“Mesmo se o Copom tivesse reduzido a Selic em 0,25 p.p., a taxa de juros real estaria em 6,4% ao ano, ou seja, 1,9 ponto acima da taxa de juros real neutra, ainda denotando política monetária fortemente contracionista”, afirma a CNI em nota. Para CBIC, “Selic em níveis elevados prolonga a escassez de recursos para investimentos produtivos e tende a agravar as contas públicas, aumentando as despesas com juros da dívida”
A decisão do Banco Central, por unanimidade, na reunião de ontem (19/06) do Comitê de Política Monetária de colocar um freio na redução na taxa básica da economia, mantendo a Selic em 10,50% e o juro real o segundo maior do planeta, surpreendeu amplos setores da sociedade brasileira. Entidades da indústria e do comércio manifestaram em nota os efeitos dos juros elevados sobre a economia e as consequência da manutenção dos juros no atual patamar. Divulgamos a seguir, trechos de algumas delas.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou “inadequada e excessivamente conservadora a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de interromper o ciclo de cortes na Selic, mantendo-a em 10,5% ao ano”. “Neste momento, a decisão só irá impor restrições adicionais à atividade econômica – com reflexos negativos sobre o emprego e a renda –, sem que o quadro inflacionário exija tamanho sacrifício”, afirmou a entidade.
“A manutenção do ritmo de corte na Selic seria o correto, pois contribuiria para mitigar o custo financeiro suportado pelas empresas e pelos consumidores, sem prejudicar o controle da inflação”, disse o presidente da CNI, Ricardo Alban.
De acordo com a CNI, com a Selic mantida em 10,5%, a taxa de juros real (descontada a inflação esperada para os próximos 12 meses, que é de 3,6%) fica em 6,64%, ou seja, 2,14 pontos percentuais acima da taxa de juros real neutra – aquela que não estimula nem desestimula a atividade econômica, estimada pelo Banco Central em 4,5% ao ano. É a segunda taxa de juro real do mundo.
“Mesmo se o Copom tivesse reduzido a Selic em 0,25 ponto percentual, a taxa de juros real estaria em 6,4% ao ano, ou seja, 1,9 ponto acima da taxa de juros real neutra, ainda denotando política monetária fortemente contracionista”, afirma.
Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) destacou que “com a Selic permanecendo alta, o custo do crédito continua a pressionar negativamente o setor produtivo, desestimulando investimentos essenciais para o desenvolvimento sustentável do país”.
“Essa política, acaba por restringir a capacidade de recuperação econômica, prejudicando a criação de empregos e a competitividade das empresas brasileiras”, acrescenta a Abimaq.
Para a Federação das Indústria de Minas Gerais (FIEMG), “a interrupção dos cortes da Selic é motivo de preocupação, pois a política monetária ainda se apresenta restritiva, o que desencoraja investimentos e afeta negativamente a capacidade produtiva do país”.
“Além disso, a indústria, segmento importante para a geração de emprego e renda, vem sendo impactada duramente pelos juros em níveis elevados”, diz a nota da indústria mineira.
“A FIEMG considera essencial uma taxa de juros mais baixa para promover o desenvolvimento econômico sustentável. A manutenção da Selic neste nível é insustentável e a redução dos juros é urgente e crucial para revitalizar o setor produtivo nacional. Portanto, a FIEMG destaca a necessidade de baixar a taxa de juros e continuará acompanhando as decisões do Copom, buscando um ambiente que favoreça o desenvolvimento econômico e social do país”.
A Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB) destacou que “a taxa de juros básica no Brasil permanece em nível bastante elevado 10,50% a.a., com uma taxa real superior a 6% a.a. (descontada a inflação), uma das mais altas do mundo”.
“A retomada do processo de flexibilização da política monetária é importante para que o país volte a crescer, ampliando investimentos, gerando mais empregos e aumentando a renda, áreas fortemente impactadas nos últimos anos. Novos cortes na taxa de juros, respeitando a estabilidade inflacionária, são desejáveis e imprescindíveis para consolidar a retomada do crescimento econômico”, diz a FIEB.
A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) manifestou, em nota, que “esse patamar elevado continua a limitar a expansão dos investimentos. Ademais, a indústria, entre os três principais setores que compõem o PIB, foi a única a apresentar desempenho negativo no último trimestre”, disse a entidade em nota.
De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), os efeitos da Selic em patamar elevado afetam diretamente o financiamento imobiliário no país.
A entidade destacada, entre os diversos setores atingidos pelo arrocho monetário, a caderneta de poupança, que registrou uma captação líquida negativa de R$16,971 bilhões apenas nos primeiros cinco meses de 2024. Desde 2021, as perdas acumuladas na poupança já ultrapassam R$ 205 bilhões.
“No setor imobiliário, o financiamento com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) também apresenta números negativos. Nos primeiros quatro meses deste ano, foram financiadas 148.669 unidades, o que representa uma queda de 16,31% em comparação ao mesmo período do ano anterior”, diz a entidade em nota.
Para Ieda Vasconcelos, economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), “a manutenção da Selic em níveis elevados prolonga a escassez de recursos para investimentos produtivos e tende a agravar as contas públicas, aumentando as despesas com juros da dívida”.
Nos últimos doze meses, a transferência de recursos públicos para despesas só com juros somou R$ 776 bilhões, mas a gritaria às vésperas do Copom sobre corte de gastos públicos não cita a despesa financeira, intocável. São recursos públicos desviados da saúde, educação, investimentos em infraestrutura, segurança, etc, etc, etc.
A Associação Paulista de Supermercados (Apas) destacou os efeitos dos juros altos sobre o investimento e o consumo das famílias.
“Já era uma decisão aguardada pelo mercado, porém, o que estamos observando é que ela pode produzir um efeito negativo, especialmente sobre o consumo das famílias, tendo em vista que nós atualmente temos uma das maiores taxas reais de juros do mundo. Nossa preocupação é que a manutenção da taxa Selic em 10,5% ao ano, interrompendo o ciclo de queda, possa prejudicar tanto o investimento, quanto o consumo das famílias”, afirmou o economista-chefe da Apas, Felipe Queiroz.
Para a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), “este é um movimento equivocado, já que ainda haveria espaço para uma redução de 0,25 pontos nesta reunião”.
“O freio na queda da Selic ocasiona prejuízos no setor do comércio com o encarecimento do financiamento para as empresas, o que dificulta o desenvolvimento do país como um todo”, avalia a CNC.