![](https://horadopovo.com.br/wp-content/uploads/2024/04/Dmitry-Peskov-adverte-EUA-contra-roubo-de-seus-ativos-AFP-1.jpg)
Em paralelo ao congelamento de seus ativos, a Rússia decretou a transferência temporária dos ativos da Bosch alemã e da italiana Ariston para uma subsidiária da Gazprom, o que causou urticária em Roma, Berlim e Bruxelas
Confiscar bens russos seria um prego no caixão de todo o sistema econômico ocidental, advertiu o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
“Se isso acontecer, se for criado um precedente tão perigoso, será um prego muito forte no futuro caixão de todo o sistema econômico ocidental”, disse Peskov em uma entrevista ao jornalista russo Pavel Zarubin.
A declaração se deve à aprovação, pelo Congresso dos EUA, de uma lei que é parte do pacote de socorro de Washington ao regime neonazista de Kiev, que “autoriza” a confiscar recursos do BC russo que foram ilegalmente congelados pelos EUA em 2022, como parte das sanções que visavam arrasar economicamente a Rússia por agir para impedir a limpeza étnica contra a população de fala russa do Donbass e para desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia, sob controle dos neonazistas e de Washington desde o golpe de Maidan de 2014.
Peskov assinalou que os investidores estrangeiros e países do mundo inteiro vão reconsiderar investir o seu dinheiro no Ocidente se este for em frente com a apreensão de ativos russos, sancionada pelo Congresso dos EUA na semana passada.
“É claro que os investidores estrangeiros, os Estados estrangeiros que mantêm as suas reservas em ativos destes países, de agora em diante pensarão dez vezes antes de investir o seu dinheiro”, disse Peskov. “A confiabilidade desaparece da noite para o dia, devido a uma decisão impensada. Ela só é restaurada [depois] de décadas, ou até mais.”
O porta-voz sublinhou que, no caso de apreensão de ativos russos congelados no Ocidente, a Rússia retaliaria prontamente. “É claro que tais decisões terão perspectivas judiciais muito amplas. E, claro, a Rússia utilizará essas perspectivas judiciais e defenderá incessantemente os seus interesses neste campo”, disse Peskov.
Na verdade, a parte dos ativos russos que ficou congelada em bancos dos EUA é de US$ 5 bilhões, com a maior parte dos US$ 300 bilhões estando sob jurisdição europeia.
LEI DA “PAZ PELA FORÇA” EM PLENO SÉCULO 21
Como destacou o analista político indiano e ex-embaixador, M. K. Bhadrakumar, a assim chamada “Lei da Paz pela Força” em pleno Século 21” – um sugestivo nome, para imperialista nenhum botar defeito – no entender de Moscou visa, em primeiro lugar, “forçar a UE a uma trajetória semelhante e, assim, destruir quaisquer perspectivas residuais de reconciliação entre a Rússia e a Europa durante muito tempo”; em segundo lugar, “fornecer os meios para, em última análise, utilizar os ativos congelados russos para gerar negócios para o complexo militar-industrial dos EUA”; e três, “em termos geopolíticos, criar um precedente em qualquer confronto futuro entre o Ocidente e a China”.
Significado apreendido pela China, segundo indica comentário do Global Times de que “se o projeto de lei [sobre ativos russos] finalmente se tornar legislação e entrar em vigor, estabelecerá um precedente desastroso contra a ordem financeira internacional existente”.
“LADRÕES”
Em fevereiro, quando se intensificaram as manobras em Washington e na União Europeia para por em prática o confisco, a Rússia já alertara os aprendizes de feiticeiro de que iria dar uma “resposta muito dura”, com a porta-voz da diplomacia Maria Zakharova detalhando que a Moscou trataria o Ocidente como “ladrão”, segundo a agência de notícias TASS.
“Isso é roubo. Isso é apropriação indébita do que não lhes pertence”, assinalou a porta-voz, reagindo à adoção, pela União Europeia, de uma “lei” para surrupiar lucros inesperados obtidos dos ativos do Banco Central russo agora congelados no sistema financeiro europeu.
“Haverá medidas retaliatórias, que, eu gostaria de reiterar, serão muito duras. Dado que nosso país categorizou [as ações do Ocidente] como roubo, a atitude tomada será aquela tomada em relação aos ladrões. Não para manipuladores políticos, não para sabichões ou orquestradores que superaram sua mão, mas precisamente para ladrões”, enfatizou Zakharova.
O Ocidente está tentando confiscar ativos russos para compensar os pesados custos de manter “o sangrento conflito ucraniano e o regime de Kiev”, acrescentou.
Inicialmente, estão pretendendo saquear lucros indevidos – os juros sobre os fundos congelados – para financiar a guerra por procuração na Ucrânia.
Outro aviso partiu do ex-presidente russo e vice-presidente do Conselho Nacional de Segurança, Dmitry Medvedev: a resposta de Moscou ao confisco de ativos russos nos EUA será “dolorosa”.
Medvedev explicou por que Moscou não pode dar uma “resposta completamente simétrica” às ações dos EUA, o que se deve a que a desdolarização na Rússia avançou a tal ponto que não há ativos soberanos norte-americanos na escala necessária. Mas há mecanismos para exercer a resposta à guerra híbrida decretada por Washington.
ASSIMÉTRICO
O anúncio de uma medida assim, em que dois fabricantes europeus, um alemão, a Bosch, e outro, italiano, a Ariston, tiveram decretada pelo governo russo a transferência temporária de seus ativos para uma subsidiária da Gazprom, causou urticária em Roma, Berlim e Bruxelas.
As fábricas estavam praticamente fechadas e, agora, tanto a produção, quanto os empregos, estão garantidos.
A reação mais estridente foi da Itália, cujo ministro das Relações Exteriores convocou o embaixador extraordinário russo em Roma para dar “explicações”.
“A Gazprom é uma entidade empresarial sólida. Esta é a resposta absolutamente correta de Moscou às ações do Ocidente em relação aos ativos estatais russos”, disse o vice-presidente do Comitê de Política Econômica do Conselho da Federação Russa, Konstantin Dolgov.
“O mais importante nesta situação é que a economia russa funcione e que sejam criados empregos. A Ariston já abandonou efetivamente o mercado russo e desistiu de ativos, instalações de produção e trabalhadores qualificados. É claro que a Rússia não pode permitir que os trabalhadores destas fábricas fiquem sem rendimentos. Além disso, é um sacrilégio suspender as atividades de boas fábricas, acrescentou Dolgov”.
Para o parlamentar russo, “a posição do governo italiano em relação ao roubo de ativos russos parece muito provocativa. Ainda é difícil prever que outros ativos estrangeiros serão assumidos pelas nossas empresas nacionais. Penso que as nossas autoridades estatais irão abordar esta questão num futuro próximo. O processo foi posto em ação e ninguém irá pará-lo.”