“Essa ata já é uma reafirmação e corroboração nesse sentido da coesão que a gente tem aqui dentro, de visões e leituras sobre o que está acontecendo aqui dentro do BC”, disse o diretor do BC
O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou que a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (15), reafirma a coesão e o afinamento entre os membros do colegiado. Na semana passado, o Copom decidiu, de forma unânime, paralisar os cortes na taxa básica de juros (Selic), estacionando-a nos estratosféricos 10,5% ao ano, o que impõem mais arrocho à atividade econômica.
“Essa ata já é uma reafirmação e corroboração nesse sentido da coesão que a gente tem aqui dentro, de visões e leituras sobre o que está acontecendo aqui dentro do BC”, disse Galípolo, em evento da Warren Investimentos, ao classificar o Copom como um ambiente de “maior honestidade intelectual e colaboração possível”, comentou.
Gabriel Galípolo, que chegou ao BC por indicação do governo Lula, é cotado como favorito para ocupar a cadeira de presidente do BC, após o encerramento do mandato de Campos Neto, em 31 de dezembro deste ano. Antes de ser indicado, Galípolo atuou no cargo de secretário-executivo do Ministério da Fazenda, sendo considerado o número dois do ministro da pasta, Fernando Haddad (PT).
Na semana passada, Galípolo e outros três diretores indicados pelo governo somaram votos aos diretores bolsonaristas no BC, liderados por Campos neto, para interromper o ciclo de cortes, minguados, na Selic, que foi iniciado em agosto do ano passado, após a taxa ter ficado por 12 meses em 13,5% ao ano.
O Brasil é o segundo maior cobrador de juros reais do planeta, segundo levantamento feito pelo MoneYou, que mostra que a taxa de juros reais brasileira ficou em 6,79% (quando descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses – de 3,96%), após a decisão do BC.
A decisão do BC ocorre com as previsões apontando que a inflação brasileira seguirá baixa, controlada e dentro das bases da meta do Conselho Monetário Nacional (CMN) de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.
Não há nenhuma justificativa razoável para se manter uma taxa de juro reais num patamar próximo dos 7%, a não ser a ganância dos bancos em elevar ainda mais os seus ganhos, via o pagamento de juros da dívida pública. Só nos últimos 12 meses até abril, o mercado financeiro obteve cerca de R$ 776 bilhões – dinheiro que foi extraído de toda sociedade para os bancos e fundos locais e estrangeiros.
Porém, o colegiado de diretores do BC agora alardeia para os riscos fiscais, além da melhora do trabalho e do consumo das famílias para justificar a continuidade dos juros altos no Brasil. Um movimento que vem para levar o governo a realizar ajustes fiscais – cortes orçamentários que sempre recaem em cima do povo – conforme às pressões do corporativismo financeiro, que tem como base o novo “Arcabouço Fiscal”, além de metas rígidas de déficit primário, criadas pela equipe econômica do governo. Essas normas e metas fiscais restringem os investimentos pelo Estado, mas não limitam o gasto com os juros – que são os verdadeiros desequilibradores das contas públicas.
Na ata, o Copom afirma “que o cenário prospectivo [de expectativas para o futuro] de inflação se tornou mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma taxa de juros mais elevada”, ao defender que “a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal (sic)”.
Em outro trecho, o Copom afirma também que “a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juros”.
Apesar do clamor do empresariado, dos trabalhadores e do próprio presidente da República, Lula, por juros mais baixos, Gabriel Galípolo avalia que o Copom tomou a decisão certa: “Perseguir e atingir a meta” de inflação estipulada. “Meta de inflação não se discute, meta de inflação se cumpre”, declarou.
“O Banco Central não pode se furtar à sua missão que é perseguir a meta de inflação e para isso a ferramenta utilizada é o manejo da taxa de juros e ela vai ser manejada para estância que é necessária para o BC perseguir a meta”, também ressaltou Gabriel Galípolo.
Uma alteração da meta de inflação poderia forçar o BC a flexibilizar a política monetária – leia-se reduzir os juros – segundo a opinião de economistas, mas o Conselho Monetário Nacional (CMN), formado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o presidente do BC, Campos Neto, insistem em manter uma meta que foi estabelecida no governo de Jair Bolsonaro, apesar das críticas do presidente Lula de que “o Brasil não precisa ter uma meta de inflação tão rígida”.
ANTÔNIO ROSA