“O Estado precisa recuperar seu papel de planejador do desenvolvimento”, apontou o presidente brasileiro, durante reunião do G7
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lembrou, durante sua fala aos integrantes do G7 (grupo de países imperialistas), nesta sexta-feira (14) na Itália, que na última reunião do grupo em que participou, no ano de 2009, “enfrentávamos uma crise financeira global que expôs os equívocos do neoliberalismo”.
O presidente brasileiro destacou que, fruto disso, “muitos países africanos estão próximos da insolvência e destinam mais recursos para o pagamento da dívida externa do que para a educação ou a saúde”. “Sem agregar valor a seus recursos naturais, os países em desenvolvimento seguirão presos na relação de dependência que marcou sua história”, observou Lula.
O chefe do Executivo brasileiro criticou o estado mínimo dos neoliberais. “O Estado precisa recuperar seu papel de planejador do desenvolvimento”, apontou. Para o presidente brasileiro, ele deve “promover o emprego decente e a inclusão social”.
“Estes são alguns dos temas que tratei ontem na Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra”, lembrou. “É nesse contexto de combate às desigualdades que se insere a proposta de tributação internacional justa e progressiva que o Brasil defende no G20. Já passou da hora dos super-ricos pagarem sua justa contribuição em impostos”, defendeu.
Destacando o convite feito para a União Africana, Angola, Egito e Nigéria participarem pela primeira vez do G20 como membro pleno, Lula defendeu uma saída para a crise financeira desses países e que é agravada pelos juros cobrados na dívida externa.
“Com seus 1,5 bilhão de habitantes e seu imenso e rico território, a África tem enormes possibilidades para o futuro. A força criativa de sua juventude não pode ser desperdiçada cruzando o Saara para se afogar no Mediterrâneo. Buscar melhores condições de vida não pode ser uma sentença de morte”, afirmou.
Na discussão sobre Inteligência Artificial (IA), Lula defendeu o seu uso para a paz e o desenvolvimento. “A inteligência artificial (IA) acentua o cenário de oportunidades, riscos e assimetrias. Seus benefícios devem ser compartilhados por todos. Interessa-nos uma IA segura, transparente e emancipadora”, argumentou.
Lula disse que reconhece este avanço tecnológico e defendeu que ele “respeite os direitos humanos, proteja dados pessoais e promova a integridade da informação. Que potencialize as capacidades dos Estados de adotarem políticas públicas para o meio ambiente e que contribua para a transição energética”.
O dirigente brasileiro afirmou que acha que a IA deve ter “a cara do Sul Global, que fortaleça a diversidade cultural e linguística e que desenvolva a economia digital de nossos países. E, sobretudo, uma IA como ferramenta para a paz, não para a guerra”.
Leia abaixo a íntegra do discurso de Lula no G7
Quero agradecer à primeira-ministra Giorgia Meloni pelo convite para participar deste segmento ampliado.
Na última reunião similar de que participei na Itália, na Cúpula de L´Áquila em 2009, enfrentávamos uma crise financeira global que expôs os equívocos do neoliberalismo.
Hoje o Brasil preside o G20 num contexto de múltiplos e novos desafios.
Conduzir uma revolução digital inclusiva e enfrentar a mudança do clima são dilemas existenciais do nosso tempo.
Precisamos lidar com essa dupla transição tendo como foco a dignidade humana, a saúde do planeta e um senso de responsabilidade com as futuras gerações.
Na área digital, vivenciamos concentração sem precedentes nas mãos de um pequeno número de pessoas e de empresas, sediadas em um número ainda menor de países.
A inteligência artificial (IA) acentua esse cenário de oportunidades, riscos e assimetrias.
Seus benefícios devem ser compartilhados por todos.
Interessa-nos uma IA segura, transparente e emancipadora.
Que respeite os direitos humanos, proteja dados pessoais e promova a integridade da informação.
Que potencialize as capacidades dos Estados de adotarem políticas públicas para o meio ambiente e que contribua para a transição energética.
Uma IA que também tenha a cara do Sul Global, que fortaleça a diversidade cultural e linguística e que desenvolva a economia digital de nossos países.
E, sobretudo, uma IA como ferramenta para a paz, não para a guerra.
Necessitamos de uma governança internacional e intergovernamental da inteligência artificial, em que todos os Estados tenham assento.
Os países africanos são parceiros indispensáveis no enfrentamento desses e de outros desafios.
Com seus 1,5 bilhão de habitantes e seu imenso e rico território, a África tem enormes possibilidades para o futuro.
A força criativa de sua juventude não pode ser desperdiçada cruzando o Saara para se afogar no Mediterrâneo.
Buscar melhores condições de vida não pode ser uma sentença de morte.
Além da União Africana, que integra o G20 pela primeira vez como membro pleno, convidamos Angola, Egito e Nigéria a participar das reuniões durante nossa presidência.
Muitos países africanos estão próximos da insolvência e destinam mais recursos para o pagamento da dívida externa do que para a educação ou a saúde.
Isso constitui fonte permanente de instabilidade social e política.
Sem agregar valor a seus recursos naturais, os países em desenvolvimento seguirão presos na relação de dependência que marcou sua história.
O Estado precisa recuperar seu papel de planejador do desenvolvimento.
Promover o emprego decente e a inclusão social são alguns dos temas que tratei ontem na Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra.
A Parceria para o Direito dos Trabalhadores que levamos adiante com o Presidente Biden tem essa finalidade.
É nesse contexto de combate às desigualdades que se insere a proposta de tributação internacional justa e progressiva que o Brasil defende no G20.
Já passou da hora dos super-ricos pagarem sua justa contribuição em impostos.
Essa concentração excessiva de poder e renda representa um risco à democracia.
Muitos países em desenvolvimento já formularam políticas eficazes para erradicar a fome e a pobreza.
Nosso objetivo, no G20, é mobilizar recursos para ampliá-las e adaptá-las a outras realidades.
O apoio de todos os presentes nesta reunião à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que lançaremos na Cúpula do G20 no Rio de Janeiro, será fundamental para dar fim a essa chaga que ainda assombra a humanidade.
Senhoras e senhores,
As instituições de governança estão inoperantes diante da realidade geopolítica atual e perpetuam privilégios.
O ano de 2023 viu o gasto com armamentos subir em relação a 2022, chegando a 2,4 trilhões de dólares.
Em Gaza, vemos o legítimo direito de defesa se transformar em direito de vingança.
Estamos diante da violação cotidiana do direito humanitário, que tem vitimado milhares de civis inocentes, sobretudo mulheres e crianças.
Isso nos levou a endossar a decisão da África do Sul de acionar a Corte Internacional de Justiça.
O Brasil condenou de maneira firme a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Já está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar.
Somente uma conferência internacional que seja reconhecida pelas partes, nos moldes da proposta de Brasil e China, viabilizará a paz.
O G7, o BRICS e o G20 reúnem as maiores economias do planeta.
O futuro que compartilharemos dependerá de nossa capacidade de superar desigualdades e injustiças históricas para vencer as batalhas que a humanidade enfrenta hoje.
Muito obrigado.