No evento, Sindicatos dos Jornalistas e dos Escritores de São Paulo prestaram homenagem ao Sindicato dos Jornalistas Palestinos. Wissam Zoghbour, jornalista palestino, fez um pronunciamento desde Gaza para denunciar as tropas israelenses que assassinaram 140 jornalistas na vã tentativa de evitar que o mundo testemunhe seus crimes
O relançamento do livro “Genocídio Isola Israel: Desafio é Criar Estado Palestino”, escrito por Nathaniel Braia e Nilson Araújo de Souza, nesta quinta-feira (20), no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP), foi também um momento de solidariedade aos jornalistas palestinos atacados e assassinados pelas tropas de Netanyahu.
O evento teve início com pronunciamento de Wisam Zoghbour, do Secretariado Geral do Sindicato dos Jornalistas Palestinos, direto da Faixa de Gaza, por videoconferência sob cerco e bombardeio.
JORNALISTA PALESTINO SAÚDA O EVENTO DESDE GAZA
Wisam destacou os crimes de Israel contra o jornalismo, afirmando que “cento e quarenta jornalistas foram assassinados pelas forças de ocupação, a sangue frio, e dezenas de jornalistas ficaram feridos, mas suas feridas não os impediram de continuar seu trabalho”.
“Enquanto isso”, prosseguiu, “as forças de ocupação continuam a política de desaparecimento forçado de dezenas de jornalistas e impedem a divulgação das circunstâncias de suas prisões. As forças de ocupação destruíram cerca de 88 instituições e escritórios de mídia, e 80 casas pertencentes a jornalistas, resultando na morte de cerca de 30 familiares de jornalistas. Continuam a privar os jornalistas palestinos de equipamentos de segurança, como coletes à prova de balas e capacetes, e impedem a entrada de jornalistas estrangeiros na Faixa de Gaza”.
Para se ter uma ideia da gravidade do morticínio de jornalistas perpetrado pelas tropas israelenses, ele supera o ocorrido em outros momentos históricos como a Segunda Guerra Mundial, com 69 baixas, e os conflitos no Vietnã e sudeste asiático, com 63.
Para o líder dos jornalistas em Gaza, a perseguição aos jornalistas é uma forma de evitar as denúncias dos crimes de guerra cometidos por Israel.
Wisam destacou que “o Sindicato dos Jornalistas Palestinos continuará apoiando os profissionais do setor com todos os recursos disponíveis, documentando os crimes contra eles e acompanhando-os no Tribunal Penal Internacional até que os criminosos de guerra sejam responsabilizados e obrigados a respeitar o direito internacional e a Carta dos Direitos Humanos, proporcionando proteção internacional para os jornalistas”. Ele concluiu agradecendo “a solidariedade e o apoio dos jornalistas brasileiros”.
Nilson Araújo, um dos autores do livro “Genocídio Isola Israel: Desafio é Criar o Estado da Palestina”, destacou que o genocídio que Israel está praticando na Palestina não tem como objetivo a autodefesa ou resgatar reféns. “Eles estão norteados por uma ideologia que é ao mesmo tempo política e religiosa, o sionismo direitista que teve o amigo de Mussolini, Zeev Jabotinsky, prega desde seus primeiros passos que os judeus têm que reconstruir a Israel bíblica, que se estenderia do Mediterrâneo até o rio Eufrates. Querem tomar a Palestina, avançar na limpeza étnica contra os palestinos para seguir avançando para lá”.
“Por quê? Porque são colonialistas, são racistas. Qual é o lema deles? ‘Um povo sem terra, parou a terra sem povo’. Como se não tivesse povo, como se não tivesse gente lá na Palestina. Os palestinos já estavam lá há milhares de anos, mas eles disseram que era uma terra sem povo e para poder demonstrar e alcançar isso foram até a Palestina e saíram massacrando, matando de maneira a mais hedionda possível, e espalhando o terror para empurrando para longe às centenas de milhares”.
O professor Nilson enfatizou que estes grupos terroristas atuaram contra as aldeias árabes sendo que se juntaram para massacrar uma vila indefesa, pacífica, o que levou Albert Einstein e Hannah Arendt, que eram judeus, a fazer um manifesto assinado por mais de 26 intelectuais judeus nos Estados Unidos denunciando que os métodos utilizados pelos sionistas se assemelhavam aos nazistas e fascistas. “Quanto mais insistem nessa posição, mais estão próximo do fim. E não estou falando do povo judeu e sim da aventura fascista hoje capitaneada por Netanyahu”, disse.
“Nos EUA aprovaram na Câmara que antissionismo é igual a antissemitismo, e nós sabemos que não é. Antissemitismo é o que eles estão fazendo, porque os árabes também são semitas. Eles estão matando os semitas e colocando em risco inclusive a vida de judeus, nós somos contra uma ideologia perversa e assassina, daí o antissionismo. Lula estava certo, o que estão fazendo é semelhante ao Holocausto”, disse Nilson.
