As mortes praticadas pelas polícias Civil e Militar de São Paulo batem recordes atrás de recordes durante a gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos) no governo de São Paulo. No primeiro trimestre deste ano, na Baixada Santista houve um crescimento de 394% comparado ao mesmo período de 2023.
Foram 84 vítimas, o maior número para os meses de janeiro a março dos últimos 11 anos, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP). Em 2023, no mesmo período foram contabilizadas 17 vítimas.
Até então, 2020 era o ano com o maior número de mortes praticadas pelas forças de segurança pública na região, com 29 casos, ao comparar o primeiro trimestre de cada ano.
A Baixada Santista é formada por nove municípios: Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande, Santos e São Vicente.
Essa situação se reflete em todo o Estado e não é uma conduta isolada no litoral paulista. O número de pessoas mortas por policiais militares em serviço no Estado de São Paulo cresceu 138% no 1º trimestre de 2024 em comparação com o mesmo período do ano anterior. Foram 179 casos de janeiro a março ante 75 nos mesmos meses de 2023.
Conforme o documento, outras 32 pessoas foram mortas por policiais militares de folga no período. Ao todo, 7 PMs foram mortos, sendo 3 em serviço e outros 4 de folga.
Para especialistas ouvidos pelo portal A Ponte, o que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o secretário Guilherme Derrite estão promovendo no Estado é desastroso.
“Não se combate o crime organizado colocando a população como todo na mira do fuzil”, critica Debora Maria da Silva, fundadora do Movimento Independente Mães de Maio e pesquisadora do Centro de Arqueologia e Antropologia Forense da Universidade Federal de São Paulo (Caaf/Unifesp). “O que a gente assistiu e assiste até o dia de hoje é a truculência por parte dos policiais em cima de uma população pobre indefesa, a maioria negros e trabalhadores empobrecidos. A violência se expandiu de tal forma e sem controle porque tem o aval do governo do estado e do seu secretariado”, prossegue.
De acordo com o pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Dennis Pacheco o governo Tarcísio atua na contramão de políticas públicas respaldadas por evidências. “A política do campo de segurança do governo atual está completamente dissociada da perspectiva da promoção de direitos, especialmente do direito à segurança, do direito à vida e do direito à não discriminação”, afirma. “O que a gente tem observado é justamente o contrário. É um conjunto de atuações discriminatórias, de de desrespeito ao direito à vida, altamente letais e sem qualquer proporcionalidade.”
O aumento de mortes na Baixada Santista aconteceu especialmente nas atividades da Operação Verão e da Operação Escudo.
O reforço do efetivo policial na Baixada Santista, denominada de Operação Verão, costuma ocorrer todos os anos de dezembro a fevereiro, por conta do aumento da circulação de pessoas nas praias durante o período. Porém, a violência policial na região escalou após os assassinatos de três policiais militares, especialmente depois que o soldado Samuel Wesley Cosmo foi morto durante um patrulhamento no dia 2 de fevereiro, em Santos. Ele integrava as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), a força especial da PM paulista e a única que pode atuar em todo o estado. A operação foi dividida em três fases e foi prorrogada até março.
Esse batalhão matou 19 pessoas em dois meses, o equivalente à metade do que matou (38) no ano inteiro de 2023, com base no levantamento do Ministério Público de São Paulo (MP-SP).
A título de comparação, a Rota matou uma pessoa em Santos. Mas no dia seguinte ao assassinato de Cosmo, os policiais mataram cinco pessoas, sendo quatro delas em Santos e uma em São Vicente. Foram 17 vítimas na Baixada até 19 de fevereiro. Já em março, foram duas.
O mesmo modus operandi aconteceu na Operação Escudo, deflagrada em 28 de julho de 2023, um dia após o assassinato do soldado Patrick Bastos Reis. Ele também integrava a Rota e foi baleado em serviço no Guarujá. No dia 28, os policiais desse batalhão mataram três pessoas. No dia seguinte, mais três. Outras duas nos dias 30 e 31 de julho. Todas na mesma cidade.
Por conta da alta letalidade policial, em 8 de março, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi acusado no Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), durante reunião realizada em Genebra, na Suíça. Questionado, Tarcísio disse à época não estar “nem aí” para as acusações.