Bolsonaristas lideram a produção de fake news. Enquanto as inundações devastam o Estado, além das fake news, estelionatos e roubos se tornaram também preocupações dos órgãos de segurança pública
Propagadores de mentiras — as chamadas Fake News —, estelionatários e ladrões são outras consequências das devastações, em meio às enchentes que assolam o Estado do Rio Grande do Sul. Denuncia o portal digital de notícias GZH (Gaúcha ZH).
Enquanto socorriam vítimas das inundações que atingem e devastam o Estado, policiais militares são informados que banco havia sido explodido em Canoas, no bairro Mathias Velho. Os brigadianos — como são chamados os policiais militares no RS — foram deslocados em embarcações e num helicóptero para coibir o crime.
Quando chegaram ao local, nada havia ocorrido. Na mesma semana, policiais civis seguiram até o bairro Menino Deus, onde havia relatos de que criminosos armados mantinham reféns. A situação também não se confirmou. A disseminação de fake news — notícias falsas — tem sido um dos desafios durante o enfrentamento às enchentes que assolam o Estado.
FAKE NEWS, ROUBOS E ESTELIONATOS
Em paralelo a isso, criminosos também se utilizam das redes digitais para aplicar golpes, especialmente em quem está disposto a ajudar. A situação que causa preocupação levou à criação de força-tarefa, que tenta atacar esses três crimes.
Até o momento, segundo o Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) da Polícia Civil, 57 perfis e sites foram retirados do ar — 19 sites e 38 perfis. Ao todo, 28 inquéritos foram abertos, sendo que desses, 8 são por suspeita de disseminação de fake news e 20 por casos de estelionato virtual.
No caso do repasse de informações falsas, o crime apurado é o de atentar contra a segurança ou funcionamento de serviço de utilidade pública. A pena prevista para esses casos é de um a cinco anos de reclusão e multa.
A chamada Força-Tarefa Cyber inclui os órgãos de inteligência, a Secretaria de Comunicação do governo do Estado e a área investigativa do Deic, por meio da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações.
“Desde o início das enchentes, esses órgãos vêm monitorando ocorrências de golpes virtuais e a divulgação de fake news que atrapalham o andamento do serviço público. Inclusive, o trabalho de voluntários junto às entidades públicas”, explica a diretora do Deic, delegada Vanessa Pitrez.
NOTÍCIAS FALSAS
Em relação às notícias falsas, a polícia percebeu dois enredos principais. Um desses envolve a divulgação de informações inverídicas sobre criminalidade generalizada em áreas alagadas. Houve registros de saques, roubos e até mesmo crimes sexuais neste período. No entanto, em diversos casos as informações repassadas eram falsas.
“Isso causa um alarme, uma sensação de insegurança desmedida. Atrapalha o andamento do serviço de segurança, tendo em vista que toda a denúncia que chega, até se descobrir que é falsa, a gente vai verificar. Isso despendeu uma energia e movimentação da segurança desnecessária, enquanto os policiais poderiam não ter perdido esse tempo e continuado focados nas atividades de resgate, salvamentos, patrulhamento e segurança nos abrigos e áreas alagadas”, ressalta a delegada Vanessa.
TENTATIVA DE DESMORALIZAR OS SERVIÇOS PÚBLICOS
Outra vertente que também gerou notícias falsas é sobre a prestação de serviços públicos.
Entre os relatos estavam os de que as forças de segurança estavam impedindo o deslocamento e multando caminhões que chegavam ao RS com doações, a da exigência de nota fiscal dos produtos doados, a de cobrança de parecer de nutricionista e de prazo de validade das marmitas e a de que estavam impedindo a saída das doações dos centros de distribuição.
Diversas campanhas foram criadas pelo governo e pelos órgãos de segurança para alertar sobre a inveracidade dessas informações.
“As pessoas ficavam receosas de mandar caminhões com doações, de doarem produtos, de cozinhar para as pessoas que precisavam. Muitas pessoas foram reclamar em centros de distribuição, a partir das notícias falsas que não estavam saindo os produtos”, explicou a delegada.