LIMPEZA ÉTNICA A SERVIÇO DO COLONIALISMO E DO IMPERIALISMO
Nathaniel Braia, editor do jornal a Hora do Povo, coautor do livro, ressaltou que a concepção sionista buscou servir, desde o início aos interesses de governos colonialistas a exemplo da Inglaterra, da Rússia czarista, do Império Otomano. “É conhecida a frase do sionismo que diz, ‘uma terra sem povo para um povo sem terra’. Na verdade, quer dizer, ali tinha duas farsas. Primeiro, dizer que os judeus eram um povo quando, na verdade, integram uma miríade de povos por todo o planeta. E um povo sem terra querendo negar a existência do povo palestino”, disse Braia.
“Mas a frase mais significativa do fundador do sionismo, Theodor Herzl, é a seguinte: ‘nós seremos para a civilização uma muralha contra a barbárie’. Afinal, o que era essa barbárie à qual ele se referia? Eram os povos árabes que lutavam por sua libertação, desde aquele momento, no fim do século XIX, por sua soberania, por sua autodeterminação. Foi isso que os sionistas venderam para os colonialistas ingleses, turcos, russos e demais colonialistas europeus, para depois se tornar uma base militar avançada para o imperialismo norte-americano no seio do Oriente Médio”, continuou.
“Não à toa, quem disse que achava importante que a Palestina se tornasse um lar nacional para os judeus, foi um líder exatamente do Império Britânico, porque vislumbrava, na aliança com os sionistas, a possibilidade de botar um enclave daquele império, como hoje é o enclave norte-americano, dentro do Oriente Médio”, completou.
HOMENAGEM À REDE AL JAZEERA QUE TEVE ESCRITÓRIO FECHADO EM jERUSALÉM
Em conjunto, o Sindicato dos Jornalistas e o Sindicato dos Escritores do Estado de São Paulo homenagearam também a rede Al Jazeera – que teve seu escritório em Jerusalém fechado por ordem do governo de Netanyahu.
Da homenagem constou uma placa entregue por Claude Fahd Hajjar, editora do site Oriente Mídia e conselheira da presidência da Federação de Entidades Americano Árabes (Fearab América) ao correspondente da rede Al Jazeera na América Latina, Hassan Massoud.
Também em nome de todos os periodistas palestinos, constou na placa o nome da jornalista Shireen Abu Akel, da rede Al Jazeera, que foi assassinada enquanto cobria um ataque israelense em Jenin.
“Estamos dedicando nossas vidas para passar ao mundo a informação do massacre que recai sobre o povo palestino porque essa causa é merecedora, porque a verdade sobre essa luta merece dita e divulgada”, afirmou o correspondente da Al Jazeera ao receber a placa.
Claude destacou, em sua intervenção, que há uma “catástrofe continuada: execuções extrajudiciais, demolições de casas, desapropriações, somam-se a exploração predatória, subjugação, supremacia racial, segregação, vigilância, controle, monitoramento, agressão militar e regime de apartheid também se atualizam, se ampliam e se aperfeiçoam por meio de dispositivos de inteligência artificial. Tecnologias que são a base do capitalismo de vigilância e do colonialismo de dados tornam possível bombardear uma estrutura física e atingir um corpo palestino com apenas um clique. Esse mesmo dispositivo de morte ‘inteligente’, tão preciso e letal, assassinou a jornalista palestina Shireen Abu Akleh mesmo ela utilizando um capacete e um colete azul à prova de bala contendo a palavra ‘PRESS’”.
“Morta a tiros enquanto fazia uma reportagem sobre um ataque militar israelense ao campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, em 11 de maio de 2022, a jornalista estava com um grupo de outros repórteres e seu colega, o produtor da Al Jazeera, Ali Al-Samoudi, também foi baleado e sobreviveu aos ferimentos. Por sua precisão e profissionalismo, bem como pelas suas reportagens distintas, Abu Akleh tornou-se um nome familiar em todo o mundo árabe. Ela dedicou a sua carreira a revelar a injustiça e a terrível situação dos palestinos sob ocupação israelense e inspirou muitas mulheres palestinas e árabes a seguirem carreiras no jornalismo”, continuou.
“O que a aniquilação do corpo da Shireen e dos milhares de outros comunicadores, ativistas, paramédicos e civis palestinos (incluindo menores) tem a nos dizer? […] A Cisjordânia que pelo Direito Internacional é um território palestino vem sendo sistematicamente ocupada por novos e agressivos colonos armados e protegidos pelas Forças de Israel. Quando um jornalista testemunha e registra o fato e dá voz a uma população oprimida ele recebe bala na cabeça. Simbolicamente, é como se dissessem, ‘ você é palestino não pode pensar, não pode se expressar, não pode reivindicar, e nem se manifestar’, por isso você morre com bala na cabeça”, denunciou Claude.
