egípcios e se subordinam a potências estrangeiras” e, diante disso, “mudar este governo é uma obrigação para todos os egípcios”.
Imediatamente Sabahi tornou-se alvo de 12 processos que incluem desde “insulto ao presidente” até “incitamento para derrubar o governo”.
Organizações de direitos humanos denunciam que desde a posse de Al Sisi já foram presos 46 mil por oposição ao seu governo dos quais 176 são parlamentares. Um dos presos é o porta-voz do movimento dirigido por Sabahi, Massum Marzouk, que chamou os egípcios a reocuparem a praça Tahrir, a exemplo do movimento em que multidões exigiram e obtiveram a deposição do governo antipopular de Hosny Mubarak.