“Muitas pessoas, com grande número de seguidores, também divulgaram esse tipo de notícia falsa, como forma de monetizar esses perfis, angariar mais dinheiro e ter maior engajamento”, acrescentou.
ESTELIONATOS
Até o momento, chegaram ao conhecimento da polícia ao menos 57 suspeitas, dessas 40 envolviam casos de possíveis golpes. Nem todas as apurações se confirmaram, sendo que em algumas dessas, os policiais verificaram que realmente as campanhas eram verdadeiras — nos casos em que se suspeitava de golpe do PIX Solidário, por exemplo.
“Os golpes que mais detectamos foram referentes às campanhas falsas, com PIX falso para arrecadação de dinheiro. Existem outros, como de oferecimento de pagamento para resgate ou de caminhões-pipa que vendiam água, ofereciam água com preço muito abaixo do normal pela internet e exigiam pagamento e nunca chegava”, detalha a diretora do Deic.
“Mas a maioria deles é de estelionatos virtuais, referentes a campanhas de arrecadações de dinheiro, por vezes com clonagem de perfis, como foi o caso do governo do Estado”, acrescentou.
ROUBOS E SAQUES
Nas primeiras duas semanas das tragédias climática e ambiental do Rio Grande, mais de 30 pessoas foram presas por participação em saques, roubos e atos de vandalismo nas cidades mais afetadas pela enchente histórica que aflige o Estado.
Nem os voluntários que ajudam no trabalho de resgate dos moradores ilhados pela água escapam da ação dos criminosos. Relatos de assaltos às residências e roubo de barcos e mantimentos destinados às vítimas da enchente chegam diariamente às delegacias de polícia de Porto Alegre e das cidades vizinhas.
Operações de salvamento que vinham sendo feitas à noite foram paralisadas, por medo dos voluntários, que se queixam da falta de segurança para o trabalho.
OPERAÇÃO DILÚVIO MORAL
Dia 15 de maio, a Polícia Civil desencadeou a Operação Dilúvio Moral, que teve como alvo grupo suspeito de aplicar golpe do PIX falso, que simulava doações para as vítimas das enchentes.
Três pessoas foram presas por suspeita de envolvimento no esquema. Segundo a PC, foram criados perfis falsos nas redes digitais que imitavam publicações do governo do Estado, para angariar doações.
A polícia tem outras investigações em andamento com modo de ação semelhante. Além dos perfis derrubados, 12 contas bancárias foram bloqueadas durante a força-tarefa. Os investigadores aguardam o retorno das instituições bancárias para mensurar o prejuízo causado por esses grupos criminosos e quantas vítimas foram atingidas até o momento.
Resultados compilados Força-Tarefa Cyber, até as 11h, da última sexta-feira (24):
• 57 casos investigados
• 40 suspeitas de golpes
• 28 inquéritos abertos
• 8 por fake news
• 20 por estelionato
• 12 contas bancárias bloqueadas
• 38 perfis retirados do ar
• 19 sites retirados do ar
• 3 presos
DICAS
Não compartilhar notícias das quais não tem certeza sobre a veracidade da informação. Confirmar as informações que receber por conversas de WhatsApp, por exemplo, em canais oficiais e pela imprensa.
Quem compartilha e dissemina as notícias falsas também pode ser responsabilizado por isso, não somente aquele que criou a informação falsa.
Verificar a confiabilidade da campanha para onde pretende doar algum valor. Na hora de realizar e concluir o pagamento, via PIX, por exemplo, conferir se a conta e o destinatário do valor é a mesma pessoa física ou jurídica que solicitou a doação.
Se não souber para quem doar, busque campanhas oficiais, como a do governo do Estado, por meio da campanha SOS Rio Grande do Sul.
Também é possível acessar o portal “Para quem doar”, que faz a certificação de credibilidade das campanhas.