O economista e ex-presidente do Conselho Federal de Economia (COFECON), Antonio Corrêa de Lacerda, avalia que a decisão do Copom do Banco Central (BC), de reduzir os juros em apenas 0,25 ponto percentual prejudica a dívida do Setor Público (do governo federal, governos estaduais/municipais e estatais).
A decisão do Copom “foi ruim”, criticou o professor da PUC/SP. “Há o impacto sobre as próprias contas públicas. No ano passado, o Estado pagou 720 bilhões de reais para pagar sua dívida, em grande parte atrelada à Selic, lembrou Corrêa de Lacerda, ao comentar o tema no “Jornal da Cultura”, da TV Cultura, na última quinta-feira (09).
“Cada ponto, meio ponto, 0,25, faz diferença sobre as contas públicas”, também lembrou o economista. “Uma redução no ritmo de queda da taxa de juros significa que na ponta os juros não só do mercado futuro, mas também ao tomador final, tendem a ficar mais conservador”, observou Lacerda.
Na última quarta (8), o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu reduzir o ritmo de corte na taxa básica de juros da economia (Selic), de 0,5 ponto percentual – firmado a cada reunião do colegiado desde agosto de 2023 – para 0,25 ponto percentual.
Com o voto de minerva dado pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, foram 5 votos favoráveis à redução do ritmo da queda da Selic contra 4 votos contrários. Destaca-se, que todos os votos favoráveis à desaceleração no corte da Selic foram de membros do BC indicados no governo de Jair Bolsonaro.
Questionado sobre a influência do governo para os votos contrários à redução do ritmo de corte da Selic por quatro diretores indicados pelo presidente Lula, Corrêa de Lacerda afirmou que, “aqueles que optaram por 0,25 também têm uma influência política do chamado mercado”.
“Ninguém sabe direito que entidade é essa, mas é o mercado financeiro, que tem seus porta-vozes na mídia e que tendem a fazer uma profecia autorrealizável. Na medida em que fazem um prognóstico de redução menor da taxa de juros, isso acaba se configurando na prática. Forma-se opinião, o chamado consenso, e sabemos que todas as decisões no âmbito da economia política refletem pressões de grupos de interesse”, observou.
A economista e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carla Beni, também teceu críticas a decisão do Copom. Ao “Jornal da Cultura”, a professora destacou que o Copom tinha espaço para ampliar os cortes na taxa base, por que o IPCA – índice oficial de inflação medido pelo IBGE – indica queda da inflação no Brasil.
“Essa desinflação, medida pelo IPCA, sinaliza uma queda na taxa real de juros”, explicou Beni, que, por decorrência da quebra do ritmo de corte da Selic, avalia que a taxa do juro real (quando descontada a inflação) seguirá elevada no final do ano.
“Agora nós estamos projetando para o final do ano uma taxa real de juros de 5,9%. Isso é um estrangulamento enorme do setor produtivo”, criticou Carla Beni.
Com a decisão do Copom do Banco Central (BC), o juro real, o que interessa para a economia, subiu. Em março deste ano, a taxa estava em 5,90%. Agora, com a Selic saindo de 10,75%, em março, para 10,50%, nesta última semana, e na quarta expectativa de baixa da inflação, o juro real foi para 6,54%, segundo a consultoria financeira Moneyou.
Assim, o Brasil se firma na segunda colocação entre os países com a maior taxa de juro real do planeta, ficando atrás apenas da Rússia (7,79%), também de acordo com o site Moneyou. A média do juro real das 40 economias pesquisadas pela consultoria é de 0,12%.