Falamos sobre quatro índices de avaliação da qualidade de vida de um povo e sua relação com a importância da Margem Equatorial
ALLAN KARDEC (*)
John Burn-Murdoch, repórter de dados do Financial Times, destacou em artigo a diferença significativa na expectativa de vida entre os Estados Unidos e outros países de alta renda, como o Reino Unido. De acordo com Burn-Murdoch, os americanos têm uma expectativa de vida menor, apesar da alta renda per capita do país.
Essa disparidade é atribuída em grande parte às desigualdades sociais e econômicas, a um sistema de saúde frágil e a estilo de vida. Os EUA têm uma taxa mais alta de mortes em idades mais jovens em comparação com países com níveis de riqueza semelhantes, excedendo a diferença de expectativa de vida.
Embora referência para muitos, os EUA carecem de cuidados de saúde universais, o que leva a disparidades no acesso a serviços médicos. Ele também aponta que aquele país enfrenta taxas altas de obesidade, e maiores índices de homicídios em comparação com outras nações desenvolvidas.
Mais ainda, ele aponta que as altas taxas de acidentes de carro e a ampla disponibilidade de armas nos EUA são fatores adicionais para a menor expectativa de vida. Embora os Estados Unidos se destaquem em certas áreas, como taxas de sobrevivência ao câncer, esses sucessos são ofuscados pelas disparidades de saúde e assistência popular e pela alta prevalência de doenças crônicas relacionadas a escolhas de estilo de vida.
No Brasil o debate é outro. A região Sul possui um PIB combinado significativamente maior em comparação com a região Norte. Por exemplo, em 2021, o PIB da região Sul foi de aproximadamente R$ 1,56 trilhão, enquanto o PIB da região Norte foi de cerca de R$ 564 bilhões, uma diferença de quase três vezes!
O ÍNDICE GINI, que mede a desigualdade de renda, varia igualmente consideravelmente entre as regiões. O mesmo acontece com a EXPECTATIVA DE VIDA. Isso fica muito claro observando os três indicadores no mapa do Brasil, no início desta crônica. Bom lembrar outro, o ÍNDICE DE POBREZA EXTREMA, equivalente a uma pessoa viver com menos de R$ 10 reais por dia – que afeta um em cada dez habitantes da Terra!
Um estudo da respeitada revista Nature estudou os efeitos dos programas de transferência de renda de vários países. Os autores, liderados por Aaron Richterman, avaliaram os efeitos dos programas de transferência de renda em larga escala, implementados pelos governos de vários países, sobre a mortalidade de adultos e crianças por todas as causas em 37 países de baixa e média renda. Descobriu-se que aqueles programas estão associados a uma diminuição de 20% no risco de morte em mulheres adultas e de 8% em crianças menores de cinco anos!
Ou seja, hoje testemunhamos, de um lado, a região do Arco Norte – aquela acima do paralelo 16 ou de Brasília, lutando para explorar petróleo em sua Margem Equatorial. Do outro, uma imensa maioria de dependentes de transferência de renda – o Amapá, por exemplo, atinge 60% de sua população assistidos pelo Bolsa Família.
Sem transferência de renda e sem recursos, a conclusão óbvia é que brasileiros e brasileiras estão associados a risco real de morte, em pleno século 21, por fome!
(*) PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar. Publicado originalmente no site Imirante