MOVIMENTO MULHERES PELA PAZ NA PALESTINA PRESENTE
A professora economista Amyra El Khalili, editora do Movimento Mulheres pela Paz na Palestina, que apoiou a realização do evento e foi a responsável pelo contato com o Sindicato dos Jornalistas da Palestina, ressaltou em sua intervenção que os casos de prisioneiros palestinos já se arrastam desde 1948 com tratamento desumano, baseado na tortura, rompendo com vários tratados e direitos humanos.
O mundo assiste e começa a se rebelar contra “a tortura sistemática a que são submetidos, que se intensificou de forma terrível desde o início desse genocídio em outubro do ano passado. As autoridades do serviço prisional israelense cometeram crimes horríveis contra os nossos prisioneiros e prisioneiras, violando todas as cartas internacionais, a fim de matá-los e desumanizá-los, de acordo com dezenas de testemunhas de equipes jurídicas e de prisioneiros libertados após cumprir suas penas”, disse.
“A chamada detenção administrativa, que foi usada pela primeira vez na Palestina pelo mandato colonial britânico e depois adotada pelo regime sionista, agora é usada rotineiramente para atingir os palestinos, especialmente líderes comunitários, ativistas e pessoas influentes em suas cidades, campos e vilas. Embora, segundo o direito internacional, esse tipo de detenção, sem acusação, só possa acontecer por razões urgentes de segurança, Israel a usa como método de rotina para suprimir a sociedade e a atividade palestina. […] A detenção administrativa, como todo sistema prisional israelense, é uma arma colonial destinada a atingir a resistência palestina e isolar os líderes da luta do povo palestino”, acrescentou Amyra.
Amyra se referiu ao combatente da cultura que dá nome ao auditório onde se realizou o evento, Vladimir Herzog, também morto sob tortura pela ditadura que caiu sobre o nosso país e que Herzog ajudou a libertar daqueles anos de chumbo.
“As práticas hediondas de crimes contra a humanidade, como a tortura que assassinou o jornalista Vladimir Herzog, têm sido utilizadas pelos sionistas há 76 anos para aterrorizar os palestinos”, destacou a professora economista palestina.
Ibrahim Al Zeben, embaixador da Palestina no Brasil, também participou do evento por videoconferência e agradeceu a solidariedade do povo brasileiro que sai as ruas e se manifesta, mesmo com uma cobertura tímida do genocídio que ocorre em Gaza. “No Brasil tem muita distorção, inclusive uma cobertura muito, muito tímida sobre oito meses ou mais de massacre, de genocídio. Felicito os dois autores, amigos, militantes e combatentes, que sempre estiveram presentes defendendo a causa palestina e defendendo as causas justas”.
HOMENAGEM DOS JORNALISTAS BRASILEIROS AOS JORNALISTAS PALESTINOS
A esta altura dos debates, o secretário de Relações Institucionais do SJSP convidou o diretor do sindicato, Pedro Pomar para entregar uma placa em homenagem aos jornalistas palestinos que afirma: “Expressamos, através do Sindicato dos Jornalistas Palestinos, nossa admiração e solidariedade aos jornalistas palestinos pela heroica e corajosa cobertura dos trágicos acontecimentos na Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém. Homenageamos um trabalho por meio do qual os colegas palestinos dedicam suas próprias vidas para que o mundo tome conhecimento das atrocidades e crimes de guerra cometidos pelo estado de Israel”
SINDICATO DOS PROFESSORES PRESENTE COM CLAUDIO FONSECA
O presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem), Cláudio Fonseca, lembrou que reuniu milhares de professores para ouvir os autores Braia e Nilson, “pois a causa palestina é justa, a disposição de libertar o povo palestino sem destruir o povo israelense, mas a favor da paz entre os povos. E é essa educação que pode fortalecer a garra da juventude em busca da justiça, do cessar-fogo com o fim do massacre de palestinos em Gaza”.
Participaram do evento a presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP), Valentina Macedo Andrade; o secretário-geral da Confederação das Entidades Palestinas da América Latina e Caribe, Emir Mourad que prefaciou o livro de Braia e Nilson; o presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade ao Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) José Reinaldo; o membro da Academia Árabe Brasileira de Letras correspondente da Rádio Sawt Al-Shaab, do Líbano, Khaled Mahassen e o correspondente da TV Al Araby, com sede no Catar, Deddah Abdallah.
O diretor do Sindicato dos Jornalistas, José Eduardo que dirigiu os trabalhos do evento concluiu o debate colocando sua entidade “à disposição da justa causa palestina, que integra a luta de libertação dos povos. Palestina livre!”
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