PSDB toma três tombos em dois dias
Perillo (GO) acionado por desviar 2,1 bi do ensino. Acabou foro privilegiado
No dia em que o ex-governador do Paraná, Beto Richa, foi preso, na 53ª fase da Operação Lava Jato, o candidato a presidente do partido de Richa, Geraldo Alckmin, declarou: “Tolerância zero e todo apoio à Lava Jato! A lei é para todo mundo, não interessa de que partido é. Quem deve, paga, é punido”.
Muito legalzinho, como diria o saudoso Stanislaw Ponte Preta.
Só que, se continuar desse jeito, em breve Alckmin estará sem partido – por falta de gente fora da cadeia.
No dia seguinte – quarta-feira – a Polícia Federal deslanchou a Operação Vostok, executando mandado de busca na casa do governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, também do PSDB.
Também na quarta, o Ministério Público de Goiás entrou com uma ação contra o ex-governador Marconi Perillo, outro luminar do PSDB. Um trecho da denúncia:
“Como resultado da conduta dolosa do requerido [Perillo] perpetuada ao longo de quase todo o seu mandato, foi retirado da educação do Estado de Goiás o expressivo montante de R$ 2.182.345.466,70 [dois bilhões, 182 milhões, 345 mil, 466 reais e 70 centavos], que, por comando expresso da nossa Constituição Federal, deveria ter sido aplicado ‘nas ações de manutenção e desenvolvimento do ensino’.”
Perillo lançava “restos a pagar não processados” como se fossem investimentos em educação. Escreve a promotora Villis Marra:
“Ficou cabalmente comprovado que o requerido [Perillo], ardilosamente, lançou mão de várias manobras contábeis para manipular dados financeiros e simular o cumprimento da aplicação do mínimo constitucional na área da educação (grifo no original).
“A conduta do requerido Marconi Perillo, no exercício do cargo de Governador do Estado de Goiás, feriu frontalmente os postulados administrativo-constitucionais da moralidade, da legalidade e da eficiência, além de caracterizar violação ao dever de lealdade às instituições.”
O CLÃ
A Operação Piloto recebeu esse nome porque, nas planilhas de propina da Odebrecht, “piloto” era o codinome de Beto Richa.
Sua prisão – e mais a da sua mulher, Fernanda Richa, ex-secretária da Família e Desenvolvimento Social do marido; seu irmão, Pepe Richa, ex-secretário de Infraestrutura; e mais três membros do círculo íntimo de Richa – foi devida ao recebimento de R$ 2,5 milhões em propina.
Nos depoimentos dos funcionários da Odebrecht foi revelado um acerto com Richa para que este recebesse R$ 4 milhões.
Em troca, Richa e sua quadrilha favoreciam a Odebrecht nas “parcerias público-privadas” (PPP) – essas mesmas que Alckmin pretende aumentar em todo o país, se for eleito, como fizeram Lula e Dilma… (v. Ex-governador tucano Beto Richa é preso no Paraná).
POLO SUL
Em maio de 2017, Joesley Batista revelou que passara propinas para três governadores do Mato Grosso do Sul: Zeca do PT, André Pucinelli (MDB) e Reinaldo Azambuja (PSDB).
O primeiro está tentando se manter fora da cadeia, sob uma cascata de denúncias, mas tem, como deputado, “foro privilegiado”, e quer prorrogá-lo nas próximas eleições.
O segundo está preso por roubar dinheiro público, com uma folha corrida que lembra a de um colega de partido e de cargo: Sérgio Cabral.
O terceiro ainda é governador – e por isso ainda não foi preso, protegido pelo famigerado “foro privilegiado”.
Porém, segundo a PF e os procuradores, o esquema é o mesmo, que passou de governador para governador.
Até o fechamento desta edição, na quarta-feira, dia 12/09, à noite, a PF já prendera 11 implicados, dos 14 que tiveram a prisão decretada, inclusive o filho de Azambuja.
Os acusados recebiam propinas e lavavam o dinheiro através de notas frias. Em troca, o governo do MS concedia privilégios fiscais (isenções de impostos) a empresas, sobretudo à JBS.
Azambuja e seus asseclas receberam R$ 67.791.309,00 [sessenta e sete milhões, 791 mil e 309 reais] de propina, causando um rombo nos cofres públicos de R$ 209.750.000,00 [duzentos e nove milhões e 750 mil reais]. Isso é o que foi provado, até agora.
Rodrigo, o filho do governador, conhecido como “príncipe”, era o operador do pai.
A investigação da PF constatou que até 30% dos “incentivos fiscais” da JBS iam para a quadrilha de Azambuja.
O nome da operação (Vostok) não é devido à famosa espaçonave soviética, mas à estação russa de mesmo nome, na Antártida, que, segundo os policiais, é tão fria quanto as notas emitidas pelo grupo tucano no MS (v. MS: PF cumpre mandato na casa de Azambuja).
FILA
Resta saber quem será o próximo tucano a conhecer a cadeia.
Vejamos uma nota recentemente publicada em um jornal paulista que apoia o candidato do PSDB à Presidência da República:
“Ao oferecer ação civil pública contra o ex-governador e candidato à Presidência da República Geraldo Alckmin (PSDB), o ex-secretário de Planejamento Marcos Monteiro, a Odebrecht, e outros quatro, o promotor do Patrimônio Público e Social – braço do Ministério Público de São Paulo – Ricardo Manuel Castro pediu liminarmente o bloqueio de todas as contas, imóveis e veículos dos investigados no valor de até R$ 39,7 milhões. Alckmin, seu ex-secretário, a empreiteira e os outros são acusados de improbidade administrativa envolvendo supostos repasses na campanha de 2014. O promotor vê prejuízo de R$ 9,9 milhões aos cofres públicos”.
Houve nove entregas de dinheiro ao esquema de Alckmin, pela Odebrecht.
Diante disso, a direção do PSDB anunciou que está “estudando” (tucano sempre está “estudando”) entrar com uma representação, no Conselho Nacional do Ministério Público, contra o promotor.
O tucano Gilmar Mendes, nomeado por Fernando Henrique para o STF, disse que “é preciso colocar freios” no Ministério Público – e criticou o “hiperativismo judicial” (um dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Paraná comentou: “o Gilmar prefere o inativismo judicial”).
Pois nós temos uma sugestão: seguir o que disse o candidato a presidente do PSDB, que, por coincidência tem o mesmo nome do ex-governador paulista que recebeu a propina da Odebrecht: “Tolerância zero e todo apoio à Lava Jato! A lei é para todo mundo, não interessa de que partido é. Quem deve, paga, é punido”.
CARLOS LOPES