Juro real no Brasil é segundo maior do planeta, incompatível com a retomada do crescimento da economia, geração de emprego e renda, afirmam federações da indústria
Entidades da indústria avaliam que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de reduzir o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic), uma redução de 0,5 ponto para 0,25 ponto percentual (p.p), é incompatível com a retomada do crescimento da economia e prejudica 8o plano de reindustrialização do país.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a decisão do Copom, em reunião na quarta-feira (8), não reflete o cenário atual de inflação no Brasil, que está sob controle, e impede a redução da taxa de juros real (descontada a inflação), hoje próximo dos 7% ao ano. De acordo com o site MoneYou, o juro real no Brasil é o segundo maior do mundo.
“É impraticável a continuidade do projeto de neoindustrialização com altos níveis de taxa de juros”, critica o presidente da entidade, Ricardo Alban. “Reduzir o ritmo de corte da taxa básica tira a oportunidade de o Brasil alcançar mais prosperidade econômica, aumento de emprego e de renda”, afirmou Alban.
A Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB) alerta que a decisão do Copom pode levar ao “arrefecimento do processo de flexibilização da política monetária”.
“Entendemos como de fundamental importância a manutenção do ritmo de queda da taxa SELIC, de forma que os juros possam alcançar níveis compatíveis para a retomada do crescimento sustentado”, disse a FIEB. “Importante destacar que a taxa de juros básica no Brasil permanece em nível bastante elevado – 10,50% a.a., com uma taxa real superior a 6% a.a. (descontada a inflação), uma das mais altas do mundo”, criticou por meio de nota.
A CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), em análise sobre a redução no ritmo de queda da Selic, destacou que “os juros elevados continuam afastando recursos da caderneta de poupança, importante fonte de financiamento imobiliário”, disse.
“Nos primeiros quatro meses de 2024 a captação líquida foi negativa em mais de R$22 bilhões. Desde 2021, até abril/24, a caderneta de poupança já perdeu 210,406 bilhões. Este resultado acaba refletindo em menor disponibilidade de recursos para o financiamento da casa própria”, constatou a CBIC.
“A Selic elevada deixa os juros bancários ainda mais altos, afastam investimentos dos setores produtivos e pioram as contas públicas, em função do alto patamar das despesas com juros das dívidas. Em resumo, os juros altos não favorecem o desempenho da economia nacional e representam mais investimentos financeiros e menos renda e emprego, portanto, menor crescimento”, criticou a representante do setor de construção.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), também avalia que a “redução de 0,25 ficou aquém das expectativas e das necessidades da economia brasileira”. “ Há necessidade de maiores cortes na taxa de juros”, cobra a entidade.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) também ressalta que a redução da velocidade de corte da Selic pelo Copom foi “inadequada”. “A queda de apenas 0,25 ponto percentual não está alinhada com o atual cenário econômico”, critica Firjan. “A manutenção da taxa de juros em níveis elevados tem afetado a confiança dos empresários na economia brasileira, prejudicando o investimento, essencial para o crescimento econômico sustentável”, declarou em nota.