No acumulado de 12 meses, recursos públicos transferidos para o sistema financeiro somam R$ 745,7 bilhões
Em março de 2024, o setor público (União, Estados/municípios e estatais) gastou mais R$ 64,2 bilhões para o pagamento de juros da dívida pública, segundo dados de “Estatísticas fiscais” do Banco Central (BC), divulgados na segunda-feira (6).
No acumulado em doze meses, até março deste ano, foram R$ 745,7 bilhões (6,76% do PIB) de recursos públicos – da saúde, educação, saneamento, segurança pública, salários, prevenção de desastres, moradias populares – transferidos para pagamento de juros a bancos e demais rentistas. Em 12 meses até março de 2023, o montante tinha sido de R$ 693,6 bilhões (6,71% do PIB).
O avanço no sequestro dos recursos públicos para o pagamento de juros ocorre por conta do próprio BC, que define a taxa básica de juro (Selic), que segue em nível escorchante, hoje em 10,75% ao ano, para inibir os investimentos públicos e privados, o consumo de bens e a geração de emprego no país – seguindo a velha tese liberal de combate à inflação. Os recursos desviados para os bancos são prioridade absoluta. Uma prioridade maior do que aquela que está sendo dada à tragédia do Rio Grande do Sul.
Entre hoje e quarta-feira (8), o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC realiza nova reunião para definir os rumos da taxa Selic. A cada um ponto percentual (p.p) acrescido ou diminuído na Selic corresponde a R$ 48,9 bilhões de impacto na Dívida Líquida do Setor Público (DLSP), ou R$ 44,8 bilhões a menos ou a mais na Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), segundo números do BC.
No entanto, as pressões dos agentes do mercado financeiro são para que o BC, com aval do presidente, Campos Neto, paralise ou reduza ainda mais o nível de corte na Selic, que vem ocorrendo em apenas 0,5 ponto percentual (p.p), a cada reunião realizada desde agosto do ano passado.
Em defesa da manutenção dos juros nas alturas, Campos Neto atacou o emprego e os salários, revelando que seu objetivo é a recessão. Chegou a inventar que o país vive o “pleno emprego”, mas, segundo o IBGE, há 8,6 milhões de trabalhadores desempregados no país.
Os representantes de bancos e instituições financeiras, consultados pelo BC, revisaram para cima as suas projeções para a Selic no final deste ano, de 9,50% para 9,63%, segundo o Boletim Focus do Banco Central (BC), divulgado ontem (6). Deste modo, com a revisão para baixo da inflação projetada este ano pelo “mercado” nesta semana, de 3,73% para 3,72%, os juros reais (Selic descontada a inflação) voltam a avançar e encarecer ainda mais o custo do crédito no Brasil.
O Brasil é o segundo colocado entre os países com as maiores taxas de juros reais do mundo, ficando atrás apenas do México, segundo o site Moneyou. Neste quadro, só quem ganha também são os bancos.
No primeiro trimestre deste ano, o Itaú Unibanco obteve um lucro de R$ 9,77 bilhões, alta de 15,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Já o Bradesco lucrou R$ 4,2 bilhões no primeiro trimestre de 2024, aumento de 46,3% em comparação com o trimestre imediatamente anterior.
Por outro lado, o ritmo da indústria, comércio e serviços segue fraco, com mais queda dos que altas em suas operações ao longo dos últimos anos, por conta de uma economia que padece de investimentos públicos – único instrumento capaz de alavancar os investimentos privados no país – e de acesso ao crédito com taxas de juros civilizadas..